Arquivos • 13 Nov 2012
O Circuito de Vila do Conde recebeu a primeira prova em Setembro de 1931, mas seriam necessárias duas décadas de interlúdio até que a competição automóvel regressasse para uma segunda edição em solo vila-condense. Estabelecendo-se, em pouco tempo, como um dos mais emblemáticos circuitos citadinos do país, o traçado da “Princesa do Ave” partia da Av. do Brasil, na qual se encontravam as boxes, em direção à denominada “Curva do Mar” (referência ao Restaurante Mar-à-Vista, ali próximo), seguindo depois pela Av. Sacadura Cabral, passando pelos “Esses do Jardim” (Jardim Júlio Graça) e, posteriormente, pela Av. Júlio Graça em direção à curva do “Fluvial” (Clube Fluvial Vilacondense). Dali, o traçado continuava sobre a Júlio Graça até à chicane da “Curva da Seca” (do Bacalhau), fechando depois, após a “Curva do Castelo” (Forte de S. João Baptista), novamente na Av. do Brasil.
O ano de 1965 marcou a décima edição do circuito automóvel de Vila do Conde, tendo a competição sido promovida e organizada pelo Estrela e Vigorosa Sport com o apoio do ACP, sendo disputadas a “Taça Comissão de Turismo de Vila de Conde”, para automóveis de turismo e “Taça Câmara Municipal de Vila do Conde” para automóveis de grande turismo. A variedade de modelos inscritos prometia um espetáculo digno e repleto de competição renhida.
As provas tiveram lugar nos dias 28 e 29 de Agosto. Na sessão de treinos e qualificação, Aquiles de Brito ao volante do Ferrari 275 GTB número 39, assegurou a liderança da primeira fila no dia seguinte, ao estabelecer uma média de 132 km/h, com a melhor volta do Ferrari ao circuito a figurar-se em 1.18,98s. Carlos Gaspar tomou a segunda posição da grelha ao volante de um Lotus Elan, com uma média de 130,5 km/h.
O dia da prova assistiu à chegada de cerca de 20.000 entusiásticos espectadores ao Circuito de Vila do Conde. Sendo um dos grandes eventos do final do verão, a excelência das condições meteorológicas no dia 29 apenas ajudou a que a competição pudesse contar com um público cativo. O traçado, fluido e rápido, recebera melhoramentos e, embora ainda se mantivesse a questão do empedrado na Av. Sacadura Cabral, o qual trazia problemas de aderência, e o piso incerto na Av. Júlio Graça junto à “Curva da Seca”, zona na qual um despiste poderia facilmente significar um violento mergulho no Ave ou uma visita indesejada e extremamente perigosa aos secadouros do bacalhau, a já considerável experiência da maioria dos pilotos inscritos deixava antecipar um domínio da habilidade sobre os desafios técnicos.
Na prova de turismo, dos 14 concorrentes inscritos, 12 alinharam à partida e dois acabaram por não concluir, nomeadamente Francisco Santos, o então segundo classificado do Campeonato Nacional de Condutores e Francisco Marques Pinto. Santos desistiu devido a uma avaria e Marques Pinto foi forçado a abandonar no seguimento de um despiste (já depois, contudo, de ter marcado a volta mais rápida da classe e estabelecido uma média de 126,6 km/h). A vitória viria a pertencer a Manuel Gião, piloto oficial da Austin de J.J. Gonçalves, o qual terminou a prova em 42m56s com uma média de 121,8 km/h, seguido de José Aierpmal, Emídio Vilar Gomes e Alfredo César Torres, o líder da tabela do Campeonato Nacional de Condutores.
Já na categoria grande turismo, a palavra de ordem do dia foi “desistência”. Apenas 7 dos 14 inscritos à partida cruzaram a meta. Contudo e apesar desse facto, a prova não deixou de providenciar batalhas interessantes, com os Elan de João Vaz Guedes e Carlos Gaspar a recuperarem, nas curvas mais lentas, o terreno perdido para os gigantes 275 GTB e 300SL. O favorito à partida, Aquiles de Brito, acabou mesmo por prevalecer, tomando a vitória ao volante do belíssimo Ferrari que deliciou o público ao longo de todo o fim-de-semana, estabelecendo uma média de 124,6 km/h no decorrer das 35 voltas do evento. Aquiles de Brito foi seguido por Américo Nunes (Porsche 356B 2000GS Carrera GT), João Vaz Guedes (Lotus Elan), Carlos Santos (Alfa Romeo SS) e José Luís Lickford (Mercedes-Benz 300SL Gullwing).
A edição seguinte, em 1966, viria a marcar nova vitória de um Ferrari em Vila do Conde, com a honra de cruzar a meta em primeiro lugar a pertencer a António Peixinho com o seu extraordinário 250 LM.
Imagens: Delcampe