Competição • 05 Jan 2025

Este Range Rover carrega consigo uma história muito especial

Decorria o ano de 1966, quando a Rover iniciou o desenvolvimento de um novo modelo, nas horas vagas. Este projecto era algo completamente diferente e revolucionário. Em apenas dois anos, este projecto passou do papel para um modelo de produção, algo praticamente impossível na época. Esse modelo, e após passar por diversas denominações durantes as diferentes etapas de desenvolvimento, ficou conhecido por Range Rover, um modelo que fez nascer um novo segmento dentro da marca.

A ideia do Range Rover partiu de Spencer “Spen” King, quando conduziu um Rover P6 2000, em estradas em mau estado, junto da fábrica de Solihull. Com uma suspensão macia e molas com grande elasticidade, era sem dúvida mais confortável do que a suspensão de molas de lâmina dos Land Rover tradicionais. Com o nascimento de alguns automóveis americanos, como o International Harvester Scout, Jeep Wagoneer e Ford Bronco, Spen teve a ideia de juntar estes dois tipos de automóveis e equipá-lo com um motor mais potente do que os utilizados pelos Land Rover da época.

Nessa altura, a Rover já tinha concordado que a General Motors iria ter os direitos de produção do motor Buick V8 de 3,5 litros de cilindrada, sendo que esse era o motor ideal para o futuro Range Rover. O primeiro protótipo, bastante rudimentar, nasceu em 1967. O segundo protótipo foi construído pouco depois, mas já tinha elementos melhorados, como a tracção integral permanente, travões de disco nas quatro rodas e suspensão traseira Boge Hydromat com regulação em altura. Em Julho de 1969 nasceu o terceiro protótipo com um design muito mais refinado.

No total foram contruídos sete protótipos idênticos, para serem submetidos a vários testes, não só no Reino Unido, como também por toda a Europa e nos EUA. Posteriormente, foram produzidos 28 automóveis de pré-produção, com diferentes distâncias entre eixos e, inclusivamente, com seis rodas. Estes 28 protótipos são conhecidos como Velar.

O exemplar presente neste artigo pertence ao grupo dos 28 exemplares produzidos do Velar e conta com uma história bastante interessante. Mais conhecido pela sua matrícula, a YVB 166H, está agora sob propriedade de Richard Beddall, cofundador da Dunsfold Collection, que desde 1968 tenta preservar a história da marca britânica.

Este exemplar foi o 23º produzido para testes de engenharia e que, posteriormente, foi utilizado como automóvel de rally no International Hillrally, em Maio de 1971, por Roger Crathorne, um dos primeiros engenheiros a trabalhar no projecto Range Rover.

Como não se sabia se o Range Rover iria aguentar o rally, a Rover preferiu não se inscrever a nível oficial, mas sim através da Rover Owners’ Association. Para o rally, o Range Rover foi equipado com uma rollcage, limpa para-brisas extra, luzes de leitura, alavanca de bloqueio do diferencial mais elevada e uma buzina activada pelo passageiro. Ao contrário dos medos iniciais, o Range Rover acabaria por vencer o rali. No ano seguinte iria participar novamente, mas devido às fracas condições climatéricas, muitos foram os concorrentes que desistiram e o Range Rover teve que se contentar com a vitória na classe.

Roger acabou por adquiri-lo quando a Land Rover o decidiu vender, em 1972, utilizando-o em várias férias pela Europa. Para melhorar o conforto a bordo, instalou dois circuitos de fones, com oito pistas, para os seus filhos poderem ouvir música.

Acabaria por vendê-lo em 1979, tendo ficado desaparecido durante vários anos. Em 2012, Richard acabaria por o descobrir num contentor perdido na floresta. O motor tinha desaparecido, mas o chassis e carroçaria eram os originais do Velar, assim como a caixa manual de quatro velocidades com caixa de redutoras. O Range Rover seria submetido a um restauro para o trazer de volta para as estradas, tal como se mantém na actualidade.