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Para quem já viu fotografias de um jipe da Segunda Guerra Mundial, a estrela pintada no capô e rodeada de um círculo em tinta castanho-camel poderá ser associada a um pormenor estético identificativo. Todavia, é muito mais do que isso, uma história de relevos, pormenores e engenharia.
O propósito da tinta era o de avisar os soldados de ataques químicos, sendo esta denominada de tinta líquida detectora de vesicante M5 (“M5 liquid vesicant detector paint”) – a denominação de vesicante exigiu algum esclarecimento, sendo referente a um agente químico que provoca bolhas ou erupções por libertação gasosa.
Através de alguma procura por fontes, foi possível obter o testemunho de Farell Fox, um mecânico de tanques reformado e especialista em jipes da Segunda Guerra Mundial, assim como em tinta vesicante, que afirma que a tinta passou a fazer parte do equipamento standard de alguns regimentos europeus a partir de 1943.
A inspiração para tal concepção surgiu da famosa tinta britânica detectora azul, do início da década de 40. Por um documento governamental restrito, que Fox reporta ter encontrado nos Arquivos Nacionais Americanos, é descrita a forma de actuação da tinta, e como deveria ser aplicada à estrela de cinco vértices (símbolo nacional de todos os veículos motores utilizados em unidades tácticas): “Quando o símbolo nacional está localizado numa posição visível para o condutor, o espaço entre as pontas da estrela será pintado com uma tinta líquida detectora vesicante, M5, formando um círculo em torno da estrela”.
“Na presença de um ataque químico por vesicantes”, prossegue o documento, “a acção detectora da tinta actuará, dando alerta ao tornar-se descolorada de castanho para vermelho vivo”, prosseguindo dizendo que na forma de vapor, o agente detector não funcionará.
O documento oficial relata também que caso o símbolo nacional não esteja visível, a tinta deverá ser aplicada numa área visível para o condutor. Em qualquer dos casos, a tinta deve ser “renovada” semestralmente, ou quando obtiver aparência baça e desgastada. É também dado relevo ao facto de a tinta dever ser limpa com uma escova e de ter de permanecer afastada de combustível com chumbo, constata a fonte.
A utilização deste tipo de apetrechos bélicos não traz grande surpresa, uma vez que a Alemanha havia ficado conhecida pelo uso de armas químicas na Primeira Guerra Mundial. Em adição, é possível relatar que a tinta era efectivamente crucial para detecção de agentes químicos como o gás mostarda, que pelo seu odor caracteristicamente intenso tendem a não efectivar a capacidade de distinção de distintos cheiros ao fim de apenas algumas lufadas de ar, aditando ao facto de que a mais pequena exposição a este tipo de agentes poder provocar danos respiratórios.
Assim, tornava-se obviamente crítico para os soldados o reconhecimento deste tipo de agentes, o que justifica o facto de, posteriormente, serem também pintados componentes de equipamentos militar, tais como os capacetes, mas também em braçadeiras específicas. Contudo, e apesar do engenho, é pouco provável que esta estratégia tenha ajudado a salvar vidas, uma vez que na Segunda Guerra Mundial a Alemanha utilizava armas químicas primordialmente em campos de concentração, e não em combate. Porém, e tendo em conta “lessons learned”, faz todo o sentido a aplicação de um agente detector deste tipo de ameaça.
Um pouco de história e de guerra, ou não fossem estas, infelizmente, as ferramentas do progresso.
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História interessante é que desconhecia.