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Dupla personalidade: O Mercedes-Benz C36 AMG de 1995
Estávamos em 1995 e a Mercedes-Benz lançava o seu novo C36 AMG, em colaboração com a casa Aufrecht, Melcher and Großaspach que, na altura, ainda não fazia parte dos seus quadros e se dedicava à preparação e transformação de modelos da marca alemã.
O trabalho desenvolvido no C36 foi, na altura, considerado notavelmente subtil, em particular do ponto de vista exterior. Existia uma nova e mais profunda entrada de ar frontal com faróis de nevoeiro, novas saias laterais e um novo avental traseiro. Tudo isto visto como sendo de bom gosto e de aparato bastante contido. Também foram adicionados emblemas AMG, saídas (reais) de escape duplas cromadas e jantes de 17 polegadas com pneus de baixo perfil.
Quando se examina o pedigree, observa-se a clássica consanguinidade entre a gama de modelos da marca: peças de vários modelos Mercedes eram combinadas num único pacote de forma a elevar o desempenho do normal C280, o ponto de partida. Para o C36, a equipa da AMG encontrou mais 74 cavalos de potência para acrescentar aos 194 do C280. Primeiro, aumentaram o diâmetro do motor C280 de série (conhecido internamente como M104) de 89,9 para 91 mm. De seguida, colocaram pistões de alumínio forjado, aumentando a taxa de compressão de 10 para 10,5:1. Na extremidade inferior, instalaram uma cambota do S350 turbo-diesel especialmente maquinada e equilibrada, aumentando o curso do motor de 73,5 para 92,4 mm. Tudo isto resultou numa cilindrada de 3,6 litros.
Com todo um conjunto de alterações que incluíam ainda a instalação de um diferencial inicialmente desenvolvido para o novo Classe E que entretanto seria lançado no mercado, era ainda necessário introduzir algumas novas melhorias na travagem e na suspensão. Os discos dianteiros provinham do SL600 e os travões traseiros de um E420. O automóvel contava ainda com barras estabilizadoras melhoradas para aumentar a rigidez de rolamento em 35% na frente e em 49% na traseira. Foram instalados igualmente amortecedores a gás especiais, afinados pela AMG.
Apesar da mecânica extremamente modificada e do chassis mais firme, o C36 assemelhava-se muito a um autêntico automóvel da marca da estrela de três pontas. Não obstante, ao entrar observávamos as soleiras das portas AMG, o velocímetro escalado até aos 260km/h, pormenores em pele cinzenta no volante e o “C36” gravado no selector da caixa de velocidades.
Em andamento, assim que o automóvel arranca, pressentíamos um grau de firmeza e controlo de rolamento que não se encontra na restante gama da Classe C. Depois, pisando o pedal direito, o C36 avançava com uma energia inconfundível, com o rugido do escape repleto de novos impulsos sonoros.
Os valores de aceleração eram impressionantes para a altura, com 6,7 segundos dos 0 aos 100 km/h, culminando nos 250km/h de velocidade máxima electronicamente controlada.
Na época, uma das perguntas recorrentes prendia-se com o que se podia pedir mais num automóvel assim, que concentrava as habituais características de solidez e conforto da Mercedes-Benz com o tempero mais arrojado da AMG, num aparente paradoxo. Enquando a marca alemã fornecia a camada de requinte que se encontra em todos os seus automóveis, a AMG, por outro lado, contribuía com toda a sua experiência na preparação de carros para a competição e transformação de modelos de estrada. Para Klaus Ludwig, que conduziu um Mercedes-Benz no DTM (Campeonato Alemão de Carros de Turismo) de 1994, a AMG tinha produzido um produto vencedor.
Ainda perante parte da imprensa da altura, o novo C36 AMG era um automóvel mais completo do que o contemporâneo BMW M3, precisamente por concentrar todas as características anteriormente apresentadas, sem comprometer a sua versatilidade e sem desequilibrar a sua presença com uma exuberância porventura exagerada. O tempo foi respondendo a muitas destas perguntas, e hoje em dia este é um modelo com um lugar muito especial na história de dois emblemas (Mercedes-Benz e AMG) entretanto unidos e com uma oferta imensa de automóveis que permite a escolha de um modelo para cada gosto e para cada sensibilidade.
Fonte: Car and Driver.