Arquivos • 24 Set 2024

A sétima arte e o automobilismo partilham entre si a simbiose do entretenimento das massas. Os cinemas representam ainda hoje uma forma de recreio, seja este pessoal ou familiar. Para todos os gostos e feitios, os cinemas enchem-se de variedade, agradando ao mais incomum dos clientes. Os automóveis e o cinema complementam-se. De facto, um grande número de títulos se dedicam aos automóveis e ao que estes movem. Os automóveis no cinema não se restringem apenas ao ecrã. Apesar de estarem há muito démodé, a oportunidade de ver um clássico do cinema no conforto do seu automóvel pode estar ao virar da esquina.
Todas as condicionantes desta pandemia implicam um distanciamento social que os cinemas convencionais terão de cumprir. Subitamente, os drive-in surgem como uma alternativa séria e arrojada de manter a indústria cinematográfica à tona de água. Para as famílias, será provavelmente uma oportunidade nova e divertida de planear um fim de tarde ou até uma saída romântica, para os mais apaixonados!

A história dos drive-ins remonta à América dos anos trinta. Incubadora de grande ideias, o drive-in é apenas uma das inovações que este país deu ao mundo, e que teve o seu auge em meados da década de sessenta. O criador do conceito de cinema drive-in foi Richard Hollingshead, que patenteou a sua ideia em 1933, e abriu o seu primeiro Park-In Theater a 6 de Junho do mesmo ano.

A origem da ideia foi caricata, sendo que os assentos disponíveis nos teatros/ cinemas eram relativamente desconfortáveis e pequenos, foram as repetidas queixas da mãe de Hollingshead, inventor do conceito, que levaram este a arquitectar aquele que seria o primeiro Park-In Theater. Seria pois, algo tão simples como ver um filme no conforto do seu automóvel. A ideia, per si, não constituía grande desafio, especialmente quando comparada à tarefa de arquitectar uma solução viável de imagem, som e espaço. A questão da meteorologia foi sempre outra das condicionantes que assombrou os drive-ins desde o início.
Na sua própria moradia, Hollingshead fez ensaios com o que tinha disponível, nomeadamente um projetor Kodak 1928 de 16mm, que mondado sobre o seu automóvel, projetava para uma tela improvisada entre duas árvores. O som foi colocado atrás desta tela, pelo menos provisoriamente nos primórdios deste método exterior.

Após o registo da patente, o criador do conceito abriu a empresa Park-In Theaters, Inc, e passou a comercializar o conceito, cobrando 25 cêntimos por carro e 25 cêntimos por cada pessoa no interior do automóvel. Após o sucesso inicial e o interregno da segunda guerra mundial. Foi em 1949 que se iniciou a expansão exponencial dos drive in, ano que em a patente expirou. No seu apogeu, a América albergou perto de cinco mil destes estabelecimento, sendo que um dos maiores se estendia por 28 hectares e tinha capacidade de receber mais de dois mil e quinhentos automóveis. Desde o original, em New jersey, os drive in desenvolveram-se com cada vez mais atrações, dias temáticos, restaurantes etc. O problema da qualidade do som acabou a ser resolvido com um emissor FM que permitia ao condutor sintonizar o radio do seu carro e desfrutar do filme com maior qualidade. A marca que os cinema drive in deixaram na sociedade, e especialmente na sétima arte, passa muito pelo dia relaxado em família, ou pelo encontro romântica e a privacidade que a noite permitia.

A imagem de mil novecentos e sessentas, a época dourada automóvel, e toda aquela mística move a nossa nostalgia mais clássica dentro de nós. Especialmente quando hoje olhamos para a quantidade de automóveis que enchiam os drive-ins, e, que na época, nem se sonhava virem a ser clássicos!
Em Portugal, os cinemas drive-in nunca fizeram o sucesso, nem tão pouco marcaram a sociedade, quando comparamos com a América. É curioso pensar que o conforto automóvel foi uma das pedras principais no alicerce do conceito de Park-In Theater. Bem sabemos que os carros americanos à data eram espaçosos e muito confortavelmente transportavam 6 pessoas. Um dos mais fascinantes conceitos de conforto automóvel é o Buick Flamingo, e os seus bancos giratórios.

O fim dos cinemas drive in pode ser atribuído a muitos factores, destes, a democratização da cassete VRC e o downsizing dos automóveis para fazer face à crise dos combustíveis de 1973 parecem ser os mais evidentes. Há quem atribua também esta queda no número de drive-ins ao mercado imobiliário, na medida em que muitas vezes o valor do terreno superava grandemente as receitas obtidas.

Os sobreviventes recorrem a dias temáticos e, sobretudo, à e exploração dos refrigerantes e dos snacks como forma de aumentar as receitas. Seria interessante ver em Portugal um drive in de sucesso. Quem sabe até dedicar um dia especial a automóveis clássicos…será decerto interessante ir ao cinema com um gostinho especial a exposição automóvel. Decerto que eu ia gostar…e o leitor? Já sabe que filme gostaria de ver?