Clássicos • 14 Mar 2021
Citroën Mehari: Para o sol de Inverno e para os dias quentes de Verão
Era Janeiro de 1976 em Angola, depois da independência, a guerra civil intensifica-se. Em Moçâmedes e Porto Alexandre (actual Tombwa) dois dos “movimentos de libertação” (UNITA e FNLA) travam intensos combates dentro das cidades.
A população civil teme o pior. Apesar de quererem continuar em Angola, (na sua maioria portugueses de segunda geração) a falta de condições de segurança, de produtos de primeira necessidade e de cuidados de saúde, começam a equacionar a fuga para a Namíbia. Nesta altura a ponte aérea de Luanda para Lisboa já tinha terminado e a ligação de Moçâmedes a Luanda também estava inviabilizada, devido à guerra civil que se instalou em todo o território. Eu, na altura com 15 anos, já conduzia o Datsun 1200 (AAD-05-56) da família. Antes dos acontecimentos e em zonas sem trânsito já fazia uns “piões” nas estradas com areia das “garroas” no Deserto do Namibe.
Em Porto Alexandre, terra de pescadores, de fábricas de farinha e óleo de peixe, as traineiras eram a última alternativa da fuga para sul. O que veio a acontecer a 10 de Janeiro. Dezenas de traineiras em Porto Alexandre com os depósitos de gasóleo atestados, preparam-se para qualquer eventualidade.
O Datsun 1200 continuava lá, tapado com uma cobertura cinzenta, encostado à amura do barco, agora com o convés completamente preenchido com bidons de 200 litros de gasóleo para a viagem.
Chegados ao Brasil, a situação não foi fácil. As autoridades brasileiras não autorizaram a constituição de uma empresa de pesca e passados três meses estávamos a preparar a viagem para Portugal. Uma viagem que se revelou muito atribulada.
Em Novembro a costa ocidental estava a ser fustigada por mau tempo e nós em mar alto. Conseguimos enviar mensagens de socorro e fomos finalmente localizados e ajudados pela Marinha Portuguesa perto do Cabo Espichel. Entrámos no porto de Sesimbra sãos e salvos.
O Datsun com o temporal sofreu bastante, devido aos bidões de gasóleo embaterem lateralmente com a ondulação, provocando muitas mossas na lateral do carro. Mais tarde, e já em Vila Real de Santo António o meu pai mandou pintar o Datsun e vendeu-o, tendo-lhe perdido o rasto.
Entretanto, como filho de peixe sabe nadar, tenho mantido a paixão por automóveis clássicos. Construí a “Oliveira’s Garage” para acomodar e restaurar os meus 10 clássicos “populares” dos anos 60 e 70.
TAGS: Datsun
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