Automobilia • 21 Nov 2014
Automobilia • 23 Jul 2022
Miniaturas, a história de mais de um século de diversão
Por Irineu Guarnier
Colecionar miniaturas de automóveis é um hobby muito popular entre petrolheads do mundo inteiro. Aquele veículo que nem sempre pode ser adquirido na vida real torna-se acessível quando… miniaturizado. A grande diversidade de fabricantes, modelos, escalas, qualidade e preços permite que praticamente qualquer aficionado, hoje em dia, possa formar a sua coleção de veículos prediletos – desde os mais simples e baratos Hot Wheels, na escala 1:64, aos mais sofisticados e caros Minichamps 1:43 ou Bburago 1:18. Os preços vão de pouco mais de um euro a mais de 500 euros, dependendo do modelo, da escala e do fabricante.
Mas nem sempre foi assim. Na virada do século 19 para o século 20, quando surgiram as primeiras miniaturas automotivas (mais ou menos ao mesmo tempo em que apareceram os primeiros automóveis), este hobby era restrito a uma elite composta por nobres e milionários. As miniaturas eram artesanais, peças únicas, caríssimas e de baixa qualidade, pouco fiéis aos modelos originais e sem qualquer preocupação com escalas.
Há quem diga que as miniaturas de trens, veículos de combate e automóveis teriam sido criadas para dar maior realismo a maquetes ferroviárias e militares, antes de se transformarem em objetos de coleção. Pode ter sido esta, inclusive, a origem da escala padronizada 1:43 – ainda hoje a mais colecionada em todo o mundo (1:43 significa que o carrinho é 43 vezes menor do que o modelo real, o 1:1).
Na duas primeiras décadas do século 20, aparecem as primeiras miniaturas industrializadas, que serão aperfeiçoadas nas décadas seguintes, com o acréscimo de detalhes, novas escalas e a substituição de materiais como o ferro e o estanho pela liga metálica clássica do mundo Die-Cast moderno: o Zamac (um “blend” de zinco e alumínio com o acréscimo de estanho, cobre e um ou outro metal).
Não se incluem nesta categoria, obviamente, os detalhadíssimos veículos de plastimodelismo (kits em material plástico que são montados e pintados pelos próprios colecionadores) e os slots, carrinhos motorizados elétricos desenvolvidos para pistas de autorama. Embora sejam reproduções bastante fiéis dos modelos reais, kits e slots fazem parte de segmentos completamente diferentes no mundo das miniaturas automotivas colecionáveis.
Após as duas grandes guerras mundiais, com os avanços extraordinários da metalurgia e da engenharia mecânica na Europa e nos Estados Unidos, a produção de miniaturas industrializadas se organiza. Os pequenos veículos de metal não são mais vistos como brinquedos de luxo. Escalas são padronizadas. Os preços caem e surgem fabricantes famosos como Dinky Toys, Solido, Matchbox, Schuco, Corgi , Bburago, Hot Wheels, Minichamps, Maisto, Sunnyside, Saico, Vitesse e tantas outras.
A partir da década 80, o chão de fábrica das marcas mais populares desloca-se para a Ásia, principalmente para a China e a Malásia, e o mundo é inundado por pequenos veículos metálicos cada vez mais semelhantes aos modelos originais, com preços acessíveis. Escalas 1:18, e mesmo 1:24, atingem níveis de detalhamento e precisão impressionantes (os carrinhos têm motores, suspensões e interiores extremamente realistas). O colecionismo de miniaturas automotivas deixa de ser um hobby elitista para tornar-se uma atividade recreativa e cultural praticada por milhões de pessoas em todo o mundo. A internet possibilitou o acesso a uma oferta quase infinita de modelos e ensejou a criação de milhares de grupos de entusiastas em diferentes países, que trocam informações e compram e vendem carrinhos – como ocorre no mercado de automóveis de verdade (miniaturas antigas muito raras chegam a ser negociadas, em leilões, por dezenas de milhares de dólares). Se você gostaria de colecionar automóveis, mas o seu orçamento ainda não lhe permite tal ousadia, considere esta opção: o passatempo é divertido e não vai levar ninguém à falência.
Fotografias: Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.
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