Clássicos • 12 Jun 2021

Desde que nasci que os automóveis antigos fazem parte da minha essência e na minha imaginação, desde miúdo, sempre tive a ideia de uma lista daqueles que seriam os meus dez automóveis de sonho. O American Lafrance Speedster, curiosamente, sempre ocupou o terceiro lugar dessa lista, podem ver isso nos meus cadernos antigos em que deixava de ouvir a professora e fazia a lista dos automóveis que mais gostava de ter nas últimas páginas.
Sempre tive uma enorme paixão por automóveis pré-guerra, de preferência modelos de alta cilindrada. Em 1999, desloquei-me com o meu pai a Beaulieu, a uma feira de automóveis antigos realizada nos jardins do National Motor Museum. Tinha eu 12 anos e muitos sonhos com automóveis antigos. Nessa feira vi, pela primeira vez, um American Lafrance Speedster por restaurar e lembro-me que fiquei a olhar para o tamanho daquelas rodas dentadas e fascinado com o tamanho da máquina.
Durante o jantar convenci o meu pai a comprar o automóvel, apesar de ele já estar quase convencido de o fazer por si próprio. Tanto era o entusiasmo que mal dormi nessa noite, à espera de voltar ao mesmo local no dia seguinte. Quando lá chegámos o pior tinha acontecido, uma placa a dizer “Sold” e a vontade ficou por ali.
Sempre tive na cabeça aquele automóvel e só passados alguns anos, mais concretamente em 2007, é que voltei a ver um quando participei no Londres-Brighton, uma prova dedicada a automóveis veteranos. Este American Lafrance Speedster passou por mim a cerca de 90 km/h e abanou o pequeno Cadillac em que eu seguia, deixando-me para trás boquiaberto. Se já tinha vontade de ter um, ali fiquei com a certeza.
Passado um ano, em Outubro de 2008, fui dez dias de férias para casa de um grande amigo em Lincoln, também com o mesmo vício que nós, e ao conversar com o seu velho mecânico, Pete Smith, disse-lhe que adorava ter um American Lafrance Speedster, ao que ele respondeu “Pedro, amanhã vamos ver um que está aqui perto em chassis e está á venda.”
E assim foi. Após várias noites sem dormir e no meio de muitas indefinições da minha vida, acabei por adquirir o automóvel, apenas cinco anos mais tarde, numa deslocação feita a Inglaterra com o meu amigo Abraão Santos, e foi então que se cumpriu o sonho de uma vida.
O restauro durou cerca de dois anos e o resultado final foi aquele que podemos ver nas fotografias. Foi um gosto restaurar este automóvel. Um verdadeiro prazer pela rudez mecânica e pela forma como foi construído. Entretanto, e por motivos de força maior, acabei por o vender com a ajuda de um amigo ao dono do Museo Automovilístico de Málaga.