Clássicos • 05 Jun 2023
Fiat Abarth Zagato 750 GT Corsa: O eleito para as 1000 Miglia
Após os tempos conturbados que vivera com a Cisitalia, Carlo Abarth havia finalmente sido capaz de constituir a sua própria empresa dedicada à industria automóvel, a Abarth & C.Srl, não tendo perdido tempo na altura de colocar mãos à obra para a ver crescer.
O primeiro automóvel sob o emblema do escorpião seria o Abarth-Cisitalia 204 A Spyder Sport, uma evolução do Cisitalia 204 que Abarth manteve após a bancarrota da Cisitalia.
A equipa contava com alguns dos melhores pilotos do momento como Tazio Nuvolari e Felice Bonetto, além de grande parte dos engenheiros e restante equipa da Cisitalia. Com ela começou o sucesso da marca de Carlo, com vitórias diversas na categoria de 1100 centímetros cúbicos e especial destaque para a Mille Miglia de 1950. No seu primeiro ano em competição conseguiram também a vitória no campeonato italiano de 1100 centímetros cúbicos e o título de Fórmula 2 Sport, com um total de 18 vitórias ao longo da época.
Com Nuvolari a seu lado, a squadra Carlo Abarth conseguiria a vitória na subida Palermo-Montepellegrino com um Cisitalia-Abarth 204, naquela que seria a última vitória do notável piloto italiano, a 10 de Abril de 1950. A sua saúde já não lhe permitia continuar no activo, e faleceria três anos mais tarde.
Abarth estabeleceu a sede da sua empresa em Bolonha e começou a comercializar acessórios sob o nome da mesma. Um dos seus produtos mais vendidos eram os sistemas de escape/silenciadores derivados dos criados por Giovanni Savonuzzi, os quais Abarth herdou após o fecho da Cisitalia. A partir destes e empregando a sua experiência na mecânica de motocicletas, acabaria por os converter ao uso de veículos para comercialização em massa, mercado do qual se tornaria uma referência em pouco tempo.
O tuning para competição e a venda de acessórios tornaram-se numa parte importante do negócio, particularmente pela necessidade de suportar os gastos da scuderia. A marca do escorpião crescia inevitavelmente associada às prestações e, como não, à competição.
Mas viver das pistas requere uma evolução constante, traduzindo-se num constante fluxo de progresso. Carlo cria que a melhor forma de aliar a competição ao desenvolvimento seria o fabrico de automóveis com um outro propósito, o de venda ao público. Longe de ser uma evolução de um automóvel Cisitalia, este novo veículo partiria de um chassis construído especificamente pela Abarth, optando-se por prosseguir com a decisão de Piero Dusio de utilizar mecânica Fiat. Era então implementada uma caixa de quatro velocidades e um motor de quatro cilindros com 1083 centímetros cúbicos. O pequeno motor desenvolvia 83 cavalos de potência após alterações efectuadas às mãos de Abarth.
O final do projecto Porsche 360 não vaticinou o final da relação de Abarth com a família Porsche, muito pelo contrário. Carlo retornaria a tal colaboração, mas em propósitos diferentes, sendo que desta vez o primeiro automóvel puramente Abarth da história possuiria um sistema de suspensão por barras de torção desenvolvido pela Porsche.
A carroçaria foi trabalho de Vignale, lendário fabricante italiano, contando também com a participação de Michelotti. A sua estreia teve lugar na Coppa InterEuropa em Monza, onde o pequeno 1100 centímetros cúbicos alcança a vitória na classe por meio de Guido Scagliarini. Após esta soberba prestação, foi feita uma revelação oficial ao publico no Salão Automóvel de Turim de 1950, onde se anuncia oficialmente o Abarth 204A Berlinetta. As duas primeiras unidades construídas competiram em provas italianas nesse mesmo ano.
Já em 1951, Abarth volta ao Salão Automóvel de Turim para apresentar uma versão mais luxuosa, com denominação 205A. O preço era equivalente ao dos Ferrari de 2 litros da altura, sendo essa terceira e a última unidade do modelo a ser fabricada.
Terminou-se então a produção do primeiro modelo oficialmente designado de Abarth, tendo o chassis servido como inspiração para modelos futuros. Carlo Abarth estava destinado a gravar o seu nome na história como fabricante de automóveis de altas prestações e nada o iria impedir de alcançar tal título. As limitações de fabricação em nada diminuíram a qualidade e beleza destes primeiros modelos fabricados que, precisamente pela sua exclusividade, são hoje autênticas jóias automóveis.
A venda de componentes de alto rendimento parecia uma forma de financiamento com mais garantias, e até aquele momento, Abarth centrava-se meramente em diversificar o mais possível a gama de oferta de silenciadores e sistemas de escape, que continuavam a ser os produtos mais procurados (em 1971 a venda de silenciadores Abarth chega aos 3,5 milhões de unidades).
A experiência de Carlo com a mecânica Fiat, com a qual lidava desde os tempos da Cisitalia, proporcionou o primeiro contacto directo do gigante italiano com a Abarth. Este primeiro projecto seria a conversão da caixa de velocidades do Topolino, e partindo deste mesmo, começou uma prolifera relação de negócios que acabaria, como em muitos casos, com a incorporação da Abarth no grupo Fiat.
Sem desvendar um final antecipado, em 1951, e após estes primeiros contactos com a Fiat, Carlo, perfeitamente consciente da oportunidade de negócio que se presenteia e após as vendas escassas do 205, altera a sede da empresa para Trecate en Torino, às portas das instalações Fabbrica Italiana Automobili Torino.
Em 1952 surgiu mais uma possibilidade de colaboração com a marca de Turim. Desta vez tratava-se de um desenho conceptual para apresentação no Salão Automóvel de Turim como Fiat Abarth 1500 Biposto. Este seria o primeiro projecto de Franco Scaglione para Bertone, sendo que nos anos que se seguiram levaria a cabo muitos outros, largamente baseados nos princípios aerodinâmicos daquela primeira criação, mas desta vez para a rival Alfa Romeo. Estes projectos ficaram tipicamente associados à sigla B.A.T., ou Berlina Aerodinamica Technica 5, 7 e 9, sendo por isso comum a designação de B.A.T. 1 para este modelo.
Já por esta altura o nome Abarth cobrava fama de fabricante e preparador para competição de renome, tanto dentro, como fora dos circuitos, chamando a atenção de fabricantes como a Maserati, a Alfa Romeo ou a Ferrari. Alguns dos trabalhos mais conhecidos de Abarth fora do grupo Fiat foram mesmo a incorporação de sistemas de escape concretizados por este para os modelos GT e do campeonato mundial de Fórmula 1 da Ferrari.
Em 1953, precisamente derivados da crescente fama do preparador, chegavam vários projectos à fábrica de Trecate. Um destes assentava sobre a base do Ferrari 166 MM.
Nesse ano, a scuderia Guastalla forneceu um Ferrari 166 MM ao seu piloto Giulio Musitelli. Musitelli, não satisfeito com a performance do 166 MM por o considerar demasiado pesado, contratou Abarth para que o reimaginasse. Carlo Abarth não só reduziu o peso do 166 MM em 275 quilogramas, como desenhou um sistema de painéis facilmente desmontáveis e substituíveis, o que facilitava em muito os trabalhos no automóvel.
Musitelli estreou o Ferrari 166 MM Abarth na Targa Florio desse mesmo ano, tendo conseguido a vitória na sua classe. Os resultados falavam por si e não havia nenhuma disciplina na qual Carlo Abarth não desse mostras do seu talento.
Outro projecto chegou a Abarth pelas mãos do piloto suíço Robert Fehlmann, que pretendia a melhor performance possível para o seu Alfa Romeo 1900cc na Mille Miglia de 1953. Conrero desenhou e fabricou o chassis, Abarth acoplou quatro carburadores Dell’Orto para extrair 130 cavalos de potência, e Ghia desenhou uma carroçaria que inspiraria inúmeros modelos nos anos que se seguiriam.
Ao mesmo tempo que ampliava a sua lista de clientes e colaboradores, Abarth também melhorava as relações comerciais com os seus vizinhos. A Fiat lançaria nesse mesmo ano o Nuova 110/130, e como parte da sua promoção, Abarth construía a sua própria versão conceptual partindo, como não, da mecânica Fiat de 1083 centímetros cúbicos com a qual estava tão familiarizado, resgatando o chassis do Abarth 205 de 1951. Em 1954 chegava a vez da versão 1220 centímetros cúbicos do fabricante irmão da Fiat, a SIMCA, que veria a obtenção de um protótipo similar ao da Fiat.
Todos estes trabalhos proporcionaram a tão desejada publicidade pela qual Abarth ansiava, apesar de esta não ocorrer com desenhos puramente seus como inicialmente ambicionava. Tal estava prestes a mudar, e com a estabilização económica da empresa, dedicaria o seu talento à construção de protótipos destinados a bater recordes de velocidade.
Abarth tornava-se sinonimo de garantia de prestações, de tal forma que outros fabricantes requereram os seus serviços, acabando por concretizar nesse mesmo ano mais duas colaborações, mas com menor relevo.
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