Clássicos • 03 Jan 2023

Clássicos • 11 Ago 2022
Hélio Valente de Oliveira: Uma vida marcada pela paixão e pela amizade
Algumas horas apenas passaram desde que soubemos da morte do Hélio Valente de Oliveira, nosso amigo e colaborador. O seu desaparecimento repentino, sem o mais pequeno indício de saúde vacilante, provocou em nós o choque brutal, bastante antes de podermos sentir o pesar e a saudade, que certamente nos vão acompanhar no futuro próximo.
Lidando nós com um tema que não passa de moda e perdura no tempo, é natural que o leitor possa ficar com a ideia de que a extinção física dos nossos heróis e amigos se vá normalizando. Desde que temos esta actividade, foram certamente demasiados os companheiros, de várias idades, que se afastaram do nosso convívio terreno. Já perdemos a conta aos obituários que assinámos, com notas soltas sobre a vida e obra e as sempre sentidas palavras de condolências à família e aos amigos. Pode constituir uma surpresa mas confessamos, sem cerimónia, que cada vez é mais difícil. E ainda mais quando se trata de um amigo próximo, ainda jovem, com tanto por viver e para viver.
O Hélio, o nosso Hélio, nasceu em Abril de 1965, mais dia menos dia, ao mesmo tempo em que o revolucionário chassis do Lamborghini Miura era revelado ao mundo no salão automóvel de Turim. Coincidência ou não, o Miura permaneceu o seu automóvel mais desejado, um sonho que, ao contrário de muitos entusiastas, conseguiu realizar, quando se tornou proprietário de um belo exemplar cor de laranja, com o qual abrilhantou o Vila Real Revival, em 2004.
Tendo estudado engenharia mecânica em Inglaterra, o Hélio pensava e sentia os automóveis “à inglesa”, com um rigor técnico e uma sensibilidade estética que o acompanharam na sua paixão. A beleza do motor de cambota plana de um TVR Cerbera merecia os mesmos elogios dados à mais exuberante carroçaria de um Voisin. A complexidade técnica de um Bugatti EB110 disputava a dedicação a outros exóticos mais mundanos como o Citroën SM ou o Alfa Romeo Montreal.
Os interesses do Hélio estendiam-se também às artes, com especial foco na fotografia e na música, área em que o seu ecletismo se revelava comparável ao que possuía relativamente aos automóveis, em vastidão e exigência.
Mas a erudição dos temas que o Hélio dominava jamais era apresentada com sequer o mais suave vestígio de arrogância ou altivez. A sua generosidade e gentileza na partilha de conhecimento só tinham rival na sua lisura de trato, em modos que só podemos definir como de cavalheiro e um exemplo a seguir.
Para quem não conheceu o Hélio pessoalmente, será sempre difícil perceber a falta que nos fará a nós, que tivemos essa felicidade. Mas a sua colaboração com diversas publicações, como o Jornal dos Clássicos, a Topos & Clássicos e a Motor Clássico, são uma forma, ainda que modesta, de apreender uma parte (pequena, é certo) do seu conhecimento e da sua paixão.
Estamos cientes de que não podemos ter o egoísmo de reclamar para nós a mágoa do vazio que o desaparecimento do Hélio nos deixa. Essa, por direito, pertencerá à sua família e aos amigos mais próximos, a cujo sofrimento apenas nos podemos, de forma humilde e leal, associar. Mas, podemos e devemos afirmar o privilégio que foi para nós ter conhecido o Hélio, ter beneficiado da sua bondade, do seu conhecimento e, sobretudo, da sua amizade.
Adelino Dinis
Salvador Patrício Gouveia