AA, o primeiro Toyota

Arquivos 09 Abr 2025

AA, o primeiro Toyota

Por José Brito

O Toyoda AA representou o início de um dos maiores grupos automobilísticos do mundo (se não o maior), a Toyota. Como primeiro automóvel disponibilizado pelo fabricante nipónico, representou um verdadeiro marco nos veículos turismo da altura, sendo possivelmente uma das peças mais valiosas da história do país do sol nascente, ou não representasse a indústria automóvel um papel de relevo naquilo que é actualmente o Japão.

O desenho do Toyoda AA teve inspiração na América do Norte. Foi por terras de Washington que os designers atingiram os princípios básicos, buscando inspiração nos automóveis americanos da época por grande pressão do proprietário, Kiichiro Toyoda.

De Toyoda para Toyota

Toyoda viajava recorrentemente para os Estados Unidos da América, tendo ficado invariavelmente fascinado pelos automóveis e processos fabris implementados. A sua admiração era tal que, em 1936, cumpriu aquele que confessou ser um dos seus sonhos, a fundação de uma divisão empresarial com base no fabrico de automóveis, a Toyoda Automatic Loom Works. Já um ano antes Toyoda fazia antever o que seguiria, ao revelar o primeiro protótipo, o A1, razoavelmente parecido com o popular De Soto Airflow (sendo que Toyoda havia trazido um modelo dos EUA no ano anterior), mas com a premissa de um maior conforto para os passageiros traseiros e uma maior capacidade, com um motor de 6,0 cilindros a gasolina com arrefecimento a água e cerca de 3300 centímetros cúbicos, produzindo 62 cavalos de potência. Os três protótipos do A1 ficaram concluídos em Maio de 1935, tendo sido abençoados numa cerimónia budista, que ficou solenemente marcada pela condução do primeiro A1 a ser fabricado até ao local de descanso do pai de Kiichiro Toyoda, que lhe havia financiado o início da empresa.

Por 1937 ficava decidido que a divisão encarregue do fabrico de veículos automóveis necessitava de um novo nome, o que motivou um concurso para o determinar. Após a análise a, literalmente, milhares de propostas, ficou escolhida a designação de Toyota Motor Co., sendo uma das razões invocadas o facto de ser um nome japonês que invoca a sorte. Em 1942, depois de 1404 unidades produzidas em seis anos, a sua produção chegou ao fim, e sete décadas mais tarde, o único exemplar está no Museu Louwman.

Réplica do Toyoda AA exposta no Toyota Automobile Museum

Relíquia centenária

O convencimento de que não restavam exemplares deste modelo era tal, que o museu Toyota se viu forçado a construir uma réplica. Todavia, e para gáudio histórico automóvel, existe um exemplar sobrevivente do Toyoda AA.

Esta solitária unidade reside actualmente no museu holandês de Louwman, onde se encontra desde o ano de 2008 a cuidado de Ronald Kooyman, o seu director geral, a quem informaram da existência e possível venda do automóvel um ano antes.

As salas do Museu Louwman estão repletas de artefactos significativos de um século automobilístico, com carroçarias aerodinâmicas, jantes brilhantes, e aroma a couro envelhecido. De feito, há tantas maravilhas imaculadas que seria escusado passar por um veículo de grandes dimensões em estado de oxidação enfatizada. O problema é que isso significaria a perda do único modelo original da Toyota.

Registos demonstram que este automóvel esteve na Rússia antes da sua permanência por terras holandesas, mas acima disso perpetuam uma viagem inacreditavelmente plena de peripécias ao longo dos largos anos de vida do automóvel, tendo sido durante muitos dos quais confundido por um De Soto Airflow.

O proprietário prévio à compra de Kooyman era um agricultor que o utilizava para trabalhos de campo em terreno siberiano. Tal o uso, o estado nunca poderia ser o melhor, sendo o aproveitamento feito com base em se tratar de um dos automóveis mais raros e originais do mundo.

Após a compra deu-se início a uma travessia burocrática de sete meses, em que o Ministério da Cultura Russo, apercebendo-se da raridade e valor do artefacto, dificultou ao máximo a viagem do Toyoda AA para os Países Baixos. Após o desbloqueio, o AA foi transportado de comboio de Vladivostok até Moscovo, e de camião de Moscovo até à Holanda.

Evidenciando a patine

O exemplar encontra-se num estado de origem praticamente absoluta, tendo sido apenas substituídos o filtro do radiador, os faróis dianteiros e as borrachas das portas. Ainda assim, e ao vê-lo em fotografias, fica claro que o restauro não foi minimamente profundo, estando o AA num estado extremamente semelhante aquele em que foi comprado há mais de dez anos.

O habitáculo permite vislumbrar o passado agrícola, tudo o que é tecido está reduzido a farrapo, e qualquer painel de carroçaria evidencia sinais gravosos de oxidação. Os vidros traseiros estão partidos e a ignição está, literalmente, por um fio. Talvez o parâmetro mais surpreendente seja mesmo o facto de, aquando da compra, o motor ainda trabalhar.

A decisão de o deixar tal qual estava ficou a cargo de Kooyman, acérrimo defensor da preservação da patine, e mais que não seja pela beleza do retrato dos anos que o AA evidencia, a decisão não foi mal tomada.

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1 Comentário
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Antonio Amato
4 anos atrás

História muito interessante, ainda mais por saber que existe apenas 1 exemplar do primeiro veículo construído por uma das mais importantes indústrias automobilísticas mundiais!

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