Competição • 29 Out 2016

Juan Lover era já um piloto experiente quando na sequência do bom desempenho nas 24 Horas de Le Mans ao volante do Delage que partilhou com Henri Louveau, decidiu regressar à prova francesa com uma versão especial dos novos Pegaso, carros de Grande Turismo desenhados pelo engenheiro Wifredo Ricart que tinha feito fama e carreira na Alfa Romeo e que estava na génese da nova marca espanhola de desportivos e camiões Pegaso pertencente à ENASA (Empresa Nacional de Autocamiones, S. A.).
Sem constrangimentos financeiros, Juan Lover queria uma versão especial do já de si sofisticado Pegaso Z-102 e tendo em conta a sua fortuna e palmarés a Pegaso levou em consideração o seu pedido para uma participação nas 24 Horas de Le Mans em 1952 onde Lover deveria fazer dupla com Joaquín Palacio num novo ENASA (Pegaso) Berlinetta denominado “Cupula”, desenhado por Agustín Masgrau e com uma aerodinâmica projetada para Le Mans.
No entanto, cerca de dois meses antes da corrida, uma parte da equipa viajou até Le Mans para ensaiar o traçado com um Pegaso Z-102 “berlinetta” de série. Mas os testes nocturnos em estrada aberta não poderiam ter sido mais desanimadores pois não só as válvulas do motor “foram à vida” em poucas horas como os travões não estavam à altura das circunstâncias exigidas pelo traçado. Na verdade, o próprio Eng Wifredo Ricart cancelou as três inscrições requeridas para a equipe ENASA. Uma decisão difícil, mas correcta.
No ano seguinte, a ENASA confirmou a inscrição em le Mans, de dois novos “Spyder” com carroçaria Touring e motores de 2.472 cc sobrealimentados que deveriam ser pilotados por Joaquín Palacio com Julio Rech e Juan Jover com o Príncipe Paul Alfons Von Metternich-Winneburg.
Quando apareceram no dia de treinos os novos Pegaso chamaram a atenção de todos os presentes. Elegantes, rápidos, estáveis, tinham quase tudo para brilhar. Isto porque os travões continuavam a funcionar muito mal, como já tinha acontecido nos testes do ano anterior.
Mas o maior problema iria surgir quando Juan Lover ao volante do Pegaso #28 que vemos nesta foto a preto e branco por mim colorida, perdeu o controlo do carro quando rodava a cerca de 200 quilómetros tocando no lado direito da pista logo após passar pela curva ao final da recta da meta, colidindo com as barreiras frontalmente.
Sendo cuspido do carro, Juan Lover ficou gravemente ferido sofrendo múltiplos traumas na cabeça e, principalmente, nas pernas.
Com tudo isto, Wifredo Ricart retirou as inscrições da equipa, referindo a falta de experiência dos pilotos cuja mistura de ensaiadores da fábrica e “gentlemen drivers” não estaria ao nível das outras equipas oficiais. Para não falar da manifesta incapacidade de reduzir a velocidade dos Z-102 Spider por via do sistema de frenagem subdimensionado para as solicitações de Le Mans.
A carreira desportiva do Pegaso Z-102 continuou depois deste episódio , chegando a participar na Carrera Panamericana . No entanto, ficou claro que não tinham meios para enfrentar as grandes equipas oficiais nas 24 Horas de Le Mans. E por isso os belos Pegaso não mais regressariam à prova francesa.
