Clássicos • 31 Dez 2018
Os 8 melhores momentos internacionais que marcaram 2018 no universo dos clássicos
Há precisamente 75 anos, em Março de 1949, foi entregue o primeiro Unimog a um cliente perto de Estugarda. O veículo saiu das portas da fábrica da empresa de engenharia mecânica Gebrüder Boehringer em Göppingen, no sudoeste da Alemanha, tendo sido entregue a 19 de Março pelo distribuidor geral do Unimog, Kloz, em Fellbach, apenas alguns meses após o início da produção. Este seria, assim, o início da história de sucesso internacional de 75 anos do Universal Motor Gerät, como é conhecido em alemão (‘Dispositivo de Motor Universal’, em tradução livre): o Unimog.
O primeiro Unimog de produção da série de modelos 70200 com o número de identificação do veículo 003, ostentando o logótipo estilizado do boi Boehringer no capot, foi para um cliente em Hößlinswart, dado que os dois Unimogs com os números de identificação 001 e 002 foram construídos como veículos de teste apenas para fins internos e não seriam vendidos. Pela primeira vez, o veículo combinava as vantagens de tractores, transportadores de ferramentas e camiões, diferindo significativamente de todos os tractores convencionais disponíveis no mercado na época, não apenas visualmente, mas também no que toca à sua versatilidade.
Em muito pouco tempo, a procura pelo versátil Unimog numa Alemanha em grande parte devastada pela guerra foi tão grande que a capacidade de produção da Boehringer atingiu rapidamente os seus limites. O percurso do Unimog continuaria, a partir do Outono de 1950, sob a direcção da então Daimler-Benz AG, com a produção do veículo de tracção nas quatro rodas a começar em Junho de 1951 na fábrica de Gaggenau sendo, em Agosto de 2002, transferida para a fábrica de Wörth. Na actualidade, o veículo não é amplamente conhecido, tendo sido ao longo do tempo empregue nas mais variadas áreas, incluindo municípios, bombeiros, socorro em catástrofes, agricultura e serviço militar.
A história de uma lenda e as suas origens
Imediatamente após o final da Segunda Guerra Mundial, Albert Friedrich, director técnico da fábrica de produtos de metais Erhard & Söhne em Schwäbisch Gmünd, e anteriormente chefe do projecto de motores para aviões na Daimler-Benz, começou a desenvolver um compacto cavalo de trabalho com tracção nas quatro rodas de igual tamanho, e uma potência de 25 cavalos. Destinado principalmente para o uso agrícola, e com uma velocidade de até 50 km/h, o desenho inicial precisou de atender aos rigorosos critérios do Plano Morgenthau na zona de ocupação americana, cujo objectivo era transformar a Alemanha num estado puramente agrícola.
No Outono de 1945, foram produzidos os primeiros desenhos de Friedrich para um versátil veículo agrícola com uma largura de vias de 1270 milímetros, uma dimensão que correspondia exactamente a duas fileiras de batatas. Outras características incluíam o teto e o pára-brisas dobráveis, um dispositivo de accionamento para ferramentas agrícolas na frente, um dispositivo de reboque na traseira e um estrado auxiliar na plataforma atrás do banco do motorista. Para implementar este conceito, Friedrich reuniu uma equipe dedicada ao seu redor, incluindo o seu antigo funcionário Heinrich Rößler, que anteriormente também havia trabalhado no desenvolvimento de automóveis de passageiros e motores na Daimler-Benz. Esta escolha revelou-se plenamente acertada: de facto, desde o final da guerra, Rößler trabalhava na agricultura, aproveitando a riqueza de experiências dessa área e tornando-se assim no principal designer do primeiro protótipo.
O salário padrão dos engenheiros empregados na época era de 400 Reichsmark (n.r., marcos alemães), com o fabricante de artigos de couro Franz Catta a oferecer um importante apoio financeiro para o trabalho de desenvolvimento. Em Geschichten rund um den Unimog, publicado por Michael Wessel, presidente de longa data do Unimog Club Gaggenau, Hans Zabel da equipe de desenvolvimento recordou as circunstâncias em torno do nascimento do Unimog: “No entanto, para podermos começar de forma célere, tomamos uma acção imediata e levantamos 25.000 Reichsmark dos nossos próprios fundos. Todos nós estávamos separados de casa durante a semana e vivíamos em modestos alojamentos privados. Por esse motivo, também não havia horário de trabalho fixo. Trabalhávamos pelo menos 12 horas por dia, às vezes até 18 horas – e tudo isso sem nenhum pagamento adicional.”
Já no final do Outono de 1945, foi concedida a aprovação pelas forças de ocupação americanas, na forma da rara e almejada “Ordem de Produção”, para o “equipamento motorizado universal para uso na agricultura” de Friedrich. Depois de Heinrich Rößler rever extensivamente o novo conceito, tal ordem seria renovada seis meses depois, antes que a produção em série pudesse começar. Friedrich abraçou entretanto a Erhard & Söhne como parceira para a produção de protótipos, enquanto a Daimler-Benz fornecia o motor OM 636. O primeiro protótipo seria já concluído em Schwäbisch Gmünd em 1946, e o primeiro teste com o U 1 ocorreu em 9 de Outubro do mesmo ano. Começava assim uma intensiva fase de testes.
Antes mesmo da primeira apresentação pública, Hans Zabel abreviou a descrição volumosa “Universal-Motor-Gerät” para o acrónimo “Unimog”. Sob esse nome popular, o veículo foi apresentado ao público pela primeira vez a 29 de Agosto de 1948 na exposição da Sociedade Alemã de Agricultura (DLG) em Frankfurt, onde recebeu 150 pré-encomendas.
1949: Início da produção industrial na Gebrüder Boehringer em Göppingen
A produção em série do Unimog começou em 1949 na Gebrüder Boehringer na cidade de “Staufertown” Göppingen, nos arredores dos Alpes Suábios, após a produção ser assumida por Rolf Boehringer, da Erhard & Söhne. Na ausência de uma linha de produção, com grande parte do trabalho a ser desenvolvido manualmente, os cerca de 90 funcionários construíam até 50 veículos por mês. Seriam fabricadas um total de 600 unidades do Unimog da série de modelos U 70200 pela Boehringer – incluindo 44 para o Exército Suíço – o que confirmou a adequação do Unimog, que antes era usado exclusivamente para fins agrícolas, para outras áreas onde havia interesse crescente neste extraordinário conceito. Dois desses Unimogs originais da produção da Boehringer estão em exibição no Museu Unimog em Gaggenau: o protótipo U 6, o segundo mais antigo Unimog ainda existente hoje, e um Unimog da primeira série, tipo de modelo 70200.
1950: A Daimler-Benz AG assume a produção do Unimog
Como as quantidades solicitadas exigiam altos investimentos, a Daimler-Benz AG adquiriria o negócio do Unimog no Outono de 1950, incluindo todas as patentes e instalações de produção – e também a equipa de desenvolvimento e de vendas recém-criada. Num documento de duas páginas, a aquisição foi documentada contratualmente em cinco pontos, com um acordado preço de compra de 600.000 marcos alemães. Olhando para trás, tal foi uma absoluta pechincha. Os dois ‘Pais’ do conceito do veículo também se transfeririam para a Daimler-Benz: Albert Friedrich foi responsável pelo Unimog como director técnico até 1958, e Heinrich Rößler, designer-chefe do Unimog na Boehringer, permaneceu nesta posição na Mercedes-Benz em Gaggenau até 1976.
Em meados de 1951, a produção do Unimog começou na fábrica de Gaggenau com a série de modelos 2010 – uma referência ao centro de custo 2010 no departamento agrícola da Erhard & Söhne, na qual os primeiros protótipos foram produzidos. Em 1953, inúmeros desenvolvimentos adicionais foram implementados com as séries de modelos 401 e 402: pela primeira vez, uma cabine fechada, resistente a impactos e totalmente em aço, complementava a cabine anterior com seu tecto dobrável. Tudo isto tornou o trabalho dos condutores significativamente mais seguro ao volante, proporcionando igualmente uma melhor protecção, por exemplo, ao trabalhar em canteiros de obras. A partir de Maio de 1953, o Unimog passou a ostentar a estrela da Mercedes além do logótipo do boi usado até então, que só seria removido em Setembro de 1955. Desde então, o Unimog tem vindo a ser continuamente aprimorado e melhorado, sempre adaptado às requisições e aos desafios que os tempos trazem consigo.
Os recursos mudam, mas o design básico permanece o mesmo
Por um tempo que ultrapassa já as sete décadas, o Unimog provou ser um cavalo de trabalho versátil. Desde que o primeiro veículo foi entregue em 1949, mais de 375.000 Unimogs saíram da linha de produção até hoje, num conceito básico que tem permanecido inalterado: quatro rodas do mesmo tamanho, design do chassis de um camião, alta capacidade off-road graças aos eixos de portal com molas helicoidais, tracção nas quatro rodas com bloqueios de diferencial dianteiro e traseiro, dimensões compactas com quatro espaços de instalação de acessórios e alterações da carroçaria, e ainda a opção de operar acessórios na frente, no centro, lateral e traseira, bem como de um eixo de tomada de força frontal, central e traseiro. A tudo isto é somada a velocidade comparativamente alta de 50 km/h na época e de até 89 km/h hoje, o que também permite que o veículo seja usado em estradas de forma a poder percorrer distâncias maiores.
Sempre actualizado: As últimas séries do Unimog
Os últimos modelos Unimog U 219 a U 535 são caracterizados por conterem dimensões extremamente compactas, possuindo ainda sistemas operacionais de última geração que permitem o seu uso durante o ano todo, numa operação económica e com altos níveis de ergonomia e segurança, além da compatibilidade com inúmeros fabricantes e construtores de dispositivos e ferramentas qualificados.
Como parte do projeto “WaVe”, o primeiro protótipo Unimog com motor a combustão de hidrogénio (WaVe) encontra-se em testes intensivos desde 2023, completando com sucesso jornadas de subida e aceleração, bem como outros desafios, numa discussão permanente acerca da viabilidade de utilização do motor a combustão de hidrogénio também como um complemento útil às variantes de accionamento eléctrico a bateria dos vários dispositivos.
Quer se encontre ao serviço de bombeiros e equipas de socorro em catástrofes, quer seja o companheiro fiel de trabalho em áreas agrícolas, quer acompanhe os espíritos mais aventureiros nas mais intrépidas expedições, o Unimog continua a cobrir no presente uma ampla gama de solicitações ao serviço dos mais variados requisitos à actividade humana – num tempo em que urge cuidar de todas as esferas do nosso planeta, é assim, e já há 75 anos, uma das ferramentas perfeitas para a construção de um futuro sustentado.
Fonte: Daimler Truck Portugal
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