Arquivos • 17 Jan 2024
O kit que transforma o Mazda MX-5 num automóvel de competição dos anos 30
Os automóveis actuais são, indiscutivelmente, mais seguros, mais confortáveis e mais eficientes do que os seus antecessores, nascidos há algumas décadas. Apesar disso, há algo de único e de extraordinário quando nos sentamos ao volante de um automóvel clássico. É toda uma experiência que desperta os sentidos, levando-nos a revisitar uma era em que os habitáculos eram mais espartanos e a condução era uma habilidade, uma era em que os sistemas de navegação eram conhecidos, simplesmente, por mapas e a tecnologia de segurança activa, os ecrãs tácteis e os smartphones não eram mais do que pura ficção.
O apelo intrínseco do universo dos automóveis clássicos é muito abrangente e está bem patente um pouco por toda a Europa. Dele fazem parte, não só os chamados petrolheads, como também os entusiastas da engenharia, do design e da própria história do automóvel. Mas qual é o seu fascínio? Os veículos clássicos destacam-se pelo seu estilo distinto, permitindo que um indivíduo marque uma posição relativamente à sua personalidade e gostos, bem como no que diz respeito à sua própria atitude perante a condução. Permitem, ainda, o contacto de pessoas que têm em comum essa mesma cultura, reunindo-se numa comunidade que promove encontros regulares aos fins-de-semana, seja em exposições de veículos clássicos, em provas de ralis e/ou regularidade ou em qualquer outro tipo de evento. É, também, uma forma de relembrarem a sua própria juventude, associando, inevitavelmente, os seus automóveis a momentos marcantes das suas vidas. E, para além disso, quem é que se esquece daquele que foi o seu primeiro automóvel?
Alguns modelos podem, ainda, valorizar-se no mercado dos usados ou dos coleccionadores. Os automóveis clássicos conseguem ser, por vezes, económicos a nível de utilização, pois podem usufruir, consoante o país, de um imposto de circulação mais reduzido, de seguros mais acessíveis ou até de determinadas isenções de restrições de circulação em zonas de baixas emissões. Na União Europeia, para que um automóvel possa ser considerado um clássico, deverá ter, pelo menos, 30 anos, assim como deverá estar em boas condições de conservação, ou seja, o mais original possível.
Estatuto de clássico: O momento-chave
São vários os modelos da Mazda que têm atingindo os 30 anos de vida, factor que lhes abre as portas a esse estatuto de clássico. Cada um deles tem contribuído, à sua maneira, para a história e evolução do automóvel, tendo ajudado a definir toda a herança e alma da Mazda.
O Mazda MX-5 é, talvez, o modelo que melhor representa essa herança e a essência da marca japonesa. Inspirado nos económicos roadsters das décadas de 1950 e 60, a Mazda desenhou a primeira geração do MX-5 (“NA”) incorporando-lhe a tradicional relação de condução – Homem e máquina como um todo – de acordo com o princípio Jinba Ittai. Quando o “NA” foi lançado na Europa em 1990, o modelo esgotou quase de imediato, deixando muitos compradores em lista de espera durante um ano, para finalmente conseguirem o seu exemplar. Nesse ano foram vendidas cerca de 14.000 unidades na Europa, incluindo 2290 exemplares de uma edição limitada com carroçaria pintada na cor British Racing Green, naquela que foi a primeira Edição Especial do MX-5 para a Europa.
Graças ao seu design e construção de baixo peso, ao seu imbatível e divertido comportamento dinâmico e preço acessível, o MX-5 fez renascer um segmento de mercado virtualmente extinto. De facto, viria a tornar-se no veículo de dois lugares mais popular de sempre, tendo, presentemente, vendas acumuladas de mais de 1,1 milhões de unidades, divididas pelas suas quatro gerações. Elogiado pela sua pureza e fiabilidade, o “NA” é, ainda hoje muito popular, sendo uma presença habitual em eventos de modelos clássicos um pouco por toda a Europa e representa o núcleo de uma coesa e vasta comunidade global dedicada ao MX-5, representada por inúmeros clubes que se dedicam, em exclusivo, ao automóvel considerado por muitos como aquele que proporciona “a melhor média de sorrisos por cada 100 quilómetros”. Não é por acaso que a Mazda desenhou a actual geração (“ND”) de forma a representar aquilo que os fãs mais apreciam no MX-5 “NA”, o original.
Gama MX: revigorante e pouco convencional
Depois do MX-5, surgiram na Europa dois novos modelos da família “MX”, com a revelação do Mazda MX-3 e do Mazda MX-6 no Salão de Frankfurt de 1991. Normalmente utilizada por concepts e protótipos da Mazda, a denominação “MX” sempre se destacou por ser aplicada em projectos especiais da Mazda e estes coupés de produção, pouco convencionais, não eram excepção.
Diferenciando-se de outros coupés desportivos médios em termos de equipamento premium e tecnologia, o MX-6 estava disponível com um sistema opcional de quatro rodas direccionais e com um motor V6 com 24 válvulas. Já o mais pequeno e económico MX-3 atraiu um grande número de compradores, num compacto “2+2” que se destacava pela sua dinâmica de referência e pelo seu rotativo motor V6, com 1.8 litros de cilindrada, de 133cv, à altura o mais pequeno motor V6 de produção do mundo. Cumpria a aceleração dos 0 aos 100 km/h em cerca de 8,5 segundos e superava os 200 km/h de velocidade máxima.
No formato coupé, a designação “MX” mantém-se no presente, através do roadster MX-5 (soft-top e RF), alargando-se ao recém-lançado Mazda MX-30, um distinto crossover que é, também, o primeiro modelo 100 por cento eléctrico da Mazda.
Os modelos de cunho ainda mais desportivo fazem parte do ADN da Mazda, tal como o próprio motor rotativo, cuja compacidade e relação peso/potência o tornavam ideal para a máxima performance e para o mundo da competição. De facto, ambos são inseparáveis desde que a Mazda lançou o seu primeiro modelo com motor rotativo, o Cosmo Sport/110S de 1967. No mundo da competição, a marca viria a dominar a sua classe no campeonato IMSA, bem como noutros eventos, principalmente através do desportivo RX-7, originalmente apresentado em 1978, o modelo com motor rotativo mais vendido de sempre.
Em 1991, no seguimento da impressionante vitória alcançada nas 24 Horas de Le Mans, a Mazda lançou o mais rápido, mais potente e mais ágil RX-7 de produção. Conhecido como “FD”, a terceira geração do RX-7 herdou a reputação dos seus antecessores – a segunda geração “FC”, produzida entre 1985 e 1991, e a primeira geração, com a designação “SA/FB RX-7”, em produção entre 1978 e 1985 – e utilizava um melhorado motor twin-turbo com uma potência de 239cv. Assim, o “FD” declarava uma relação peso/potência de apenas 5,2 kg/cv, permitindo-lhe uma performance digna de um supercarro e rivalizar com modelos muito mais caros. O seu design intemporal continua, ainda hoje, a destacar-se entre os demais.
Simplicidade sem idade e fiabilidade lendária
Para muitos, o apelo dos automóveis clássicos está na simplicidade do seu design e na tecnologia empregue, mas os modelos de maior volume de produção da Mazda possuem, também eles, um charme muito próprio.
Tomemos como exemplo o Mazda 323. Antecessor do actual Mazda3, o modelo foi lançado na Europa em grande estilo, através de duas unidades que ligaram a cidade de Hiroshima ao Salão de Frankfurt de 1977, numa viagem de cerca de 15.000 km que durou 40 dias, durante a qual não se registaram quaisquer avarias. A sua lendária fiabilidade e versatilidade fizeram do 323 um dos modelos de importação mais populares na Europa, registando um recorde de vendas em 1991 para um modelo japonês na Alemanha.
Este compacto estava disponível em vários formatos de carroçaria, incluindo um 323F mais desportivo mas igualmente familiar, um coupé de cinco portas com faróis escamoteáveis (tal como a primeira geração do MX-5), juntamente com as carroçarias hatchback, berlina e carrinha. A Mazda comercializou-o no continente europeu, inclusivamente, uma versão com motor turbo e tracção integral baseada nos seus bem-sucedidos modelos de ralis, com diferenciais autoblocantes e uma potência de 185cv, unidades que são agora muito procuradas por colecionadores.
Bem mais simples, mas igualmente distinto à sua maneira, o Mazda 121, lançado em 1991, era um pequeno compacto urbano de design simpático, cujo tejadilho arredondado escondia um habitáculo surpreendentemente espaçoso. Contava com soluções práticas como o banco traseiro deslizante, operável quer pela frente, quer pela bagageira, e um opcional tejadilho de abrir eléctrico em tecido, que se podia recolher a partir da frente, de trás, ou em ambos os sentidos simultaneamente.
Aprender com o passado
Entrar para o habitáculo de um destes modelos é como que dar início a uma viagem no tempo. Muitas coisas mudaram para melhor ao longo dos últimos 30 anos, não há dúvidas, mas os designs mais clássicos continuam a ter a capacidade de nos ensinar sobre tudo aquilo que entusiasma as pessoas, como os habitáculos inteligentes e espaçosos, a sua elegante simplicidade, bem como uma divertida e envolvente experiência de condução, elementos de que a Mazda nunca abdicou.
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