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Uma “daily comute” acaba por fazer parte do dia-a-dia de grande parte de nós, particularmente pelo habitual binómio incompatível local de trabalho – localidade de residência. Pela experiência pessoal de uma não muito fatigante viagem de 35 minutos ao nascer do sol e ao pôr do mesmo, o entretenimento passa por um misto de podcasts, carspotting local e análise às partidas e chegadas dos stands à berma da nacional. Apesar da ocupação temporal supramencionada, existe um ponto específico que, sem falhar, me prende o olhar, ou não fosse um dos lugares de estacionamento do hotel Minho Bela, a norte de Vila Nova de Cerveira, local de repouso de um pré-centenário, um Ford Prefect de 1953.
Tal foi a intriga pelo automóvel que em Dezembro passado finalmente cumpri a conversa que desejava ter com o proprietário, não saindo desiludido. Tendo já possuído diversos automóveis clássicos no passado, incluindo dois DS em estado de concurso, admite as pressões da sua cara-metade para se ver livre dos “velhos pedaços de ferrugem”, o que não o demoveu da compra do exemplar em presente análise há alguns anos. Com conversa a puxar conversa acabamos por abordar as perfeições e imperfeições do modelo, desde o motor que “nunca falha”, aos sinais de desgaste nos cromados e evidências de corrosão nas cavas das rodas, faltando apenas a tão afamada questão: “Pode pô-lo a trabalhar?”. A resposta era evidente e a reacção previsível, ou não se enquadrasse o som do Prefect tão perfeitamente na sua imagem.
Produzido pela Ford UK entre 1938 e 1961 como um modelo de gama superior ao Popular e ao Anglia (com uma dimensão de quatro metros a fazer jus ao propósito), o Prefect teve uma interrupção no seu período de fabricação devido à 2ª Guerra Mundial, entre 1941 e 1945. O Prefect original demonstrava ser uma evolução do 7W, modelo que o precedeu e que se havia tornado no primeiro a ser desenhado pela Ford fora de Detroit (especialmente para o mercado Britânico).
A sua produção teve início em Outubro de 1938, na fábrica da Ford em Dagenham, Essex, sendo posteriormente estendida à Austrália (que em 1939 receberia a designação específica E03A), Nova Zelândia, Argentina, Canada, Letónia, Irlanda, África do Sul e Singapura.
Até 1953 manteve o seu tradicional formato, com a grelha frontal a tudo recordar uma protecção de lareira e os seus faróis assentes nos guarda-lamas dianteiros a tudo invocarem o clássico design do passado.
Possuía um motor de 1,2 litros com sistema de válvulas laterais que debitava cerca de 29 cavalos de potência (o que se assumia como suficiente ou não fosse a carga a operar rondar os 840 quilogramas) com capacidade de ser habilitado de forma manual por manivela caso a bateria não tivesse capacidade suficiente para activar o motor de arranque, ao qual estava acoplada uma caixa manual de três velocidades e um radiador de termocirculação sem bomba. Como os seus similares, o Prefect tornou-se numa base popular para hot rods, particularmente em Inglaterra, com a sua estrutura leve a ser apelativa para o intuito.
A velocidade máxima situava-se ligeiramente abaixo dos 100 quilómetros por hora, com consumos a rondas os 8,5 litros por 100 quilómetros. Os limpa-para-brisas eram operados através do vácuo providenciado pela admissão do motor, o que gera situações como a relatada pelo proprietário, em que nas subidas, com o valor de vácuo a tingir a nulidade, as escovas permaneciam quase imóveis.
Várias foram as gerações que o Prefect conheceu até 1953, com ligeiras alterações ao nível de carroçaria e expansão dos tipos da mesma (passariam a existir versões panelvan e de utilidade) e com os faróis a ser incorporados nas cavas das rodas dianteiras na geração E493A (produzida entre 1949 e 1953), versão à qual é dedicado este artigo. Os estilos de carroçaria mais comuns apresentavam quatro portas (para o mercado interno inglês) e duas portas (para exportação), apesar de alguns tourers e drophead coupes terem sido desenvolvidos.
Em 1953, um muito redesenhado Ford Prefect assumia a nova designação 100E, sendo apresentado juntamente com o similar Ford Anglia (de fácil distinção exterior), e permanecendo em produção até 1959.
O velho chassis de módulos deixava de ser utilizado, substituído por uma construção integral com suspensão frontal independente suplantada por molas em folha e travões hidráulicos de 200 milímetros a serem incorporados. O novo motor de 1,2 litros com válvulas laterias possuía a mesma arquitectura que o anterior, mas continha ligeiras alterações ao nível do mecanismo, o que convertia a taxa de compressão em 7:1 (ao invés da anterior 6,3:1), resultando num incremento de cavalagem na ordem do 20%, alcançando-se agora os 36 cavalos de potência e uma nova velocidade máxima de 114 quilómetros por hora. A geração 100E via também a incorporação de conta-rotações, aquecimento opcional e até porta-luvas com abertura por chave.
Já a última geração do Prefect foi designada de 107E, sofrendo ligeiras alterações estéticas, mas com uma mecânica mais evoluída. Nesta era possível encontrar aplicação do novo motor Ford de 1000 centímetros cúbicos com válvulas à cabeça acoplado a uma caixa de quatro velocidades.
Entre 1938 e 1961 seriam produzidos mais de 400.000 Ford Prefect das mais diversas gerações, permanecendo a noção de um automóvel fiável e robusto pelos padrões da época, capaz de resistir ao ensaio mais de duro de todos, o do tempo, e de capturar olhares atentos ao relógio à ida, e de pensamento em casa à vinda.
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