70mm: Rush (2013)

Clássicos 23 Jan 2023

70mm: Rush (2013)

Por António Almeida

Niki Lauda Vs. James Hunt, uma das rivalidades mais míticas da Fórmula 1. Rush traz ao grande ecrã a evolução das carreiras de ambos, desde a origem na Fórmula 3 até à extasiante época de 1976.

O início do filme leva-nos directamente para a grelha de partida em Nürburgring no dia 1 de Agosto de 1976. Sem dúvida um dos melhores momentos de todo o filme. Um monologo de Niki Lauda, interpretado por Daniel Bhrül, acompanha a captura cinemática dos últimos momentos antes da partida, que é suficiente para fazer o sangue de qualquer entusiasta ferver.

Voltando ao início das carreiras, Ron Howard tenta recriar a as raízes da rivalidade, a diferença entre as personalidades dos dois pilotos torna-se completamente evidente. James Hunt, o playboy incorrigível com uma atitude negligente dentro de pista e Niki Lauda o profissional responsável que calcula todos os seus movimentos.

O talento de ambos era evidente, seria apenas uma questão de tempo até conseguirem chegar à Fórmula 1.

Hunt já nessa altura ao serviço da Hesketh Racing, uma equipa pertencente ao Lorde Alexander Hesketh. Juntamente com a equipa, Hunt deu o salto para a Fórmula 1, levando à mais alta competição o estilo de vida exuberante pelo qual eram conhecidos. Champanhe, lagosta e caviar servidos numa atmosfera de festa nas boxes. Contrastava com o profissionalismo das outras equipas, este grupo acabou por cunhar a famosa frase, “Sex, Breakfast of Champions” que adornava o fato de Hunt.

Do outro lado Lauda, apesar de pertencer à elite austríaca, teve de adoptar uma estratégia diferente. Contra os desejos da família, pediu um empréstimo e contactou uma equipa em dificuldades financeiras que cumprisse as suas exigências, neste caso a BRM, onde o seu talento a configurar o automóvel o destacou. Quando o seu colega de equipa, Clay Regazzoni voltou à Ferrari em 1975 recomendou que contratassem Lauda.

Dado o seu talento a configurar os modelos, logo nos primeiros testes em Fiorano, descobre as grandes falhas na configuração do Ferrari 312. É neste momento que as linhas de ficção e realidade parecem cruzar-se. Lauda na realidade disse directamente a Piero, filho de Enzo, no momento o tradutor do seu pai, “The car is shit!” Enzo prometeu resolver os problemas do veículo com a condição que Lauda teria de bater o seu tempo em Fiorano por cinco décimas, caso contrário era despedido. Sagrou-se campeão do mundo em 1975 e a Scuderia Ferrari conquistou o seu terceiro título de construtores. Estes pequenos pormenores são o que elevam esta película a um nível de exactidão fantástico, a atenção ao detalhe e aos factos históricos estão presentes ao longo de todo o filme.

Com problemas financeiros a Hesketh abandonou o desporto na época de 1976, Hunt sem equipa, conseguiu substituir Emerson Fittipaldi na McLaren. Actualmente esta época ainda é recordada como uma das mais turbulentas em toda a história do desporto, por várias razões desde acidentes, desclassificações e decisões políticas após as provas. Sendo o marco principal, o acidente de Lauda no “Inferno Verde”, é de salientar que esta cena foi filmada no circuito de Nürburgring, exactamente no mesmo local, sendo recriada da forma mais realista possível.

Lauda sofreu queimaduras bastante graves ficando parcialmente desfigurado, as mais graves foram causadas pelos vapores tóxicos inalados, que lhe danificaram os pulmões. Mas a força de vontade de se manter na corrida ao campeonato era mais forte.

Apenas seis semanas depois, ainda em recuperação, Lauda voltou à pista no Grande Prémio de Itália onde conseguiu reclamar o quarto lugar. Este regresso foi uma surpresa para todos, incluindo para a Ferrari que já tinha contratado um substituto para Lauda, Carlos Reutemann. O desfecho da temporada e decisão do campeonato dá-se em Fuji debaixo de chuva torrencial, com Hunt sagrar-se Campeão do Mundo de Fórmula 1.

É uma história fascinante, em que muitos dos pormenores dão a sensação de embelezamento e ficção, mas são pura realidade do que se passou à época, sendo muitas vezes retratados com alguma suavidade. Segundo Niki Lauda o filme está 80% correcto, apenas aponta o facto de ter sido representado como um indivíduo demasiado sério mas, na realidade, também se divertia e convivia com todos os pilotos. Nas suas palavras, “na altura a hipótese de perecer num acidente durante a época de Fórmula 1 era enorme, por isso tínhamos de viver o máximo possível quando estávamos fora da pista”, a rivalidade fora de pista foi exagerada para efeitos dramáticos.

Na realidade Lauda e Hunt eram bons amigos, chegando a partilhar um apartamento em Londres e a beberem juntos depois das corridas. Mais tarde quando Hunt perdeu a sua fortuna em maus investimentos e se rendeu ao alcoolismo, Lauda e Bernie Ecclestone ajudaram-o na sua recuperação. Até à sua morte Hunt era completamente saudável e o ataque cardíaco tomou todos de surpresa.

Ao apoiar a sua criação no realismo do desporto, utilizando os automóveis de corrida originais, mantendo as imagens geradas por computador a um mínimo e com o feedback de peritos, Ron Howard conseguiu a mistura perfeita de drama e realidade, algo que raramente acontece num filme sobre competição. Rush é indubitavelmente um dos melhores filmes de competição alguma vez feito, vale a pena ver e rever.

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