Clássicos • 09 Fev 2022
O que leva alguém a deixar o seu automóvel novo na garagem, recheado com os mais sofisticados dispositivos eletrônicos e equipado com o que há de mais confortável e seguro na tecnologia contemporânea entrega, para sair à rua, feliz da vida, um veículo com mais de 30 anos de uso, muitas vezes sem ar condicionado, sem direção hidráulica ou sem freios assistidos a vácuo? A resposta é: a paixão pelo automóvel antigo.
Este é um sentimento difícil de explicar, como qualquer paixão, e ainda mais difícil de ser compreendido por quem não é do meio e observa os encontros de apaixonados com admiração e perplexidade. Mas o facto é que este sentimento contagia, cada vez mais, um número maior de homens e mulheres de todas as idades e classes sociais.
Um fenômeno global, cada dia mais vigoroso na Europa e nos Estados Unidos, haja vista as impressionantes cifras atingidas por veículos vintage em leilões especializados. A importância cultural do automobilismo foi reconhecida pela UNESCO (Órgão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 2016. Naquele ano, a UNESCO patrocinou oficialmente o Ano Mundial do Antigomobilismo, proposto pela Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA). O reconhecimento da UNESCO se deu em razão do trabalho de preservação da herança automotiva para as futuras gerações, desenvolvido pela FIVA.
No Brasil, não tem sido diferente. Pelo menos 1 milhão de pessoas gravita em torno dos automóveis clássicos, de acordo com a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), organização filiada à FIVA, que congrega entusiastas organizados em mais de 135 clubes por todo o país. Esses clubes (mais de 400, se levarmos em conta que a maioria ainda não está filiada à FVBA) promovem eventos com até 300 mil expositores e espectadores (Águas de Lindóia e Campos do Jordão, em São Paulo, Araxá, em Minas Gerais, e Nova Hamburgo, no Rio Grande do Sul, têm sediado alguns desses maiores encontros).
A comunidade da “ferrugem no sangue” é formada por todo tipo de pessoas, desde empresários, profissionais liberais, funcionários públicos, mecânicos, despachantes, taxistas. Homens e mulheres. Jovens e “coroas”. Ricos ou remediados, todos se divertem, unidos pela mesma paixão: o automóvel antigo. À sua maneira, cada um encontra no culto à história dos clássicos uma alternativa divertida de viajar pelo tempo, aos dias mais felizes de sua juventude ou infância, quando esses carros eram a vanguarda da indústria automobilística.
Fotografias: Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.