Vasco Correa Mendes (1935-2023): Um organizador nato

Competição 09 Jul 2023

Vasco Correa Mendes (1935-2023): Um organizador nato

Por Adelino Dinis

Há uma ditadura bastante brutal nos títulos, sobretudo quando escrevemos sobre alguém tão multi-facetado quanto o Vasco Correa Mendes, que nasceu a 31 de Março de 1935 e morreu ontem, com 88 anos.  

Estudou no Colégio Alemão e preparou-se para trabalhar nas empresas da família, que tinha a representação da Mercedes-Benz em Angola e era também dona da Tofa, empresa que produzia cafés também naquela então província ultramarina.

Vasco Correa Mendes, no Rally das Províncias de 1957, com o seu Mercedes-Benz a gasóleo

Para além da sua atividade profissional, Vasco era um entusiasta do automobilismo. Adorava conduzir e guiava muito bem, mas por motivos familiares ou profissionais, nunca se dedicou a esta atividade como praticante. Pelo menos, não com a intensidade necessária para construir uma carreira enquanto piloto. Mas fez alguns ralis, onde deixou muito boa impressão, sobretudo quando correu com o seu Mercedes-Benz “Ponton” a gasóleo… 

Foi talvez nos primórdios do karting, em meados dos anos sessenta, que se revelou mais assíduo, muitas vezes partilhando o volante com o seu amigo João Arbués Moreira. 

Vasco Correa Mendes, à esquerda, conversa com João Canas Mendes e Francisco Romãozinho, no Rally Internacional da TAP de 1969

Algum tempo depois, passou a integrar a Comissão Desportiva Nacional, entidade de coordenava então as atividades do desporto automóvel em Portugal.
Numa organização bastante elitista e com uma idade média muito avançada, Vasco, juntamente com Eduardo Arbués Moreira, representavam a ala jovem da instituição. 

O deu dinamismo e capacidade de trabalho contribuíram para o desenvolvimento do automobilismo em Portugal e permitiram-lhe estar envolvido no desporto da sua preferência.

Por volta de 1972, foi esta jovem dupla que convenceu os responsáveis da CDN a integrar César Torres na organização.

Regresso com a Volta a Portugal

Depois de algumas décadas mais afastado destas lides, Vasco regressou ao ativo integrado na mais encantadora equipa de organização de que há memória: com Heitor de Morais e Nunes dos Santos, recuperaram a Volta a Portugal do Clube 100 à Hora, num elenco que incluía também João Lopes da Silva e Fernando Garcia e Costa. 

A mítica prova regressou já neste século, exclusivamente para clássicos, e esta equipa de cavalheiros de outra época — com um dinamismo de fazer inveja a muitos jovens — fez dela a jóia das provas de regularidade em Portugal. 

Com o regresso a este mundo dos clássicos, o Vasco voltou a ter interesse em participar em provas. O seu desempenho particularmente ao volante do Volvo PV544 “Marreco” é inesquecível para todos aqueles que o viram passar. Assíduo participante do Rally de Portugal Histórico, só aos 80 anos deixou de participar naquela que permanece a mais dura prova do género em Portugal.

Com Heitor de Morais (esquerda), nos tempos da Volta a Portugal. Aqui em 2003

Continuou a sua atividade organizativa no ACP Clássicos, liderando a equipa na diversificação das provas, sempre com mão firme e aqueles espírito contagiante de que não existem tarefas pequenas ou trabalhos menores. Todos são importantes para o resultado final. 

Mas, para além da sua longa e bem sucedida carreira profissional e a sua paixão pelo automobilismo, cumpre recordar o Vasco Correa Mendes pelas suas qualidades humanas. Sempre disponível para um conselho, muito atento à atualidade e com uma energia contagiante. 

Era aparente para todos também a importância que dava à sua família, sempre atento e presente no quotidiano dos seus netos. 

No dia em que apresentei o livro sobre o Circuito de Cascais, fui almoçar com o Vasco. Vivíamos em plena pandemia e o Vasco queria evitar estar com muitas pessoas. Durante o almoço, dois netos diferentes telefonaram, para conversar e saber do avô. Lembro-me de achar que isto dizia muito do avô, mas também dos netos, que faziam questão de retribuir a sua atenção e carinho.

Ao deixar-nos de repente, quando ainda há uns dias fazia a sua rotina quotidiana, ficamos com um vazio nas nossas vidas. Vamos ter que o preencher com as boas memórias que temos e que, felizmente, são muitas. Eu gosto de pensar que o Vasco, a esta hora, está reunido com os seus amigos do 100 à Hora, a preparar a próxima Volta a Portugal. 

Aos familiares e amigos do Vasco Correa Mendes, a equipa do Jornal dos Clássicos envia as mais sentidas condolências. Um abraço especial para o Pedro Correa Mendes, nosso fundador, parceiro e amigo.

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