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Porsche 356 Zagato Coupé, o modelo que esteve 60 anos em construção
É fascinante como alguns gémeos nascem e crescem para ser espelhos um do outro, enquanto outros começam a divergir desde o primeiro dia. Este conceito de dar e receber entre natureza e criação estende-se para o mundo automóvel. Neste caso falamos do Porsche 356 com uma carroçaria Zagato. Esta versão Coupé tem um gémeo Speedster e apesar de ambos terem sido baseados no 356, existe uma diferença de cerca de 60 anos entre eles.
Esta diferença existe, pois o modelo Speedster foi construído em 1957, enquanto que o Coupé faz parte de uma “réplica” que Zagato denominou de Sanction Lost. O original Speedster Z foi uma construção única desenvolvida para o rally francês e para o piloto Claude Storez, que já há conduzia os modelos de competição do Porsche 356. Depois de alguns sucessos com o seu Speedster, Storez sofreu uma morte trágica num acidente em Reims.
O 356 Carrera Speedster Z foi recriado pela famosa casa de design italiana em parte para honrar a memória de Storez e apesar de ter a distintiva marca de Zagato independentemente de para onde olhamos, este não teria qualquer problema em encaixar junto de modelos como o 550 RS Spyder e o 718 RSK. Este modelo, no entanto, parece ter herdado características italianas. Este modelo nunca foi construído no mesmo período do Speedster de Storez, passou a sua vida apenas como um esboço até tempos recentes, mas isso só o torna um conceito mais interessante de criar.

Este hardtop tem a sua quota de ADN Porsche, a maior prova disso por ser vista debaixo do capot, mas quando olhamos para ele seria mais provável fazer uma comparação com um Alfa Romeo SZ ou um Fiat-Abarth Zagato do que com um 356. Com uma presença tão delicada e ágil é surpreendente ver o símbolo Porsche em vez de um escorpião. E no entanto, este automóvel foi o resultado de um pedido pela própria Porsche, ficando bastante impressionada com as capacidades do Speedster Z, a empresa pediu a Zagato para criar um design e construir um carro de corrida fechado, com um peso inferior a 700 kg. A equipa liderada por Ercole Spada não conseguiu realizar o projeto, mas felizmente conseguiu entrar no programa Sanction Lost que Zagato iniciou em 2015.
Seguindo a tradição de Zagato, este automóvel foi construído para corridas sem detalhes supérfluos, sem uma decoração elaborada e sem um interior luxuoso, mas mesmo assim é impossível encontrar alguma parte do automóvel que não seja bonita.

Mecanicamente, este automóvel é um Porsche 356 BT5 “Monogrille” de 1959. Para além das grelhas na tampa traseira, um painel pode ser aberto para assistir com mais arrefecimento, uma característica que serve de resposta ao problema de sobre-aquecimento, que era uma queixa comum tanto da parte dos condutores como da parte dos engenheiros, naquela época.
A cor usada é Grigio Medio (literalmente “cinzento médio”), complementado por um interior em couro Rosso Cartier. Completado em 2017, o automóvel esteve algum tempo em exposição na Zagato’s Galleria em Milão e só recentemente saiu para o resto do mundo.
Apesar de não ter entrado na Concours Compétition, este automóvel é um dos mais populares do momento. O seu design não chama demasiado à atenção, mas representa uma bela combinação entre a Alemanha e a Itália, entre uma construtora lendária e uma casa de design. É o tipo de automóvel que está acima de marcas ou lealdades nacionais, um belo ponto de encontro entre diferentes linhas de pensamento e cultura. É extremamente raro, mas como todos os grandes automóveis, tem a habilidade de juntar a comunidade.
Imagens: Petrolicious