Arquivos • 22 Mai 2019
O Leyat Hélica foi construído pelo engenheiro francês Marcel Leyat, numa época em que a aviação estava a dar os seus primeiros grandes passos, tendo por isso a ideia de montar uma hélice num automóvel. Ele próprio já tinha desenhado, construído e voado com o seu próprio avião. Infelizmente esta ideia original não conseguiu o êxito imaginado pelo seu inventor.
Antes do Hélica, já Marcel Leyat tinha feito um protótipo idêntico, o Helicocycle, em 1913, pouco tempo antes da Primeira Guerra Mundial e, aperfeiçoado em 1941. Este modelo era praticamente todo construído em madeira e estava equipado com um motor radial na frente e duas hélices. Como este veículo só tinha três rodas, as duas da frente ficavam muito instáveis, provocando vários acidentes, e por isso, este protótipo foi desmantelado e serviu de base para criar o Hélica, já de quatro rodas.
O Hélica era um automóvel híbrido, pois tinha a hélice de um avião, um motor de mota e rodas de automóvel. O motor era de dois dois cilindros opostos da ABC, com 400cc, que debitava 8cv às rodas traseiras, mas outros motores foram utilizados como os Scorpion ou MAG. Houve ainda Hélicas equipados com motor Harley-Davidson de 1000cc e 18cv. Tinha também dois carburadores, um para cada cilindro, válvulas na cabeça e ignição por magneto. O peso total era de 650kg, devido ao uso de madeira e alumínio, e atingia os 70 km/h de velocidade máxima.
A hélice na frente estava rodeada por uma rede protectora que deixava passar o ar, mas impedia que as pessoas a tocassem. A hélice media 1,39 metros de diâmetro e podia ter quatro ou seis pás. Logo atrás estava o motor de mota, um dos primeiros motores de cilindros opostos. Este motor atingia um máximo de 1800rpm, e era posto em funcionamento através de uma manivela que desenrolava um cabo, conseguindo que o propulsor fizesse as rotações iniciais. Este automóvel não tinha caixa de velocidades, nem diferencial, nem embraiagem. Os travões de tambor estavam colocados nas rodas da frente, sendo ambos independentes, isto é, o pé direito accionava o travão da roda direita e o pé esquerdo o da esquerda.
O Hélica era construído numa pequena oficina no nº 27 da Rua Grenelle, em Paris, e a carroçaria, que tinha a forma da fuselagem dos aviões da época, era composta por duas barras de madeira sobre as quais se embutiam umas pranchas de contraplacado, bastante aerodinâmicas e de baixo peso. O automóvel tinha apenas dois lugares e atrás havia uma pequena caixa para carga. Os primeiros modelos tinham também dois lugares, mas um à frente do outro, tal como nos aviões. Uma das particularidades do Hélica, era que as rodas de frente eram fixas, de modo que a direcção era comandada através de um cabo metálico que movia as rodas de trás.
Durante o tempo que esteve à venda, Leyat comercializou cerca de 25 a 30 modelos Hélica, apesar de ter recebido 600 encomendas no Salão de Paris de 1921. Hoje sabe-se apenas da existência de dois modelos em funcionamento originais, existindo também algumas réplicas. Apesar da pouca produção, o Hélica era composto por vários submodelos, como o Sport, que não tinha vidros nem janelas, para ser mais leve, e o Saloon, que é como se fosse a versão familiar. Em 1926 o Hélica sofreu algumas alterações, nomeadamente um estabilizador mais horizontal, suspensão traseira vertical e um novo escape.
Em 1924 foi criado um Hélica para andar nos carris, equipado com quatro rodas convencionais, mais duas pequenas de ferro em cada roda. Este modelo era mais estreito de modo a ter as dimensões para poder circular nas linhas férreas, principalmente projectado para a linha de Decauville, com 60cm de largura. O teste foi feito em linha de Pithiviers/Toury em 1925. Posteriormente foi vendido a uma empresa mineira francesa, no Congo e o seu director usou-o para se deslocar na mina.
Em 1927 foi construído um Hélica para bater o recorde de velocidade, na pista de Montlhéry e, com o seu motor de 8cv conseguiu atingir os 170 km/h e consumir seis litros aos 100 km.