Citroën DS, a improvável máquina dos ralis

Competição 10 Abr 2023

Citroën DS, a improvável máquina dos ralis

Por Bruno Machado

Não lhe bastava ser um dos automóveis mais inovadores de sempre, tanto a nível estético como a nível tecnológico, o Citroën DS ainda tinha de ser uma máquina particularmente eficaz nos ralis.

Ainda durante a fase de desenvolvimento, alguns engenheiros da Citroën já vêem o potencial desportivo do sucessor do Traction, e é nessa altura que Paul Coltelloni é convidado para pilotar o futuro DS, a ser apresentado no Salão de Paris de Outubro 1955.

A primeira participação do Citroën DS numa prova desportiva ocorre logo em Janeiro do ano seguinte, no rali de Monte Carlo. Infelizmente, o sucesso desportivo não foi proporcional ao sucesso popular. Só um dos seis DS alinhados é que terminou a prova, no sétimo lugar. E nas raras corridas que se seguem, os resultados teimam em não aparecer.

É precisamente aí que intervém a figura decisiva de René Cotton, prestes a deixar a sua carreira de piloto para uma carreira de dirigente, neste caso da equipa PIF (Paris-Ile-de-France). Cotton convence Coltelloni a participar no rali de Monte Carlo de 1959 pela sua equipa. É nesta prova que os resultados tão esperados acabam por surgir: Coltelloni consegue a vitória na classificação geral ao volante do ID 19… da esposa! No fim do ano, sagra-se campeão da Europa de ralis.

A equipa PIF que, na prática, é uma equipa semi-oficial da Citroën, conta agora com alguns reforços, tais como René Trautmann, Jean Rolland, Lucien Bianchi (tio avô de Jules), Olivier Gendebein ou ainda Pauli Toivonen (pai de Henri). Pilotos esses que conquistam várias vitórias e campeonatos: Trautmann é vice-campeão da Europa em 1960 e vice-campeão de França em 1963, Bianchi é campeão da Bélgica em 1963 e 1964, Toivonen campeão da Finlândia em 1962. O Citroën DS já é uma máquina ganhadora!

A participação do DS em provas desportivas (por vezes numa configuração praticamente de série, outras vezes com alterações mais significativas, como um chassis curto) permite ainda demonstrar a sua robustez junto do público, sobretudo depois dos problemas de fiabilidade iniciais. Assim, podemos referir o Tour de Corse de 1961, disputado sob uma violenta tempestade de neve em que os DS de Trautmann e Bianchi são os únicos ainda em prova quando esta é interrompida; o rali Liège-Sofia-Liège de 1961 vencido por Lucien Bianchi; ou ainda o East African Safari de 1965 em que dos 90 participantes iniciais, apenas 17 terminam a prova, dos quais cinco Citroën DS (nove no início); não esquecendo ainda a maratona do Londres-Sydney de 1968 em que Lucien Bianchi tinha corrida praticamente ganha, quando a poucos quilómetros do fim da penúltima etapa, o DS 21 sofre um acidente com um Mini de um condutor local alheio à prova.

São de referir ainda as vitórias de Toivonen em Monte Carlo, em 1966, a de Francisco Romãozinho no rali de Portugal em 1969, ao volante de um ID 20 e as três vitórias consecutivas em Marrocos entre 1969 e 1971, ano em que a equipa perde o seu director, René Cotton, vítima de cancro. A sua esposa, Marlène Cotton sucede-lhe na direcção da equipa, que entretanto se transformara em departamento de competição da Citroën em 1965.

A última vitória do DS surge em 1974, em mais uma maratona automóvel, o Wembley-México, com o australiano André Welinski ao volante de um DS 23, sendo a edição 1975 do rali de Marrocos a última corrida oficial do DS, que termina assim uma brilhante carreira desportiva iniciada em 1956.

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