Como a Lotus invadiu a Fórmula Indy com a ajuda de Dan Gurney

Arquivos 08 Jan 2023

Como a Lotus invadiu a Fórmula Indy com a ajuda de Dan Gurney

Imaginem o Lewis Hamilton a ajudar a Red Bull a construir um automóvel para participar na Indianápolis 500 e fazer as apresentações necessárias para a equipa conseguir um fornecedor de motores. Embora isto possa parecer impensável nos dias de hoje foi o que aconteceu, há mais de 60 anos, com Dan Gurney e a Lotus.

O piloto americano Dan Gurney nunca tinha participado na prova mais famosa do EUA, a Indy 500 e, em 1962, ele decidiu tentar a sua sorte e participar pela primeira vez.

Na sua estreia Dan Gurney participou em nome do seu compatriota Mickey Thompson num Harvey Aluminum Special. Este roadster estava equipado com um motor V8 Buick na posição traseira, ao contrário da maioria dos seus oponentes. Apesar de ser pouco potente, em comparação aos outros veículos, o piloto conseguiu se qualificar em oitavo lugar.




Quando o chefe da Lotus, Colin Chapman, revelou o Lotus 25 no Grande Prêmio da Holanda, e o seu design elegante e revolucionário chamou a atenção de toda a gente, Gurney que estava a participar pela Porsche, também não ficou indiferente.

O Lotus 25 que foi esboçado, inicialmente, por Chapman num guardanapo foi o primeiro carro de Fórmula 1 a usar um chassis em monocoque. Como o modelo tinha sido produzido a partir de uma caixa assemelhava-se a uma canoa de metal, era mais rígido e muito mais leve que qualquer outro projecto de Chapman até aquele momento. Depois de presenciar a performance do modelo no circuito Gurney teria dito a Chapman, “Se alguém usasse este automóvel para a Indy 500 podia ganhar a corrida”.


Depois do Grande prémio da Holanda Gurney contactou o chefe da Lotus e perguntou-lhe se ele gostaria de ver uma prova da Indy 500. O piloto americano chegou a pagar o bilhete de avião a Chapman, que se encontrava bastante reticente em ir. Gurney acabou por ter de se retirar da corrida devido a problemas no motor.

Este facto não foi importante pois Gurney tinha conseguido que o engenheiro inglês ficasse interessado neste novo desafio. Nos olhos de Chapman, a Indy 500 encontrava-se muito atrasado em comparação às técnicas usadas na Fórmula 1 e a grelha era composta por modelos primitivos com motor na posição dianteira e que seria um palco fácil de “conquistar”.


Chapman era conhecido por seguir o dinheiro e durante a sua estadia nos EUA reparou que os concorrentes da Indy 500 conseguiam arrebatar uma soma considerável e que o vencedor de 1962 tinha ganho 125 mil dólares, que nos dias de hoje seriam 1.16 milhões de dólares. Esta quantia de dinheiro era mais do que a equipa Lotus receberia numa temporada de Fórmula 1.

Mas se Chapman quisesse ganhar uma quantia substancial primeiro teria que encontrar alguém para patrocinar o esforço da Lotus. Devido a uma maré de sorte os executivos da Ford, Don Frey e Dave Evans, estavam presentes na prova em 1962. A dupla concluiu que participar na prova e, idealmente, ganhar podia ser uma mais valia para a marca e ambos reconheciam o talento de Gurney.

Depois do Grande Prémio do Reino Unido, Gurney e Chapman reuniram-se na sede da Ford, em Michigan. O engenheiro britânico foi considerado arrogante e desdenhoso quantos às tradições da Indy 500, mas o notoriamente diplomático Gurney fez com que a Ford se interessa-se novamente no projecto.

Na altura, a Ford já estava a desenvolver um motor V8 para a Indy. O grupo elaborou um plano para usar este motor nos novos modelos da Lotus, com Gurney atrás do volante e Jim Clark como segundo piloto.


A Ford conseguiu extrair 365 cavalos do seu motor V8 e a Lotus refinou o Lotus 29 que seria usado para competir, que comparado com a versão de Fórmula 1 era mais pesado. Todos os esforços feitos pelas duas marcas compensou e nas primeiras sessões de treino o Lotus 29 conseguiu a segunda volta mais rápida alguma na história da Indy 500.


Superados pelos automóveis com motores na posição dianteira os dois automóveis da Lotus conseguiram se qualificar com Clark em sétimo lugar e Gurney em décimo sétimo.

Muitos sentiram que o segundo lugar de Clark foi injusto pois o eventual vencedor americano, Parnelli Jones, não recebeu a devida punição pelo seu automóvel ter vazado óleo. No entanto, o segundo lugar ainda arrebatou uma quantia substancial.

Apesar do aparente sucesso Gurney não se sentia completamente confortável. A opinião geral, dentro da comunidade Indy, ressentia a Ford por apostar numa equipa que não era americana, e os resultados de Gurney também não ajudavam. Em 1964, Gurney teve de desistir devido a um problema nos pneus e em 1965, enquanto Clark teve sucesso, o motor do piloto americano só conseguiu aguentar até ao quilómetro 160.

Mas nem tudo correu mal para Gurney e o piloto conseguiu usar o que ganhou na Indy para estabelecer a sua própria equipa, a All American Racers, que obteve bastante sucesso.

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