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Clássicos • 13 Abr 2023
Pela primeira vez o “The Beast” foi vendido
A ideia do “The Beast” surgiu no final dos anos 60 na mente do engenheiro Paul Jameson, quando adquiriu um motor Meteor da Rover, produzido para tanques de combate, e construiu um chassis para que este pudesse locomover um automóvel acoplado a uma caixa manual.
Jameson acabaria por não concluir o projecto, deixando o automóvel de 700 cavalos sem carroçaria, cabendo ao novo dono, John Dodd, a responsabilidade de “vestir” o automóvel, que passaria então a envergar uma carroçaria em fibra de vidro concebida por Bob Phelps, figura de referência no Drag Racing em Inglaterra. Phelps idealizou o aspeto dramático a partir de um Ford Capri Mk I, apelando à imagem da Rolls-Royce com o uso de capot, grelha e pára-choques de um Corniche.
Dodd, adaptou uma caixa automática Turbo 400 da GM de três velocidades ao The Beast, substituindo a originalmente instalada por Jameson devido à incapacidade deste elemento de lidar com o binário do enorme motor de 12 cilindros.
O The Beast ganhou rapidamente lugar no coração do público europeu. A criação de Dodd cimentou igualmente posição nas páginas do livro do Guiness, à data, sob o título de automóvel de estrada mais potente do mundo. John Dodd testava com frequência os limites do automóvel nas autobahns sem restrição, com o automóvel a rodar confortavelmente nos 300 km/h. Aliás, o proprietário referiu em entrevista à BBC em 1974 que o propósito do The Beast era superar em desempenho todos os outros automóveis, podendo, ao mesmo tempo, funcionar com recurso à gasolina mais barata disponível, um aspecto útil pois o depósito do automóvel tinha uma capacidade de 140 litros.
Durante a viagem de regresso da Suécia, o The Beast teve uma possível fuga de gasolina, deflagrando um incêndio impossível de ser contido, onde as chamas envolveram e consumiram por completo o automóvel. Dodd recusou deixar o The Beast morrer e o chassis foi transportado para Inglaterra, dando-se início a um ambicioso processo de recuperação e melhoramento que se encontraria concluído em 1981.
Um novo motor, desta vez um Merlin de 27 litros de cilindrada do lendário Spitfire foi associado ao chassis, providenciando 850 cavalos. O novo reservatório de óleo passou a contar com uma capacidade de quase 38 litros, os travões e eixo traseiro Currie foram retirados de um Jaguar XJ12 e a suspensão dianteira e caixa de direcção do Austin Westminster. O exterior foi colmatado com jantes Centreline.
Bob Phelps voltou a idealizar uma carroçaria em fibra para o automóvel, desta vez com inspiração no Reliant Scimitar e construída na Fibre Glass Repairs, com portas moldadas a partir do Cortina Mk III. A versão Mk I definia-se certamente como de proporções curiosas, mas possuía igualmente uma determinada elegância inerente a linhas bem definidas e a uma coerência estilística. O The Beast Mk II voltou a incorporar elementos da Rolls-Royce, nomeadamente, a grelha e o icónico emblema Spirit of Ecstasy. Esta insistência de Dodd, contra os conselhos de Bob Phelps, colocou novamente o automóvel na mira da Rolls-Royce. Após disputa em tribunal, o The Beast perdeu a grelha da Rolls-Royce, sendo substituída por um “JD” de grandes dimensões. Dodd iria viver para Málaga, levando consigo o The Beast, fazendo as delícias por onde passava.
Infelizmente, em Dezembro de 2022, John Dodd faleceu aos 90 anos, levando a família a vender o automóvel pela primeira vez na história. No mês de Março foi levado a leilão, através da plataforma da Car & Classic, sendo vendido por 72.500 libras, cerca de 82.500 euros.