Um “B” a “X” de como não desenvolver um Grupo B

Arquivos 16 Dez 2024

Um “B” a “X” de como não desenvolver um Grupo B

Por José Brito

Embora os últimos anos da geração anterior e a geração actual fujam a regra, a era moderna do WRC continua a ser de enorme sucesso para a Citroën. Desde que foi formada, em 1998, a Citroën World Rally Team conquistou oito títulos de construtores, nove títulos de pilotos, e 86 vitórias à geral.

Na era dos Grupo B? Nem perto. Possivelmente estarei a ser demasiado diplomático: o programa de Grupo B da firma francesa foi um puro e simples desastre.

Logo à partida, o projecto já demonstrava ao que vinha. Em vez de seguir os ensinamentos da concorrência e apostar num veículo de motor central, a Citroën, com o BX 4TC Evolution, colocou o motor numa posição frontal. O BX de fábrica possuía um motor transversal, pelo que a Citroën teve que efectuar uma conversão para o formato longitudinal, estando este posicionado demasiado à frente por meio a possibilitar um sistema de tracção às quatro rodas. Como se pode imaginar, com a distribuição de peso não se fazem maravilhas.

 

 

O motor que habitava dentro daquele longo capot era um simples Simca-Chrysler de 2,2 litros turbo com quatro cilindros em linha, potenciando oito válvulas. A potência total rondaria os 380 cavalos. Isto representava valores consideravelmente mais baixos do que os dos adversários, o que, e aditando que o BX 4TC estava longe de possuir os valores mínimos de peso permitidos para a categoria de Grupo B, tornava o veículo gaulês num fraco concorrente.

O propósito do Grupo B quase parecia ser o de permitir aos engenheiros deixar a sua imaginação correr livremente, resultando em máquinas absolutamente insanas que pouco, ou nada, tinham a ver com os seus parentes de estrada. Mas a Citroën simplesmente não aproveitou este potencial criativo, quiçá em virtude do reduzido orçamento que disponibilizou para o empreendimento. O resultado final? Um BX 4TC com excesso e péssima distribuição de peso, e que era extremamente complicado de conduzir (em parte devido à ausência de um diferencial central).

 

 

O BX de Grupo B fez a sua estreia no início da temporada de 1986, rapidamente provando as falhas de ritmo que se admitiam. Após um sexto lugar na Suécia (segundo rally da temporada e melhor resultado da história do BX 4TC às mãos de Jean-Claude Andruet) a Citroën inscreveu o veículo em mais três rondas, como forma de o desenvolver posteriormente. Assim, a equipa voltou para o Rally da Acrópole, onde o BX começou por demonstrar um ritmo impressionante, mas acabou por fracassar com problemas de suspensão nos dois veículos da equipa.

Parecia que a Citroën estava exausta de todo o processo, tendo suspendido com efeito imediato todo o programa, após o BX ter participado em apenas três ralies. O facto de o Grupo B ter sido banido em 1987 sem dúvida facilitou a confirmação da decisão.

Indubitavelmente não foi o melhor período da história competitiva da Citroën, todavia, ainda não abordamos o imbróglio da versão de homologação. Com as suas cavas e asa imponente, os seus 200 cavalos e alguns apetrechos de relevo, o BX de homologação era um veículo de segunda olhada.

 

 

Na altura, Heuliez ficou encarregue de produzir os 200 exemplares do BX, mas em 1988, a Citroën ainda não tinha conseguido vender 100 veículos. Nesta altura os gauleses entravam em modo de contenção de danos.

Quereriam mesmo ficar carregados com um pesadelo de pós-venda de um veículo de elevada performance como aquele? Um veículo que representava um fracasso tremendo para a marca a nível competitivo? A resposta era evidente e a Citroën desligou a ficha, tentando comprar de volta os 86 BX vendidos na altura, alegadamente pelo dobro do valor pago originalmente.

Os exemplares recomprados foram desmontados para componentes, ou simplesmente destruídos. Todavia, o modelo não “morreu”, havendo cerca de 40 sobreviventes (um deles até esteve presente numa edição do AutoClássico, na Exponor, com matrícula original portuguesa!).

Ironicamente, as acções da Citroën meramente fizeram com que os restantes veículos fossem mais procurados. Podem não ser Deltas S4 ou 205 GTi, mas certamente podemos dizer que a história do BX 4TC é fascinante.

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