LifeStyle • 11 Jan 2014
Arquivos LifeStyle • 28 Out 2021
Exposição de fotografias de Manoel de Oliveira no Calouste Gulbenkian
Esta exposição organizada pela Casa do Cinema Manoel de Oliveira – Fundação de Serralves e com a curadoria de António Preto apresenta mais de uma centena de fotografias produzidas entre o final dos anos 1930 e meados dos anos 1950.
São todas a preto e branco e estiveram guardadas todos estes anos no arquivo pessoal de Manoel de Oliveira. Parte delas corresponde a provas originais, outras a ampliações feitas a partir de negativos. Na sua maioria inéditas, poderá vê-las agora, no Hall da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, até 17 de janeiro de 2022.
Ao todo, são 120 fotografias que, através da lente de uma Leica, percorrem vários géneros e temáticas – paisagens, retratos e naturezas mortas, referências ao Porto, a sua cidade, mas também imagens do circo e de aviação que, além da preocupação estética, mostram a grande curiosidade do realizador pela fotografia e o seu interesse pelos fenómenos óticos.
A fotografia era, para o realizador, um instrumento de pesquisa formal e de experimentação, uma outra forma de construir a sua linguagem visual. Três fotos (de 1952) tiradas a uma jovem defunta que Manoel de Oliveira foi chamado a fotografar (como era hábito na época) hão de fazer lembrar o filme O estranho caso de Angélica, estreado em Cannes em 2010. Uma imagem estática transformada anos mais tarde em movimento.
Iniciada no final dos anos 30, a atividade fotográfica de Manoel de Oliveira intensifica-se no início da década de 1940, para ser abandonada quando, após a longa pausa cinematográfica que se seguiu a Aniki-Bóbó (1942), regressa à realização com O Pintor e a Cidade (1956).
Possível substituto circunstancial do cinema, encontra-se uma relação direta entre algumas das suas fotografias e certos projetos fílmicos não realizados – as imagens no circo foram tiradas no ano em que escreveu o guião “O Saltimbanco” (1944), as da aviação, datáveis de 1937-38, relacionam-se com um projeto de documentário, até agora desconhecido, sobre os cursos de pilotagem do AeroClub do Porto.
No seu regresso ao cinema, e tendo entretanto frequentado um estágio para aprendizagem da cor na AGFA, em Leverkusen, Alemanha, Manoel de Oliveira assumiria a direção de fotografia dos seus filmes até à realização de O Passado e o Presente (1972).
Estas imagens, estáticas, além de revelarem uma faceta até agora desconhecida de Manoel de Oliveira – a de fotógrafo –ajudam ainda a contextualizar o rigor de composição que carateriza os seus filmes e abrem novas perspetivas sobre a evolução da sua obra cinematográfica. Ou vêm mostrar como a imagem – fixa ou em movimento – pode ser a companheira de uma vida.