Arquivos • 11 Ago 2013
Arquivos • 12 Set 2023
A década de 90 do Double Chevron: Trinta anos depois do AX e ZX
Por José Brito
Quer o Citroën AX, quer o ZX, propuseram um momento de tremenda importância para a marca do double chevron, catapultando-a para o topo de vendas com o AX e para o pináculo do desporto motorizado com a vitória no Paris-Dakar do ZX.
A crise do petróleo e novas necessidades de espaço, tamanho e consumo dos compradores europeus provocaram o nascimento dos Citroën AX e ZX por finais da década de 80. O pequeno AX representava a vocação económica supramencionada, enquanto o ZX pretendia preencher uma lacuna na gama de modelos disponibilizada, assim como proporcionar o regresso da marca à competição automóvel de primeira liga.
O AX surgiu com o propósito de substituir o sempre popular Visa, que apesar de possuir uma estética divisora de opiniões, alcançou os objectivos de vendas propostos pelos gauleses de forma breve. O seu desenvolvimento foi antecedido da crise do petróleo de 1979, que encareceu os barris do mesmo em duzentos e setenta porcento num muito curto espaço de tempo, levando a flutuações e especulações nos mais variados ramos empresariais, mas com sérias repercussões na indústria automóvel. Tendo em conta tal factor, a Citroën, em conjunto com o governo francês, iniciou o desenvolvimento de um modelo que deveria ser económico, fiável, e com a maior versatilidade possível para um utilitário.
Por 1986 deu-se a conhecer o novo Citroën AX ao grande público, no Salão de Paris. A estética era sem dúvida muito particular, e lograva um coeficiente aerodinâmico de 0.31, recorde do segmento por esta altura. Em qualquer das opções nunca superava por demais os 700 quilogramas e aportava uma ampla oferta mecânica com a estreia dos motores TU de quatro cilindros. Estava disponível com diversas versões a diesel e a gasolina, chegando até a ser criada uma versão eléctrica com recurso a baterias de níquel-cadmio, em 1993. Com um habitáculo espaçoso e uma mala de elevada capacidade (273 litros) tornava-se evidente que era um modelo totalmente novo, com nada “aproveitado” do Visa.
Até 1998 foram fabricadas 2.425.138 unidades, tendo-se cessado a sua produção nesse mesmo ano. Fica para a história um dos modelos mais importantes para a marca gaulesa.
Abordar o Citroën AX sem mencionar as variantes GTi e GT seria sem dúvida um exercício de pouca mestria, particularmente por representarem verdadeiros automóveis de culto.
Conhecidos como um tracção dianteira com traseira alegre (à semelhança do 205 GTi), os AX GTi e GT (especialmente o GT) rodavam sobre o eixo traseiro como poucos. Apesar de partilharem a mesma base com o Peugeot 106 GTi, os AX GTi e GT tinham uma distância entre eixos mais curta, o que representava uma vantagem em estradas reviradas, mas uma desvantagem em curvas rápidas com menos apoio, onde se declarava sem inibição a traseira “atrevida” do pocket rocket gaulês.
Toda a simplicidade do conjunto acabava por ter reflexo na fiabilidade, mas também no peso, com uns reduzidos 795 quilogramas para o GTi e uns reduzidíssimos 715 quilogramas para o GT. Tal diferença de peso acabava por ditar que o GT, apesar de menos potente do que o GTi, fosse mais rápido no sprint aos 100. O GTi surgia equipado com um motor de 1360 centímetros cúbicos e 100 cavalos às 6600 rotações por minuto (95 cavalos após incorporação de catalisador), enquanto que o GT possuía uma variante mais simples do mesmo motor, com carburadores duplos a debitar 85 cavalos (75 cavalos após integração de injecção electrónica).
A excelente relação peso/potência fazia com que os AX GTi e GT alcançassem velocidades máximas muito próximas dos 200 quilómetros por hora.
Ao nível de equipamento, e mediante os padrões da altura, podia-se dizer que o AX GTi era um pacote completo, particularmente se focarmos a versão GTi Exclusive, com estofos em pele que forrava também parte das portas, entre outros extras para lá do propósito económico.
Em relação ao ZX, o propósito era vertiginosamente distinto. Em 1985 a Citroën coloca em marcha o Programa N2, que deveria voltar a marca para um conceito totalmente generalista, criando um novo segmento em que não estava presente, o dos compactos. Assim, em 1991 nasce o Citroen ZX, como forma de colmatar o vazio existente na gama entre o utilitário AX e a berlina BX.
Estreou um eixo traseiro auto-direccional, baseado numa suspensão semi-independente e com um sistema mecânico totalmente redesenhado. Além da habitabilidade, tinha como premissas o conforto e um certo factor desportivo. Os responsáveis da Citroën concebiam os dois primeiros propósitos, mas não o último. Assim, antes mesmo do lançamento oficial, já a Citroën perspectivava e competia com o mítico Citroën ZX Rally Raid, ganhando o Dakar com Ari Vatanen, e garantindo uma apresentação com toda a pompa e circunstância no Salão de Paris de 1991. Após esta soberba vitória, três mais se seguiram, e de forma consecutiva.
Ao nível dos modelos de comercialização, chegou a haver um pouco de tudo, desde versões económicas a gasolina de 60 cavalos, a desportivas com um bloco de 2 litros e 16 válvulas de 163 cavalos, até variantes diesel atmosféricas e também versões turbo.
O ciclo de vida do ZX chegou ao fim em 1997, tendo sido substituído pelo também carismático Xsara, que garantiria não só a continuidade de vendas, como também a manutenção da Citroën como nome formal no desporto motorizado, com conquistas do campeonato mundial de rallies por pilotos e por equipas.
Retrato de apenas mais um capítulo de sucesso na história da marca do duplo V.
Passei por todos. Comecei com o Visa 11 RE, passei para o AX 11 TRE, seguiu-se uma ZX break e depois um Xsara 2.0 HDI, que, com 23 anos e 320.000 km, ainda mora cá em casa sempre pronto para as voltas. A juntar a estes ainda houve um c3 de primeira geração e um saxo 1.5 d, usado ainda por um filho.