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Por Tiago Nova
O Mercedes-Benz T80 é um automóvel de seis rodas, desenvolvido e desenhado por Ferdinand Porsche para a Mercedes-Benz. Foi construído com o intuito de bater o recorde mundial de velocidade, mas nunca o chegou a bater, devido ao despoletar da Segunda Guerra Mundial.
Os anos 30 foram uma época onde apareceram grandes inovações tecnológicas e o crescimento industrial estava no seu melhor momento de sempre. As maiores potências mundiais competiam entre si pela melhor capacidade técnica e inventiva. Foi nesta década que o desporto automóvel mais evoluiu e havia uma “guerra” dentro a própria Alemanha pela melhor marca, entre a Mercedes-Benz e a Auto-Union. Tanto nos Grand Prix como nos recordes de velocidade, estas marcas mediram forças e construíram as mais belas máquinas daquele tempo, conhecidos como Silver Arrows.
Um dos grandes sonhos do piloto alemão Hans Stuck, era bater o recorde de velocidade e ele convenceu a Mercedes-Benz a fazer um automóvel para esse efeito. Oficialmente aprovado por Adolf Hitler (um grande fã de corridas de automóveis, influenciado por Stuck), o projecto iniciou-se em 1937, enquanto o regime Nazi estava no seu auge. O designer automóvel, Dr. Ferdinand Porsche, tinha traçado o objectivo de alcançar os 550km/h, mas após o sucesso dos recordes de George Eyston e John Cobb em 1938 e 1939, respectivamente, o objectivo foi aumentado para os 600km/h. No final de 1939, quando o projecto estava terminado, o objectivo foi mais uma vez alargado, para os 750km/h. Isto também constituía a primeira tentativa de recorde absoluto de velocidade em solo alemão. Hitler visionava outro triunfo para a Alemanha com o T80, pois constituía uma superioridade tecnológica que ia ser testemunhada pelo mundo inteiro. A Autobahn era o percurso ideal para bater o recorde, pois já tinha provado ser eficaz, embora numa classe inferior, com o MG 1500 do britânico Goldie Gardner, que alcançou os 320 km/h. Hitler não fez a coisa por menos, dotou o programa do T80 com o dobro do dinheiro que tinha disponibilizado para as equipas de Grand Prix da Mercedes-Benz e da Auto Union.
O massivo motor-propulsor seleccionado para o T80 era o Daimler-Benz DB 603 invertido, um motor V12 de 44,5 litros de cilindrada e de injecção mecânica de combustível. O motor viu a sua cilindrada aumentada, pois derivava do famoso motor de aviões DB 601 que equipava os Messerschmitt Bf 109, uma das aeronaves mais letais do temido esquadrão aéreo Luftwaffe. O DB 603 era o motor invertido V12 com maior cilindrada em produção na Alemanha durante os anos da Segunda Guerra Mundial. O DB 603 montado neste automóvel, era somente o terceiro protótipo (V3) desta variante e viu a sua potência aumentada para os 3000 cv, praticamente o dobro da potência do Bf 109 ou do Supermarine Spitfire. O motor trabalhava com uma mistura especial de álcool metílico (63%), benzeno (16%), etanol (12%), acetona (4.4%), nitro-benzeno (2.2%), avgas (gasolina de aviação, 2%), e outros (0.4%), com injecção de água-metanol (MW) para arrefecimento e evitar a auto-ignição. A potência era transmitida para as quatro rodas traseiras, através de um conversor de binário hidráulico com uma única velocidade. Para manter a tracção, o T80 tinha um dispositivo mecânico “Anti-Spin Control”, ou seja, evitava o patinar das rodas. Este dispositivo quando detectava que havia rodas a rodar mais depressa que outras, diminuía a quantidade de combustível que ia para o motor, como uma espécie de controlo de tracção da era moderna.
Em 1939, o T80 estava completo com um custo de 600,000RM. O resultado era um automóvel de oito metros de comprimento, três eixos, com dois deles motrizes e um direccional e com um peso de quase três toneladas, 2.896kg mais propriamente.
A carroçaria em alumínio tem uma excelente aerodinâmica, projectada por Josef Mickl, projectista especialista em aviões e aerodinâmica. Aerodinamicamente, o T80 incorporava um cockpit desenhado por Porsche, um capot bastante baixo, abas redondas para albergar as rodas e uma traseira longa. A meio da carroçaria estão duas pequenas “asas” que dão mais força descente e asseguram estabilidade, estas asas foram inspiradas nos RAK da Opel, de 1928. A carroçaria tem ainda duas caudas onde alberga as rodas traseiras. Alcançou um coeficiente aerodinâmico de apenas 0,18, um número surpreendente para qualquer veículo, mesmo nos dias de hoje.
Como ambiciosamente planeava, Hans Stuck seria o condutor do T80 ao longo de um troço especial da Reichsautobahn Berlim – Halle / Leipzig, que passava a sul de Dessau, agora parte da moderna Autobahn A9, entre as saídas 11 e 12, pois tinha 25 metros de largura e quase 10 km de comprimento, com o meio pavimentado para a Dessauer Rennstrecke, a pista de Dessau. A data para a “RekordWoche”, a semana do recorde, foi marcada para Janeiro de 1940, mas a guerra começou no dia 1 de Setembro de 1939, impedindo assim, que o T80 batesse o recorde. Em 1939, o automóvel recebeu de Hitler a alcunha de “Schwarzer Vogel”, Pássaro Preto e era para ser pintado nas cores nacionalistas da Alemanha, completado com a Águia Alemã e a Suástica Nazi, mas como o evento foi cancelado, o T80 foi guardado e nunca chegou a rolar.
Após a Guerra, John Cobb conduziu o Railton Mobil Special a uma velocidade recorde de 634 km/h, em 1947, uma velocidade que era 116 km/h mais lenta que os 750 km/h para o qual o T80 tinha sido projectado. Foi preciso esperar até 1964, para Art Arfons chegar aos 875 km/h no Green Monster movido a motor a jacto, para superar a velocidade objectivo do T80. Em 1965 foi atingida a velocidade de 658 km/h pelo Goldenrod American com quatro motores Chrysler Hemi, que ainda continua a ser o recorde de velocidade para um veículo movido por motores a pistão, não-sobrealimentado e com a potência transmitidas para a rodas e não por impulso a jacto. O motor do T80, o DB 603, possuía um compressor centrífugo accionado mecanicamente, ou seja, o T80 seria classificado numa categoria diferente do Goldenrod. Nenhum veículo chegou à velocidade projectada do T80, com a transmissão de potência às rodas, até 2001, quando Don Vesco atingiu os 737.788 km/h no seu Turbinator com motor de turbina de gás, em Bonneville.
O motor DB 603 foi subsequentemente removido durante a Guerra, enquanto o chassis foi guardado num local seguro em Karnten, na Áustria. O T80 sobreviveu à Guerra e foi para o museu da Mercedes-Benz em Estugarda para exposição permanente, onde permanece hoje mas sem a componente mecânica.
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