Arquivos • 29 Mai 2024

Numa época tão extremamente “SUVizada” como a nossa, pode ser difícil acreditar na oferta de coupés existente na ainda não muito longínqua década de 90. Dentro dos coupés elegantes e confortáveis, e relativamente acessíveis, a oferta não se limitava às habituais marcas alemãs. Era possível optar por um coupé francês (Peugeot 406 coupé), inglês (Rover 800 coupé) ou um sueco (Volvo C70). E como não podia deixar de ser, o “gran turismo” também tinha um representante italiano, provavelmente o mais surpreendente de todos: o Lancia Kappa Coupé.

Em 1994, era lançada em modo Berlina a Lancia Kappa, à qual se juntou uma versão Station Wagon, desenhada pela Pininfarina, em 1996. Depois de ter sido obrigada a deixar as competições a favor da Alfa Romeo, para se dedicar em exclusivo ao segmento premium dentro do grupo Fiat, a Lancia tinha de reforçar o seu estatuto através de um veículo de imagem. A marca que tinha construído versões coupé do Flaminia, do Aurelia, do Flavia e do Gamma, tinha quase a obrigação de propor uma versão coupé do Kappa.

No Salão Automóvel de Genebra de 1995 Bertone apresentou a sua interpretação do que poderia ser um Kappa coupé. O concept-car Kayak foi bem acolhido pelo público, no entanto, os senhores das finanças entenderam que o Kappa Coupé teria de partilhar o máximo de elementos com o Kappa berlina de quatro portas. O resultado final foi apresentado no salão de Turim de 1996 mas, apesar de uma certa elegância, já não causou o mesmo entusiasmo. A frente era semelhante à berlina, enquanto a secção traseira optava por fazer discretas referências ao Flaminia coupé. O conjunto causava um certo desequilíbrio no design, o que parece ter sido decisivo para o fracasso comercial do Kappa Coupé, já que os motores e o habitáculo estavam à altura de um verdadeiro coupé gran turismo.

De facto, os motores propostos já eram mais aptos a convencer os mais cépticos: o quatro cilindros 2.0 do glorioso Delta HF Integrale, mas aqui com 205 cavalos, o cinco cilindros 2.4 de 175 cavalos e o V6 Busso aqui com 204 cavalos (a partir de 1998, o cinco cilindros 2.0 20v do Fiat Coupé, agora com 220 cv, veio substituir o 4 cilindros).

Por seu lado, o habitáculo propunha bancos em pele ou em alcantara que permitiam uma viagem confortável para quatro passageiros, num coupé que beneficiava de um equipamento completo para época.
No entanto, apesar das suas inegáveis qualidades, que o colocavam ao nível da concorrência, pouco mais de 3000 unidades do Lancia Kappa coupé saíram das instalações da Carrozzeria Maggiora entre 1997 e 2000. Passados mais de 20 anos, o charme e a elegância sui generis do Kappa coupé mantêm-se intactos.

Por isso, se estiver à procura de um clássico recente, raro, exclusivo, com a nata dos motores Alfa/Lancia, que permite viajar confortavelmente e com classe, não hesite em escolher um Kappa coupé. Pode sempre optar por um CLK cinzento, mas…
