Clássicos • 11 Jun 2014

Personagens charmosos de filmes europeus e americanos às vezes utilizam carros vintage no dia-a-dia. Isso é relativamente comum na Europa e nos Estados Unidos. Confere distinção a artistas, intelectuais, empresários de sucesso ou mesmo anônimos, interessadas em marcar um estilo próprio.
No Brasil, é raro alguém tirar um carro antigo da garagem – a não ser para participar de encontros e exposições. Há quem não os tire nunca. As “raridades” são guardadas a sete chaves, protegidas da curiosidade alheia. Seus proprietários não dividem com mais ninguém o prazer de vê-las rodando.
Exagero. Carro antigo é como uma pessoa idosa – tem de se exercitar. Parado, “estraga” mais do que em uso. Mas, claro, em um trânsito selvagem como o nosso, muitos proprietários temem danificar o veículo num acidente. Ao contrário do que acontece no exterior, por aqui as peças são caras e difíceis de encontrar. E a mão-de-obra especializada, ainda mais rara.
Mesmo assim, há quem goste de dirigir diariamente um veículo de mais de 30 anos. Em Porto Alegre, no Sul do Brasil, onde vivo, um conhecido empresário da noite circula há décadas com carros antigos. Tem vários. Seu preferido é um Karmann Ghia preto, conversível, que comprou zero quilômetro. O empresário – que não tem carro “contemporâneo” – faz mais de 70 quilômetros por dia em automóveis vintage. Já se tornou uma figura reconhecida por onde passa. É seu marketing.
As vantagens de rodar em um automóvel “de época” são muitas. Um carro nacional dos anos 1960/70 geralmente custa bem menos do que um modelo actual da mesma categoria. E não paga mais IPVA (imposto de circulação). O risco de roubo é pequeno (o que dispensa os caríssimos seguros), porque os exemplares são bem conhecidos no meio antigomobilista, e suas peças não interessam mais para os desmanches. Além disso, enquanto os modelos contemporâneos se depreciam a cada novo lançamento, o carro antigo valoriza à medida que “envelhece”.
Quem roda com carro antigo, porém, deve estar disposto a abrir mão, eventualmente, de confortos como ar condicionado, direção hidráulica, injeção eletrônica ou vidros elétricos (equipamentos dificilmente encontrados originalmente nesses veículos), e manter em casa um bom estoque de peças de reposição.
Pese prós e contras e decida se vale a pena investir num old car para uso diário. Pode não ser tão prático quanto um novo. Mas certamente ninguém ficará indiferente ao seu clássico quando você parar no semáforo ou no posto para abastecê-lo.
Fotografias: Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.