A compra de um clássico

Arquivos 07 Set 2024

A compra de um clássico

Por Irineu Guarnier

Um dos momentos mais complicados para quem coleciona carros antigos é o da aquisição. Encontrar um clássico – em bom estado ou para restaurar – é cada vez mais difícil. Mas, depois que o veículo foi localizado é que geralmente começa a parte mais complicada deste hobby: a negociação para levá-lo para casa.
 
Aquele mito da “mosca branca” abandonada na garagem de uma viúva ansiosa para se desfazer dela por qualquer quantia é apenas um mito. Com a internet, todo mundo hoje em dia sabe que um veículo antigo é uma mercadoria rara e, portanto, valiosa. Ou seja, não existem mais bobos na praça – se é que algum dia houve algum.
 
Prepare-se, portanto, para uma longa e complicada negociação. Principalmente porque, por uma distorção do mercado, todo mundo atualmente acha que o veículo que tem na garagem é um tesouro. Não importa se se trata de um Thunderbird 1955 ou de um Fusca (Carocha) 1975, nem do estado da “raridade”. É comum o vendedor pedir por um carro caindo aos pedaços o mesmo valor de um similar em perfeitas condições.
 
Esse é o primeiro obstáculo a ser vencido. Explicar ao ganancioso proprietário, com muita paciência e educação, que carro velho não é a mesma coisa que carro antigo – e quem nem todo carro antigo é um clássico. Um Karmann Ghia, por exemplo, sempre valerá mais do que um Fusca do mesmo ano em igual estado. Mesmo que “apenas” a corroceria diferencie os dois modelos da Volkswagen.
 
Outro ponto importante é justamente o estado em que se encontra o veículo. Um carro original, com documentação em dia, funcionando bem, sempre vale mais do que outro modificado, sem documentos ou parado. Impecável, sem restauração, tem mais valor do que um restaurado. Modelos raros, edições especiais, conversíveis, veículos de primeiras e últimas séries, ou que tenham pertencido a alguma celebridade, também valerão mais do que antigos sem história.
 
Carros em mau estado, que dependem de restauração pesada, não podem valer o mesmo que similares bem conservados. Peças e mão de obra custam caro. Parece óbvio, não? Mas vá explicar isso a um proprietário que se apega à sua “joia” muitas vezes por razões sentimentais…
 
Uma boa alternativa é demonstrar ao dono quanto vale um carro igual ao dele em perfeito estado e quanto vai-se gastar para deixá-lo assim. A conta é simples e o argumento geralmente funciona. Se não funcionar, e mesmo assim o proprietário insistir que a sua sucata vale tanto quanto um veículo de concurso, o melhor é deixar um cartão para futuro contato e desistir (ainda que temporariamente) do negócio.
 
Porque o mercado determina a citação e, mais cedo ou mais tarde, o sujeito vai cair na real e ligar. Mas principalmente porque um verdadeiro antigomobilista jamais desiste do clássico que gostaria de ter na sua garagem.
 

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Fotografias: Eduardo Scaravaglione

 

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