Museu do Caramulo inaugura viagem até aos Loucos Anos 20

O Museu do Caramulo inaugurou no passado dia 30 de Janeiro uma nova exposição temporária, subordinada aos Loucos Anos 20.

Há 100 anos, a história do mundo ocidental atravessava os meados de uma década em verdadeiro rodopio. De um lado, o velho continente europeu, destroçado por um primeiro conflito que atingira a escala mundial e trouxera para a realidade o pesadelo de uma destruição em massa nunca antes vista até então; do outro lado do Oceano Atlântico, uns Estados Unidos da América praticamente intocáveis, recheados da energia pujante de um jovem país apesar de tudo amordaçado por uma lei seca que convidava à transgressão.

Por um lado, uma Europa que tentava levantar-se apoiada nas duas pernas de Paris, que agora destapavam já os tornozelos, fumavam, estreavam penteados mais curtos e cheiravam ao novo nº5 lançado por Chanel, aromatizando assim os novos ares de esperança. Paris torna-se realmente uma festa, como escreverá Hemingway. Na outra ponta do mundo ocidental, era o perfume a jasmim dos bares recônditos que trazia para a luz da noite os novos sons pulsantes de um estilo musical que não só ampliaria a voz de uma comunidade antes silenciada, como faria mil gentes dançar ao ritmo do charleston e do fox trot, a caminho de um swing cada vez mais consentido.

E era com sentido, de facto, que o mundo ocidental viajava numa década que ficaria para a história como os Roaring Twenties, Les Années Folles, ou Os Loucos Anos 20 como nós gostamos aqui de chamar.

Um século depois, já os efeitos do Manifesto Surrealista de André Breton se dissiparam, envoltos na arte de Picasso e Dalí e Man Ray, ao som das dissonâncias de Armstrong, Bechet, Oliver, Goodman, Henderson e Jelly Roll Morton, num ritmo cada vez mais acelerado pelo motor daquelas novas máquinas de duas e quatro rodas que povoam as ruas onde os rostos femininos se protegem sob os seus cloche, enquanto que os masculinos espreitam sob as suas afiadas boinas.

São assim loucos os anos 20 que agora são evocados no Museu do Caramulo até ao final do mês de Fevereiro, através desta breve mas intensa viagem pelas formas e cores que nos fazem mergulhar nesse tempo mágico e efervescente, um tempo digno dos melhores argumentos da Hollywood de Rodolfo Valentino e Gloria Swanson, transpostos aqui mesmo para o mundo real.