Automobilia • 20 Jan 2020
“Ferrugem no sangue”: As histórias do outro lado do Atlântico chegam a Portugal
Na década de 1940, meu avô paterno adquiriu um Ford Custom Coupé 1949 vermelho, importado para o Brasil dos Estados Unidos. O elegante Ford, um dos automóveis norte-americanos mais bonitos do pós-guerra, fez sucesso na cidadezinha interior em que ele vivia. Muito jovem na época, meu pai cismou que o automóvel ficaria ainda mais bonito com uma pintura em dois tons – e convenceu o meu avô a pintar o tecto do coupé de branco. De fato, a ousada “customização” não apenas embelezou o Ford como também o converteu num veículo exclusivo. Enquanto viveu, meu pai jurava que jamais vira outro igual.
O tempo passou, meu avô morreu, o Ford 49 vermelho e branco foi vendido, deixou a cidade, e nunca mais foi visto. Mais de meio século depois, folheando uma revista de antigomobilismo, meu pai deparou-se com a foto de um Custom Coupé vermelho com teto branco apodrecendo em um ferro-velho no Uruguai. Emocionado, jurava que aquele era o automóvel que ele havia personalizado. Não podia haver engano. Era o mesmo veículo, sim. Ele tinha absoluta certeza. Na ocasião, já velho e doente, chegou a cogitar ir ao Uruguai atrás do Ford da revista. Perto do fim, era um capítulo importante de suas memórias familiares que ele sonhava resgatar. Infelizmente, não houve tempo para isso. Meu pai faleceu em 2014 e a saga do Ford 49 morreu com ele.
Contei essa história para o advogado, ex-piloto de automobilismo e plastimodelista Sergio Aguinsky e, prontamente, ele se ofereceu para montar e customizar uma réplica em miniatura do Ford do meu avô, exatamente como meu pai o descrevia. Baseado apenas em descrições, posto que não tínhamos sequer uma fotografia como referência, Aguinsky conseguiu um kit do modelo e em algumas semanas me entregou a miniatura em escala 1/25, que conservo como um tesouro em minha colecção de carrinhos. Pedi ao amigo plastimodelista que fotografasse o passo a passo da montagem. De longe, acompanhei, por fotografias, a evolução do minucioso trabalho. Que agora compartilho com vocês.
Fotografias: Sergio Aguinsky, Eduardo Scaravaglione e Irineu Guarnier
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.
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