Clássicos • 26 Jan 2023
Škoda 1100 OHC: Um corredor dos anos 50 que chegava aos 200 Km/h
Por Pedro Fernandes
Em 1959, o bom gosto italiano, a criatividade britânica e o músculo americano aliaram-se num conjunto de esforços que, eventualmente, resultaria num dos fascinantes automóveis mais raros de sempre, o Gordon-Keeble GT, um dos melhores e (paradoxalmente) menos conhecidos grand tourers da década de 60.
Jim Keeble, engenheiro automóvel e piloto de competição, proprietário de uma oficina em Ipswitch, trabalhara no Chevrolet Corvette do piloto da Força Aérea Americana Rick Neilson, destacado na base aérea RAF Bentwaters, travando amizade com o aviador ao longo do processo. Este acaba por desafiar Keeble para a construção de um híbrido, colocando um V8 da Chevrolet num chassis da Peerless com vista a uso em competição. O automóvel foi planeado e construído, tendo subsequentemente alcançado sucesso na missão para a qual fora idealizado: exercer superioridade em pista. O sucesso da aventura despertou interesse adicional em Keeble e Neilson, os quais consideraram a possibilidade de obter sucesso comercial com a produção de um grand tourer moderno, equipado com a mais recente tecnologia desenvolvida em competição, mas também luxuoso, dotado dos melhores acabamentos e impulsionado pelo motor capaz do Corvette.
Motivado pelo desejo de criar um automóvel que preenchesse estes moldes, Keeble contatou John Gordon, então Diretor-gerente da Peerless Cars, uma construtora britânica de curtíssima duração, a qual aliava carroçarias de fibra de vidro a chassis tubulares e componentes mecânicos do Triumph TR3. Gordon percecionou mérito no conceito exposto por Keeble, acabando mesmo por abandonar a Peerless em 1959 (a qual viria a falir no ano seguinte) para formar “The Gordon Automobile Company”, no mesmo ano, em associação com Jim Keeble.
As carroçarias em fibra de vidro do futuro Gordon-Keeble GT, o qual manteve a total integridade da visão de Giugiaro, viriam a ser elaboradas pela William & Pritchard em Inglaterra, companhia de renome na transformação daquele tipo de material. Os interiores dos GT revestiam-se de detalhes (então) luxuosos, tais como o facto de serem equipados com vidros elétricos, caraterística à data ainda incomum em automóveis europeus.
A quando do início da comercialização, o maior problema com o qual o GT se deparava era o preço. Por um lado, demasiado alto; as 2.798 libras exigidas por um Gordon-Keeble pareciam excessivas quando comparadas às 2.250 que a Jaguar cobrava por um E-Type, o grande sucesso de vendas que provou que um automóvel extraordinário não necessitava de ser acessível apenas aos super ricos. Por outro, o preço do GT era baixo demais para manter a Gordon-Keeble à tona, não dando resposta às necessidades financeiras da produção, a qual se encontrava também frequentemente limitada por questões crónicas de incumprimentos de prazos por parte de fornecedores. Sublinhe-se que o GT era 1.400 libras mais barato que um Aston Martin e metade do preço de um Ferrari.
Até 1967, 99 automóveis foram produzidos, com uma unidade adicional concluída a partir de peças extras, elevando o número de Gordon-Keebles a um agradavelmente redondo 100. A companhia fora adquirida em 1965 a John Gordon (já após a saída de Jim Keeble) por Harold Smith e Geoffrey West, sendo re-designada “Keeble Cars Ltd.”. Smith fora representante da marca, sendo um amante devoto do GT, pelo que procurou manter a produção destes automóveis nos mesmos moldes, até 1967 quando a Keeble Cars cessa também atividade. Em 1968, um empresário estadunidense chamado John de Bruyne adquiriu o que restava da companhia, construindo dois protótipos baseados no GT; esta segunda tentativa de ressurgimento ainda figurou no Salão de Nova Iorque de 1968, mas sem sucesso, o que não surpreende pois as poucas alterações que de Bruyne introduziu no design original de Giugiaro (a maioria das quais através do lápis do cunhado, o ilustrador Peter Fluck), constituem as piores opções possíveis, desfigurando o extraordinário automóvel. Note-se, por exemplo, a inclusão desconcertante de farolins do Ford Zephyr MkIV.
Reportadamente, 95% dos Gordon-Keeble GT produzidos ainda existem, com o preço para exemplares em excelente condição a estabelecer-se muito ligeiramente acima dos 130.000 euros, embora a média se situe bastante mais abaixo, nos 95.000. Objetivamente, uma soma elevada, mas comparativamente aos valores de automóveis do mesmo escalão/período como os Aston Martin DB4, os preços dos Gordon-Keeble são quase irrisórios. A esta situação deve-se, é claro, o facto de não serem produto de uma companhia com um longo historial, não possuírem uma motorização própria e pelas belas linhas de Giugiaro serem exibidas em fibra, ao invés de aço ou alumínio. Contudo e mesmo atendendo a essas limitações, é impossível não sentir que os dinâmicos e belíssimos Gordon-Keeble permanecem subvalorizados e recolhidos a uma obscuridade não merecida.
Créditos das imagens: The Hairpin Company; Bonhams
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