Clássicos • 16 Nov 2022
Lamborghini Diablo GT2, um dos modelos mais raros da marca de Sant’Agata Bolognese
Apresentado no Salão Automóvel de Genebra de 2003, o Gallardo foi o primeiro veículo de produção da Lamborghini com um motor V10. Logo desde o início, tornou-se um incrível sucesso comercial, alcançando recordes sucessivos de vendas para a Lamborghini. Por ocasião do seu vigésimo aniversário, a Automobili Lamborghini revê a sua história para celebrar o emblemático “baby Lambo”.
Ferruccio Lamborghini sabia que existia um mercado para um Lamborghini “mais pequeno”, e, sobretudo, com um preço e custos de utilização mais baixos – e, no início da década de 1970, encorajou o desenvolvimento do que viria a ser o Urraco, que evoluiu, durante a década de 1980, para tornar-se no Jalpa.
En 1987, a Lamborghini iniciou o desenvolvimento do projeto L140, especificamente para criar um Lamborghini mais compacto. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos vários protótipos, e foram exploradas diversas soluções técnicas, incluindo um motor V8 em primeira instância, e, depois, um motor V10.
Em 1998, após uma cuidadosa reflexão, foi decidido voltar a começar do zero, a partir de uma folha em branco, tomando como base apenas o conceito, as dimensões gerais e a ideia de um motor de dez cilindros: algo nunca antes instalado num automóvel de estrada da Lamborghini.
O novíssimo motor foi fruto do trabalho do engenheiro Massimo Ceccarani, que, após mais de dez anos na empresa, assumiu o cargo de Director Técnico, e de Maurizio Reggiani, que era então responsável pelo desenvolvimento e concepção de motores na Divisão Técnica.
Maurizio Reggiani, Director Técnico da Lamborghini de 2006 a 2022, recorda que “o L140 tinha um motor V10 a 72°, com a caixa de velocidades integrada na zona do cárter, concebido pela Lamborghini, e que não era prático de produzir para o tipo de automóvel em que se pretendia instalá-lo. Para mais, a posição da caixa de velocidades, sob o motor, gerava um centro de gravidada elevado, que não garantiria as caraterísticas de condução e de comportamento que um superdesportivo da Lamborghini deve possuir. Assim, quando iniciámos o projecto, baptizado com o nome de código “baby Diablo”, foi escolhido um V8, e decidiu-se procurar um motor entre os que já existiam no mercado, incluindo o oito cilindros da Audi. Com a subsequente aquisição por parte da Audi, foi decidido produzir um automóvel completamente novo, com um chassis tubular em alumínio e um motor de 10 cilindros, concebido pela Lamborghini, e uma transmissão completamente nova, tanto manual como robotizada”.
O motor instalado no primeiro Gallardo era um V90 DOHC com 4 válvulas, de 5,0 litros e 10 cilindros, que disponibilizava 500 cv. Ao invés da clássica escolha de um V72, favoreceu-se um ângulo de 90 graus para limitar a altura do motor, obtendo-se assim vantagens na configuração do veículo (isto é, um capot mais baixo e melhor visibilidade traseira), e baixando o centro de gravidade, para uma melhor dinâmica. Os intervalos de ignição regulares (que asseguravam a suavidade do motor) foram alcançados, mediante a adopção de “moentes da cambota” com um desvio de 18 graus. Um sistema de lubrificação por cárter seco não só garantia uma lubrificação perfeita, mesmo sob condições dinâmicas extremas, como também permitia baixar ainda mais o centro de gravidade.
Como explica Maurizio Reggiani: “Para que pudesse ser produzido nas quantidades planeadas, o V10 deveria ter um V a 90°, pelo que decidiu-se adoptar um pino dividido, do tipo “split pin”, na cambota, que permitia uma ignição regular, ainda que o cárter tivesse cilindros a 90°. O cárter, que, até então, tinha camisas inseridas, e revestidas a Nikasil, foi revisto e redesenhado pelos engenheiros da Lamborghini, para ser fabricado com uma liga de alumínio hipereutético, que permita que a camisa fosse directamente fundida no alumínio. Tal permitiu que a distância entre os cilindros e, consequentemente, o comprimento do motor, o peso e os custos, fossem reduzidos. Assim nasceu o motor V10 MPI de 5 litros a 90° que foi instalado na primeira série do Gallardo”.
Deste modo, o primeiro V10 era um motor de última geração: 5 litros com lubrificação por cárter seco, duplo veio de excêntricos à cabeça para cada bancada de cilindros, com distribuição variável (4 válvulas por cilindro), e distribuição por correia.
A caixa de velocidades de 6 relações estava equipada com sincronizadores de duplo e triplo cone de última geração, com um sistema de controlo e engrenagem optimizado, e estava localizada atrás do motor, ao passo que a tracção integral utilizava o testado e comprovado sistema VT. Também foi desenvolvido um sistema sequencial robotizado (o Lamborghini e-gear, oferecido como extra opcional nesta versão), que mantinha inalterada a mecânica base da caixa de velocidades.
O chassis estrutural, totalmente em alumínio, tinha por base peças extrudidas soldadas a elementos de ligação fundidos. Sobre este chassis, os componentes externos da carroçaria eram montados com sistemas diferenciados (rebites, parafusos ou soldadura), dependendo da função da peça. Outros componentes externos suspensos (como os pára-choques) eram fabricados em material termoplástico, e unidos mediante pernos.
O projecto de design teve início no ano 2000, a partir de uma proposta inicial da “Italdesign-Giugiaro”, posteriormente optimizada e concluída pelo recém-criado Lamborghini Centro Stile, dirigido por Luc Donckerwolke. A tarefa dos designers, exigente, mas, ao mesmo tempo, fascinante, foi identificar os atributos formais da Lamborghini, e combiná-los numa unidade totalmente individual. As dimensões do Gallardo, e os seus objetivos de performance, proporcionavam-lhe uma aparência atleticamente compacta. A distância entre eixos, e as projecções reduzidas do veículo conferiam-lhe um visual mais dinâmico. Uma parte determinante do emblemático design do Gallardo, que também estava presente no Murciélago, apresentado em 2001, era a forte influência da aeronáutica, visível no habitáculo avançado, integrado na carroçaria do veículo; no pára-brisas de ângulo pronunciado, com pilares tensos; no complexo tratamento das superfícies planas, atravessadas por marcas distintivas; e na orientação dos elementos do sistema de refrigeração, na direcção do fluxo de ar.
Contudo, o que realmente fez o Gallardo destacar-se, quando chegou ao mercado, foi a sua performance, combinada com a facilidade de condução, a fiabilidade e a praticidade numa utilização quotidiana, tanto que até podia ser confortavelmente utilizado como veículo de uso diário.
Em Maio de 2004, o Gallardo iniciou a tradição de serem “doados” automóveis à polícia italiana: os automóveis eram utilizados para fins especiais, como o transporte de órgãos, ou de medicamentos para salvar vidas.
Em 2005, dois anos após o lançamento da versão coupé, a Automobili Lamborghini apresentou o Gallardo Spyder no Salão Automóvel de Frankfurt; não apenas uma versão “descapotável” do coupé, mas um modelo totalmente novo, com um novíssimo sistema de abertura/fecho da capota de lona, que também envolvia o capot do motor do veículo. O Lamborghini Gallardo Spyder também introduziu importantes novos atributos em termos de motor, transmissão e performance. O seu motor de 10 cilindros e 4961 cc disponibilizava, agora, uma potência de 520 cv (382 kW) às 8000 rpm. A caixa de velocidades de seis relações (sempre manual, com a oferta opcional da versão robotizada e-gear) tinha, agora, relações mais curtas, resultando num comportamento mais dinâmico do veículo. Estas novas características do motor também foram introduzidas na versão coupé, a partir do modelo do ano de 2006.
Em 2007, o ano em que a produção do “baby Lambo” superou as 5000 unidades desde a sua apresentação, foi apresentado em Genebra o Gallardo Superleggera. O novo modelo, graças ao aumento da potência de 10 cv, e à redução do peso de 100 kg, era ainda mais dinâmico, alcançando uma relação peso/potência de apenas 2,5 kg/cv. O Superleggera dispunha, de série, de uma caixa de velocidades mecânica, que se tornou numa característica habitual em todas as versões subsequentes, e estava disponível em quatro cores sem custo adicional: Amarelo Midas, Laranja Borealis, Cinzento Telesto e Preto Noctis. O Superleggera possuía inúmeras peças em fibra de carbono, especificamente para alcançar uma importante redução do peso, como o deflector traseiro fixo: um emblemático extra opcional para esta versão, juntamente com os travões carbono-cerâmicos.
No Salão Automóvel de Genebra, em Março de 2008, foi apresentado o LP 560-4, a versão renovada do Gallardo; 20 kg mais leve, equipado com motor V10 de 5,2 litros e 560 cv de potência máxima, com sistema de injecção directa estratificada. Também em 2008, a produção do Gallardo atingiu as 7100 unidades. O Salão Automóvel de Los Angeles, em Novembro desse mesmo ano, assistiu à apresentação da versão descapotável, o LP 560-4 Spyder, com as mesmas especificações técnicas. O novo motor apresentava algumas modificações técnicas significativas e inesperadas, como explica Maurizio Reggiani: “Para a versão posterior (do Gallardo), com motor de 5,2 litros, foi decidido alterar a geometria da cambota, eliminando o ‘split-pin’, e, assim, aceitando uma ordem de ignição irregular, em prol de uma aumentada rigidez da cambota. Também foi adoptada a tecnologia de injecção directa de combustível, que aumentou a eficiência na câmara de combustão, com mais potência e menos poluente”.
Em 2009, com 9000 unidades produzidas, a Automobili Lamborghini apresentou o “Gallardo LP 550-2 Valentino Balboni”. Somente 250 unidades foram fabricadas, caracterizadas por uma solução técnica nunca antes vista neste modelo: 550 cv e tracção traseira. Com inúmeros pedidos por parte dos clientes, o Gallardo LP 550-2 foi, então, fabricado como modelo de produção em série (2010), e numa versão Spyder (2011). Para dar forma ao seu carácter único, nestas versões, os engenheiros de Sant’Agata Bolognese adoptaram a tracção traseira, e reformularam todos os componentes da dinâmica de condução, incluindo molas, amortecedores, barras estabilizadoras e pneus. Dada a variação no fluxo de potência, os ajustes também afectaram a aerodinâmica do veículo. Adicionalmente, o diferencial traseiro foi revisto, e foram realizados importantes ajustes no sistema de controlo dinâmico de estabilidade (ESP).
Em Março de 2010, o Gallardo LP 570-4 Superleggera foi apresentado em Genebra; mais dinâmico, mais leve, mais potente, e ainda mais apelativo. Apresentado com o intuito de dar continuidade ao êxito da versão de 2007 com o mesmo nome, o peso do LP 570-4 foi reduzido em 70 kg por comparação com o do anterior Superleggera, com um motor de 570 cv (419 kW) e uma relação peso/potência reduzida para 2,35 kg/cv. As alterações no exterior foram efectuadas exclusivamente para melhorar a aerodinâmica. Este design incrementou o fluxo de ar para os radiadores, e melhorou o downforce sobre o eixo dianteiro. As modificações nos painéis no piso do veículo, e a utilização de saias laterais, e o novo difusor traseiro em fibra de carbono, contribuíram para melhorar a aerodinâmica. A carga aerodinâmica sobre o eixo traseiro foi equilibrada com a utilização de um deflector traseiro fixo. Em 2010, dois outros automóveis foram apresentados com o mesmo motor: o ainda mais leve LP 570-4 Spyder Performante (uma redução de 65 kg da massa total, por comparação com o LP 560-4 Spyder), bem como o Gallardo LP 570-4 Blancpain Edition, que reunia o espírito competitivo do Super Trofeo com um comportamento perfeito em estrada, e um design exclusivo, inspirado no “Lamborghini Blancpain Super Trofeo”, o campeonato monomarca criado em 2009.
Em 2012, a Automobili Lamborghini apresentou, no Salão Automóvel de Paris, duas versões do modelo atualizado. Estas variantes eram ainda mais arrojadas e extremas: os novos Gallardo LP 560-4 e Gallardo LP 570-4 Edizione Tecnica, representando uma derradeira evolução estilística do primeiro modelo Lamborghini V10.
Em Janeiro de 2013, foi anunciado o desenvolvimento de um novo programa GT3, baseado no Gallardo MY13. Nesse mesmo ano, foi apresentado o Gallardo LP 570-4 Squadra Corse no Salão Automóvel de Frankfurt. Este novo modelo de série limitada, o mais extremo da gama Gallardo, foi inspirado no Gallardo Super Trofeo: o carro que competia no Lamborghini Super Trofeo.
A 25 de novembre de 2013, o último Lamborghini Gallardo saiu da linha de produção da histórica fábrica de Sant’Agata Bolognese. A última unidade produzida foi um Gallardo LP 570-4 Spyder Performante, na cor Rosso Mars.
Ao longo de dez anos de produção, o Gallardo foi produzido num grande número de edições especiais, vendido em 45 países, e, contando as 32 variantes, alcançou um total de 14.022 unidades produzidas. São números que, por direito próprio, convertem o Gallardo num dos superdesportivos mais bem valorizados de sempre, com um lugar assegurado entre os ícones do design e da engenharia automóvel italianos.
Fotografias: Automobili Lamborghini
Clássicos • 16 Nov 2022
Lamborghini Diablo GT2, um dos modelos mais raros da marca de Sant’Agata Bolognese
Clássicos • 05 Jan 2023
Teledyne Continental Cheetah, o que poderia ter sido o Hummer
Clássicos • 03 Ago 2023