Arquivos • 03 Jan 2024
Arquivos • 13 Dez 2023
Alfa Romeo Spider V6 3.0, agressivo e sofisticado
O Alfa Romeo Spider V6 3.0 faz-me lembrar o tema “Misty Mountain Hop”, dos Led Zeppelin. Duro e agressivo, mas ao mesmo tempo, sofisticado, algo erudito e elegante.
Comparado com o excelente Spider 2.0 Twin Spark, ainda pensei sentir o peso do propulsor na dianteira, talvez a comprometer a precisão da inserção em curva. Se está lá, não o consegui sentir.
Motores potentes e tracção à frente nunca fizeram parte da minha receita para conduções envolventes, mas o 3.0 V6, embora potente, não tem um binário avassalador. Ou melhor, é muito linear e progressivo na resposta, ao contrário da versão 2.0 V6 turbo comprimido.
Tal facto não transmite reacções parasitas à direcção, afectando negativamente a qualidade da experiencia no seu todo. No entanto, o barulho emanado pelo motor é deveras curioso, como explico mais abaixo e que a versão sobrealimentada carece.
O excelente Busso ganha uma dimensão, talvez pelo facto de estar montado num carro aberto, e consegue transmitir aos ocupantes uma sensação de impunidade em relação aos outros utilizadores da estrada em que circulamos.
O caráter aguerrido deste propulsor, que os aficionados da marca bem conhecem de outras aplicações, tem nesta versão 3-litros uma disponibilidade e uma sonoridade de fazer crescer água na boca. Ao mesmo tempo, a tal impunidade revela-se pela constante procura de um pretexto para o fazer subir de regime. A facilidade com que a velocidade sobe é tal que dá a sensação que as regras básicas de trânsito não se aplicam.
É o elemento que domina a experiência, não fosse um Alfa Romeo. A baixos regimes é melodioso, mas quando se solicita o acelerador, emite um gorgolejar que faz lembrar um V8! Quando os caudais de ar se equilibram, pelas 3800-4000 rpm, começa a fantástica sinfonia… e é assim curva após curva, recta após recta.
É um crescendo de emoção, assim como o tema dos Led Zeppelin, que se nota logo nos acordes ou metros iniciais. Pô-lo em marcha é um prazer. A sonoridade inicial dá o mote para o que passa a seguir.
A embraiagem precisa permite pô-lo em andamento muito suavemente. Nota-se também a relativa integridade da estrutura, considerada boa à época, hoje talvez nem tanto, mas mesmo assim muito competente. O equilíbrio é exemplar nesta geração do Spider e embora seja um tracção, o trem dianteiro digere com relativa facilidade os generosos 190cv. A suspensão traseira, uma solução multilink, negocia todas as mudanças de direcção com uma competência quase paradoxal. Por muito bruto que se seja com o volante, a estabilidade deste Spider é muito acima da média.
Em bom piso o comportamento é extremamente bom, com boa aderência e uma agilidade invulgar. Aprende-se muito rapidamente a confiar, é tão bom quanto isto! Tudo sem ajudas electrónicas e ainda bem. À época estas ainda eram muito intrusivas, eram uma constante interrupção à linearidade. Nesta geração nota-se uma certa bonomia geneticamente induzida…é um produto muito bem-nascido.
O interior é bem executado e relativamente simples. Os bancos, uns MOMO forrados em pele, causam alguma estranheza a princípio, não pela qualidade destes, mas pela posição de condução. De início parece peculiar, mas com a habituação começa a fazer sentido… talvez seja causada mais pelas proporções deste Alfa do que outra coisa.
Com dimensões maiores que a referência do sector, o Mazda MX-5, o Spider tem mais espaço interior, permitindo uma ambiência mais relaxada. A organização do espaço é diferente, com os ocupantes mais longe do tablier e das portas. Há mais espaço para nos mexermos dentro do automóvel… não que seja muito importante neste tipo de automóveis, mas para um público menos experiente é mais “normal”, mais em linha com o que é esperado.
Confesso que não liguei o rádio, a associação com o tema veio mentalmente, durante a experiência nas estradas na zona de Miramar e, à posteriori parece fazer cada vez mais sentido. Desafio o leitor a procurá-lo, o tema, em qualquer site da especialidade, para ter uma ideia do que estou a falar. Depois digam-me…
P.S.: Para os que gostam de perguntar: “Mas este 3.0, é melhor do que o Twin Spark, ou o V6 turbo?” Podia dizer que é diferente, mas a resposta simples e directa é em rotundo SIM, é muito melhor!