Clássicos • 06 Mar 2022

Competição • 16 Ago 2023
Renault Clio Maxi, o mais extremo dos Clio da primeira geração
Por Tiago Nova
Com o lançamento do Renault Clio era óbvio que os ralis não poderiam ser esquecidos e, desde que se iniciou o desenvolvimento do Clio 16S que a Renault Sport idealizou a sua futura máquina de ralis, tanto para o Grupo N, como para o topo, o Grupo A. As carroçarias eram feitas na Matter com todos os reforços necessários e com a adicção da rollcage. O Clio 16S N3 tinha poucas alterações, restritas por este ser o agrupamento de produção, recebendo um escape menos restrito, um chip da Renault Sport, passando assim o motor a debitar 150cv, e recebia uma suspensão da Bilstein.
Para competir no topo do campeonato do mundo de ralis, a Renault teria de desenvolver uma versão de Grupo A e esse desenvolvimento iniciou-se logo em 1991. Várias alterações foram efectuadas no motor F3P de 1,8 litros, como as árvores de cames, taxa de compressão de 12:1, sistema de admissão e escape, electrónica completamente nova, para o motor passar para os 200cv às 6800 rotações por minuto e 205Nm de binário às 6000 rotações por minuto. A caixa de velocidades é também mais curta e foi adicionada um autoblocante. Os Clio 16S competiram oficialmente de 1991 a 1993.

No entanto, para a Renault conseguir ser competitiva no campeonato F2, teria de desenvolver um Clio com um motor de dois litros e fazer a sua homologação, nascendo assim o Clio Williams. A especificação mais básica era para o Grupo N onde o motor F7R debitava entre 165 e 173cv. Para o Grupo A a potência do motor rondava já os 205cv e os 220cv às 6900 rotações por minuto e 230Nm de binário às 6000 rotações, tornando-se assim muito mais competitivo. Acoplado ao motor estava uma caixa de seis velocidades manuais com autoblocante. Este utilizava jantes Speedline 2012 de 16” e travagem da Alcon com discos de 323 mm e pinças de quatro êmbolos na frente. A suspensão foi desenvolvida pela Renault Sport em conjunto com a Bilstein. A marca francesa utilizou os Clio Williams a nível oficial de 1993 a 1995, vencendo todas as provas em que participou na sua categoria do WRC.
A derradeira evolução do Renault Clio foi aquela desenvolvida para a categoria Kit Car, designada de Clio Williams Maxi, apesar de só ser utilizada a nível oficial em 1995, pois no ano seguinte passou a ser utilizado o Renault Mégane Maxi. Esta versão destaca-se logo pelo exterior, com o alargamento da carroçaria e o aileron traseiro em fibra de carbono. Além disso tinha ainda uma saída de ar adicional no capot e utilizava jantes até 17” em magnésio. O peso do Clio Maxi situava-se nos 960 kg.
A suspensão foi toda desenvolvida pela Proflex, com muitos componentes em alumínio, e tinha três modos de ajustes. As barras estabilizadoras eram mais largas, até 35 mm, para o asfalto. A travagem também foi desenvolvida pela Alcon com discos em alumínio na frente de 332 mm e pinças de quatro êmbolos e na traseira os discos tinham um diâmetro de 266 mm e as pinças tinham dois êmbolos.
O motor F7R foi afinado pela Sodemo produzindo inicialmente 250cv e, posteriormente nas últimas evoluções, 275cv de potência. O motor utilizado no Clio Maxi tinha borboletas de admissão individuais para cada cilindro, árvores de cames mais agressivas com uma máximo de elevação de 15 mm, a cabeça do motor foi modificada para um melhor fluxo de ar e combustível, o bloco do motor também foi alterado para uma melhor refrigeração, as válvulas são de titânio, os pistões e as bielas são forjados e produzidos pela Pankl, a taxa de compressão passou para os 12,5:1 e recebeu ainda um colector de escape 4-2-1 produzido em liga de Inconel.

Acoplado ao motor estava uma embraiagem da AP Racing e uma caixa manual de seis velocidades da Sadev. Posteriormente, passou a contar com uma caixa sequencial Hewland RST. Alguns Clio Maxi receberam também a caixa sequencial do Mégane Maxi de sete velocidades, mas essa alteração nunca foi homologada pela marca. Dessa forma, o Clio Maxi foi dos primeiros, se não o primeiro, automóvel de ralis a utilizar uma caixa de velocidades sequencial.
No interior conta com uma rollcage da Matter, backets da Sparco ou Sabelt, painel de instrumentos da Stack e electrónica Magneti Marelli. Ao todo, foram produzidos pela Renault Sport cerca de 50 Clio Maxi, no entanto, outros foram alterados a partir de Clio “normais” recebendo os kits vendidos pela marca.
Durante os anos que a Renault esteve a competir com os Clio, os pilotos de serviço foram Jean Ragnotti, Alain Oreille, Serge Jordan e Philippe Bugalski. A Renault Portugal também competiu a nível oficial com os Clio, com a designação Renault Gest Galp, passando por todas as evoluções, incluindo os Clio Maxi. O piloto mais conhecido era o José Carlos Macedo, acompanhado por Miguel Borges, que venceu o campeonato de pilotos e de duas rodas motrizes em 1993 com o Clio 16V. Venceu categoria F2 em 1994 com o Clio Williams e ficou em terceiro na classificação absoluta, conseguindo ainda vencer a Taça 2 Litros no Rally de Portugal do mesmo ano. Com o Clio Maxi, José Carlos Macedo venceu novamente em 1995 e 1996. Para além deste, Pedro Azeredo, acompanhado por Fernando Prata, também esteve aos comandos dos Clio no campeonato nacional de ralis.
Por cá competiram dois de forma oficial, com as matrículas 77-27-EQ e 77-28-EQ. O 77-27-EQ foi o terceiro chassis produzido e encontra-se actualmente numa colecção privada em França, sendo submetido a um restauro em 2016 encontrando-se com as cores de fábrica. O 77-28-EQ foi o quarto chassis produzido e está agora em Espanha.
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