A exclusividade da obscuridade: Cinco raros desportivos britânicos dos anos 60 e 70 (Parte IV)

Clássicos 13 Mar 2023

A exclusividade da obscuridade: Cinco raros desportivos britânicos dos anos 60 e 70 (Parte IV)

Por Pedro Fernandes

Herdeiro do potencial de um sonho que ganhou forma num pequeno quintal, o Gilbern Invader provou de modo conclusivo que um automóvel de um pequeno fabricante, com motorização alheia, sendo desportivos e raros ainda se pode definir como uma das mais interessantes criações da sua era.

A Gilbern nasceu no Sul do País de Gales por iniciativa de Giles Smith, um talhante com a ambição de construir um automóvel único e especial; um modelo desportivo para uso próprio, com carroçaria de fibra de vidro. Por um simples acaso, em nada relacionado com automóveis, Smith travou conhecimento com Bernard Friese, um engenheiro e prisioneiro de guerra alemão que casara e se estabelecera em Inglaterra no pós-Segunda Guerra Mundial, trabalhando para um fabricante de carroçarias. Os dois homens acabaram por solidificar uma amizade que passou a incluir discussões em redor do automóvel idealizado por Smith. A algum ponto, chegaram ao entendimento que juntos poderiam, de facto, realizar as ambições de Giles.

O trabalho decorreu, ao longo da maioria do tempo, num anexo do pequeno quintal situado nas traseiras do talho de Smith. Aliás, o espaço no local era de tal modo esparso que, quando o automóvel foi terminado, uma árvore necessitou de ser cortada para que o pudessem retirar. Corria o ano de 1959 e o Gilbern (Gil de Giles + Bern de Bernard) GT encontrava-se pronto para ser apresentado ao mundo.   



A primeira apreciação que Giles e Bernard solicitaram foi a de Peter Cottrell, um piloto amador local. Cottrell testou o automóvel, ficando tão bem impressionado com o que Smith e Friese tinham conseguido, que se viria a tornar no primeiro cliente da Gilbern, após pressionar Giles e Bernard para que não deixassem o GT ser apenas um exemplar único.

Giilbern Invader MkII Estate 2
Giilbern Invader MkII Estate 3
Giilbern Invader MkII Estate 4
Giilbern Invader MkII Estate 5
Giilbern Invader MkII Estate 6
Giilbern Invader MkII Estate 7
Giilbern Invader MkII Estate 8
Giilbern Invader MkII Estate 9
Giilbern Invader MkII Estate
Giilbern Genie 2
Giilbern Genie 3
Giilbern Genie
previous arrow
next arrow
Giilbern Invader MkII Estate 2
Giilbern Invader MkII Estate 3
Giilbern Invader MkII Estate 4
Giilbern Invader MkII Estate 5
Giilbern Invader MkII Estate 6
Giilbern Invader MkII Estate 7
Giilbern Invader MkII Estate 8
Giilbern Invader MkII Estate 9
Giilbern Invader MkII Estate
Giilbern Genie 2
Giilbern Genie 3
Giilbern Genie
previous arrow
next arrow


A produção da primeira série de automóveis teve início no mesmo diminuto quintal onde o protótipo fora concebido e montado. Os Gilbern GT eram vendidos e entregues sem motor e sem caixa de velocidades, os quais (entre outros componentes como o escape e jantes) eram responsabilidade dos proprietários. Ao adquirir o GT na mesma dinâmica de um kit car, embora muito mais refinado, os compradores evitavam os significativos impostos então colocados sobre a aquisição de um novo automóvel.

Em 1966, a Gilbern estreou um novo modelo, o Genie, um GT 2+2 mais luxuoso que o modelo que o precedeu, baseado na mecânica do MGB, com carroçaria de fibra de vidro sobre um chassis tubular. O Gilbern Genie podia ser adquirido com uma de duas versões do infinitamente adaptável Ford V6 Essex: a de 2,5 ou de 3,0 litros, com a maioria dos automóveis desta série a serem equipados com carburadores Weber duplos, embora alguns contassem já com sistemas de injeção. Reportadamente, 197 Genies foram construídos, ficando aquém do GT, do qual foram vendidas quase 300 unidades.

Em 1969, surge o terceiro modelo da companhia: o Gilbern Invader. Mantendo o design do Genie mas providenciando melhorias significativas, nomeadamente um chassis reforçado, travões de maior dimensão, suspensão adaptada do MGC e interiores atualizados para apelar a um cliente mais exclusivo, o Invader podia ser até adquirido numa atraente versão “estate“, um shooting break à semelhança da Lynx Eventer e da Volvo P1800ES. Produzido ao longo de três evoluções, o Mk I em 1969, MkII em 1970 e MkIII em 1972, a versão mais interessante é precisamente a última, com o MkIII a constituir uma notável evolução estética em relação às anteriores incarnações do Invader.

A terceira série do modelo continuava a contar com a mecânica da Ford, então com uma nova suspensão baseada na do recentemente (1970) lançado Cortina MkIII, mantendo-se o departamento da motorização a cargo do V6 Essex. No entanto, em termos do design, os moldes da carroçaria foram refeitos, introduzindo alterações que tornaram o Invader num dos automóveis mais atraentes da década. O Genie que o precedera já devera imenso ao gosto italiano, nomeadamente a inspiração claramente bebida nos Giulia Coupés (Sprint GT 105). Contudo, o Invader leva essa inspiração mais além, incorporando fortes influências do Fiat 124 Coupé e do Lancia Fulvia, tornando-se mais angular, mais baixo, mais agressivo. A grelha frontal reduz-se de um tamanho e formato demasiado próximos aos do Morris 1100, permitindo a colocação do para-choques numa posição mais elevada, dando ao Invader MkII uma “face” mais esbelta e moderna, truque aplicado na perfeição pela Gilbern e com o qual poderá até, possivelmente, ter aprendido a Jaguar, visto a companhia ter dado tratamento semelhante à Serie II do seu popular XJ em 1973, concretizando um dos facelifts mais bem-sucedidos da história automóvel. Em suma, e recorrendo ao cliché, o Invader MkIII é maior que a soma das suas partes, tomando diversas influências e refinando-as a uma fórmula inegavelmente própria, na qual se torna improvável conseguir apontar uma opção estética que não seja a melhor possível, um feito extraordinário para a pequena construtora com uma mera década de história.

Apesar de ter o modelo certo, com a aspeto certo e motorização certa, o Invader MkIII não ancorou o início uma nova fase de afirmação e crescimento para a Gilbern. Em 1968, mesmo antes do início da produção do Invader (MkI), Giles e Bernard venderam a companhia a uma empresa com investimentos em diversos ramos. Em 1972, a Gilbern seria vendida novamente, então por apenas uma libra, reflexo das dívidas acumuladas de quase 100.000 libras. No mesmo ano, a produção da companhia era de apenas quatro automóveis por semana, um ritmo insuportavelmente baixo. Em 1974, a Gilbern, uma de (até ao momento) apenas três companhias de fabrico de automóveis sediadas no País de Gales, encerrou.

Correntemente, um Invader MkIII em ótimas condições pode ser adquirido, no Reino Unido, pelo equivalente a menos de 15.000 euros, definindo este modelo como um dos últimos clássicos interessantes da década de 70 que permanecem acessíveis.

Giilbern Invader MkIII 2
Giilbern Invader MkIII 3
Giilbern Invader MkIII 4
Giilbern Invader MkIII 5
Giilbern Invader MkIII 6
Giilbern Invader MkIII 7
Giilbern Invader MkIII 8
Giilbern Invader MkIII 9
Giilbern Invader MkIII 10
Giilbern Invader MkIII 11
previous arrow
next arrow
Giilbern Invader MkIII 2
Giilbern Invader MkIII 3
Giilbern Invader MkIII 4
Giilbern Invader MkIII 5
Giilbern Invader MkIII 6
Giilbern Invader MkIII 7
Giilbern Invader MkIII 8
Giilbern Invader MkIII 9
Giilbern Invader MkIII 10
Giilbern Invader MkIII 11
previous arrow
next arrow



Créditos das imagens: Classic Car Auctions, Bonhams e Car and Classic.

Classificados

Deixe um comentário

Please Login to comment

Siga-nos nas Redes Sociais

FacebookInstagramYoutube