Clássicos • 19 Abr 2018

Clássicos • 03 Jul 2025
Renault reúne legado histórico num novo centro de exposições a abrir em 2027
A Renault vai concentrar a sua excepcional colecção de veículos históricos, obras de arte e documentos de arquivo num novo centro de exposições em Flins, nos arredores de Paris, com inauguração prevista para 2027. O público poderá assim explorar o património único da marca através de visitas guiadas e exposições temáticas, através de um projeto ambicioso que pretende celebrar os 125 anos de história da Renault, sublinhando o seu papel na inovação automóvel e na memória colectiva.
A marca francesa anunciou um projecto singular que visa tornar o seu património industrial e cultural acessível ao grande público. A partir de 2027, será possível redescobrir modelos icónicos, cada um com uma narrativa própria — não apenas de inovação técnica, mas também de transformação social. Os automóveis, ao moldarem cidades, estilos de vida e culturas, tornam-se testemunhas diretas da vida quotidiana.

Este novo espaço permitirá reviver memórias ligadas a modelos emblemáticos ou campanhas publicitárias marcantes e admirar obras do acervo artístico da Fundação Renault. A experiência será enriquecida com eventos, interações tecnológicas e percursos imersivos em realidade virtual, proporcionando uma viagem pela história da Renault e de França.
Flins, uma escolha simbólica
O novo centro ficará localizado em Flins, a 40 km de Paris. Inaugurado em 1952, este local histórico produziu mais de 18 milhões de veículos, incluindo modelos como o Dauphine, o Renault 4, o Renault 5, várias gerações do Clio e o eléctrico ZOE. Em 2021, o espaço foi transformado na Refactory, um polo dedicado à economia circular da mobilidade.
Uma ponte entre o passado e o futuro
Erguido diante da fábrica, entre Flins e Élisabethville, o edifício foi desenhado pelo arquitecto Jacob Celnikier, da CGA. A nova estrutura — inspirada na planta ortogonal da fábrica original de Bernard Zehrfuss — apresenta volumes verticais em forma de paralelepípedos sobrepostos, como “matrioskas”, com aberturas que revelam a colecção automóvel no seu interior.

O centro contará com 2.800 m² para eventos, zonas de trabalho e áreas de restauro. Um dos destaques será a “Parede da Colecção”, composta por centenas de viaturas em suportes metálicos, visíveis tanto de dentro como do exterior.
Uma colecção viva que testemunha a história
O legado da Renault vai além dos automóveis. O acervo inclui mais de 2.400 metros lineares de arquivos, com milhares de documentos, desenhos técnicos, miniaturas, brinquedos, cartazes, troféus e publicações. No novo centro, o público poderá conhecer esta riqueza documental, essencial para compreender a evolução da marca desde 1898.
Entre os tesouros da colecção estão automóveis seminais — desde o Tipo A, de 1898, a modelos pré-guerra, Fórmula 1, Alpines icónicos e concept cars visionários. Mais de metade das viaturas continua operacional, graças ao trabalho de seis técnicos especializados e o espaço incluirá também uma oficina de restauro, para manter esta herança viva e em circulação.

Modelos como o R4 ou o R16 fazem parte das memórias de muitos. Esta colecção continuará a crescer, embora alguns exemplares repetidos sejam vendidos em leilões — o próximo está marcado para 6 e 7 de Dezembro, organizado pela Artcurial.
Uma colecção artística única
Desde os anos 30, a Renault tem promovido a arte contemporânea e, em Junho de 2024, criou o Renault Fund for Art and Culture, com o objectivo de proteger o acervo existente e incentivar novas criações. A marca reforça assim o seu papel enquanto mecenas, com especial enfoque na arte urbana, que mantém uma ligação estreita ao universo automóvel.
Entre as obras em destaque estão:
- Fotografias de Robert Doisneau, colaborador da Renault nos anos 30;
- Criações de Arman (1967) com base num Renault 4;
- Obras de Erró inspiradas no Renault 5;
- Peças de Victor Vasarely, que redesenhou o logótipo da Renault em 1972;
- Trabalhos de Jean Dubuffet, pioneiro da arte bruta.
O fundo artístico inclui agora peças como Bourgeon e Accrescent de Dan Rawlings (criados a partir de um Renault 5 clássico e um Renault 5 E-Tech), e Heritage, de César Malfi, produzido na Refactory em 2024.
Em paralelo, o antigo pavilhão de pintura da fábrica de Flins foi transformado na Art Factory, uma residência de 3.200 m² dedicada à arte urbana. Os artistas podem criar num ambiente que reproduz o espírito da rua, reutilizando estruturas industriais no seu processo criativo.

A selecção de artistas será feita em colaboração com os curadores Jean Faucheur e Gaël Lefeuvre, prevendo-se várias residências por ano. Entre as obras inaugurais está Ready-made 1935–2025, 7 tonnes 5, de Gérard Zlotykamien, feita a partir de um autocarro Renault de 1937.
Algumas criações serão integradas nas exposições permanentes do novo centro, reforçando a ligação entre a inovação automóvel e a expressão artística contemporânea.
Imagens: Renault