Arquivos • 21 Out 2023

Nascido em 1901, D. António Guedes de Herédia foi um grande “sportsman” português que se ilustrou na vela e no mundo automóvel. Na primeira das modalidades marcou presença nos Jogos olímpicos de 1928 (Amsterdão), 1936 (Berlim) e 1948 (Londres) então já com 47 anos de idade. No desporto automóvel destacou-se por diversas participações em rampas, circuitos e provas de estrada, numa carreira que se prolongaria até 1960. Mas talvez a mais notável das suas exibições tenha sido no circuito de Vila Real de 1934.
Depois de uma primeira experiência sem sucesso na edição de 1933, ao volante de um MG J2, Herédia negociou com Henrique Lehrfeld a cedência do Bugatti 35B do piloto lisboeta de modo a poder alinhar no circuito transmontano com um carro da categoria “Corrida”, a mais competitiva das três classes admitidas à partida. Equipado com um poderoso motor de oito cilindros em linha, com 2262cc de capacidade e um compressor Roots, o Bugatti 35 B desenvolvia 135cv e representava um enorme salto em relação ao pequeno MG J2 com um motor de quatro cilindros em linha com 847cc de capacidade e uns relativamente escassos 36cv de potência.
Refira-se que o Bugatti de Lehrfeld tinha sofrido um acidente numa tentativa de recorde no I circuito do Parque Eduardo VII, tendo sido reconstruído pouco tempo antes do circuito de Vila Real. O que não impediu que António Guedes de Herédia dominasse a corrida do princípio ao fim, impondo um andamento completamente fora do alcance dos seus adversários. No final das 25 voltas previstas, o segundo classificado – o britânico Gilles Holroyd – tinha perdido três voltas para o vencedor. Após a corrida, Herédia guardou a Taça do ACP correspondente ao triunfo, mas terá entregue os 7000 euros do prémio a Lehrfeld, como pagamento do aluguer do Bugatti 35B. Uma quantia avultada para a época.
Para colorir esta foto de D. António Herédia a caminho do triunfo em Vila Real optei por “pintar” o Bugatti num azul mais escuro que o habitual, pois após a observação das fotos disponíveis fui tentado a concluir que a pintura que o carro terá recebido na reconstrução após o acidente de Lisboa terá fugido ao padrão do habitual azul França. Seja como for, a cor apresentada em Vila Real não se manteve muito tempo. No ano seguinte, para correr com Lehrfeld no circuito brasileiro da Gávea, o Bugatti já apresentava uma nova decoração, agora com o chassis em vermelho e a carroçaria branca. Mais tarde, este 35B iria recuperar a cor original “azul França” e hoje é uma das peças mais belas e valiosas peças da colecção do Museu do Caramulo.
