Clássicos 09 Dez 2021

Mercedes-Benz 300 SL “Gullwing”, um automóvel nascido para voar nas corridas

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Mercedes-Benz tinha uma crise em mãos. As suas unidades fabris tinham sido destruídas, as suas gamas automóveis estavam envelhecidas e a hipótese de renovação estava seriamente afectada pela diminuição do anterior poderio tecnológico.

O primeiro Mercedes-Benz do pós-guerra foi o renovado 170S apresentado na Feira de Hannover, em Maio de 1949. Dois anos depois, no Frankfurt Motor Show de 1951, a Mercedes-Benz apresentava os modelos 220 e 300, cuja principal inovação era o novo motor de seis cilindros com árvore de cames à cabeça.

Tomando como base os novos motores de seis cilindros, foi com determinação de ferro que os responsáveis pela marca puseram mãos à obra, para tentar retomar os êxitos do passado e, no espaço de quatro anos, apresentavam ao mundo, no Salão Internacional de Genebra, um dos mais revolucionários e marcantes desportivos de todos os tempos: o 300 SL de 1954.

Mesmo sendo o 300 SL um verdadeiro desportivo, obteve um interessante resultado comercial e, em 1955, um ano após o início da sua comercialização, a Mercedes-Benz comemorava a venda do milésimo 300 SL. Em Portugal, as vendas do super desportivo da Mercedes-Benz também correram bastante bem, com a marca alemã a comercializar, entre Fevereiro de 1955 e Dezembro de 1959, 18 unidades, muitas delas com destino à competição. De facto, embora o 300 SL fosse, em primeiro lugar, um veículo de utilização quotidiana, este não deixava de ter nas suas raízes uma fortíssima componente desportiva, tendo o modelo de competição vencido as 24 Horas de Le Mans de 1952, pelas mãos de Hermann Lang e Fritz Rieb, e também a Carrera Panamericana, com Karl Kling ao volante.

Começava pela motorização, baptizada internamente de M194, que havia sido trabalhada pelo departamento de competição da marca e equipada com a nova injecção de combustível Bosch. Como o motor era demasiadamente alto, a solução encontrada para baixar o centro de gravidade na frente do automóvel foi deitá-lo num ângulo de 50 graus para a esquerda e equipá-lo com um cárter seco. Esta original inclinação valeu ao motor a alcunha de “Schräge Otto”, o que em português significa Otto deitado, aludindo a Markus Otto, o inventor do ciclo de quatro tempos no motor de combustão interna.

A imprensa da altura ficou impressionada pelas soluções utilizadas na construção do chassis do 300 SL. Inspirando-se em alguns desenhos aeronáuticos, os engenheiros da Mercedes-Benz equiparam o novo desportivo com um chassis tubular, constituído por um emaranhado de tubos que servia de estrutura de suporte aos componentes mecânicos e carroçaria.

Uma das suas características mais distintas são as portas que abrem para cima, necessárias devido à excessiva altura do chassis na zona lateral, que impedia a utilização de uma solução tradicional. Imediatamente o 300 SL passou a ser conhecido na Alemanha por Flügelturen (portas-asa), em Inglaterra por Gullwing (asas de gaivota), e em França por Papillon (borboleta).

No início da sua comercialização, o 300 SL, modelo W194, podia ser encomendado com várias relações finais de transmissão, sendo que as velocidades máximas variavam consoante a desmultiplicação. Para uma relação de 3.42:1 a velocidade atingida em quarta velocidade era 254 km/h, enquanto que na relação mais longa do diferencial de 3.25:1, a velocidade máxima era de 267 km/h. Os primeiros automóveis, ensaiados por jornalistas, vinham equipados com uma relação final de 3.64:1, proporcionando uma velocidade máxima de 217 km/h. Em contrapartida, a aceleração dos 0 aos 100 km/h era feita em oito segundos. Todos estes números são ainda mais impressionantes se considerarmos que o 300 SL pesava 1233 kg, sendo capaz de um consumo de combustível, bastante razoável, de cerca de 15,6 litros a cada 100 quilómetros percorridos.

A experiência da marca na competição automóvel permitiu-lhe equipar o coupé com geometrias de suspensão muito semelhantes às vistas em pista, embora este também fosse o principal defeito do modelo. Na traseira, a Mercedes-Benz equipou o novo desportivo com uma geometria de braços oscilantes de pivot central que, nas mãos de pilotos experientes, permitia ao 300 SL prestações fabulosas, mas em mãos menos experientes tornava o automóvel difícil de conduzir.

Classificados

Siga-nos nas Redes Sociais

FacebookInstagramYoutube