Clássicos • 13 Mai 2021
Em questão de automóveis, sempre andei na contramão do gosto da maioria das pessoas. Nas décadas de 70 e 80, quando a moda eram os veículos brasileiros de grande porte como o Galaxie, o Dodge Charger, o Maverick ou o Opala, eu gostava de automóveis pequenos como SP2, o Chevette, o Karmann Ghia, o Gol ou o Fiat Uno. Nas décadas seguintes, quando os veículos pequenos viraram moda (Mini, New Bettle, Smart, Fiat 500), passei a gostar dos sedans grandões (Ford Taurus, Chrysler Stratus, Nissan Maxima).
Quando os sedãs estavam no auge da preferência do público, eram símbolos máximos de status sobre rodas, eu conduzia hatches e picapes. Agora que os SUVs estão na moda, voltei a curtir os sedãs. Na verdade, só há um tipo de carroçaria de que nunca gostei, os SUV. Os SUVs são grandes, pesados, instáveis (por causa do alto centro de gravidade), beberrões, com péssima aerodinâmica e são pouco práticos no trânsito urbano. No entanto, o público adora-os. Essa tendência parece irreversível no curto e médio prazos. Um dia, quando todos os automóveis forem SUVs, os consumidores também se irão cansar desta unanimidade.
O mais curioso, todavia, foi a minha relação com as station wagons. Nunca gostei de “peruas”, que foram modelos muito populares no Brasil durante décadas. Eram o tipo de veículo que eu dizia que jamais compraria. Hoje, as peruas estão quase extintas no Brasil, embora continuem a fazer sucesso na Europa. Passei a ver esses automóveis com outros olhos. Como alguns modelos são lindos e elegantes, com sua silhueta alongada, racks no teto e amplos bagageiras.
Preciso esclarecer que este meu comportamento nunca foi intencional. Nunca pretendi ser “do contra” simplesmente por ser do contra. Aconteceu naturalmente. Percebo, hoje, que foi algo coerente com a minha história pessoal. Acho que a minha aversão ao instinto de manada, que leva a maioria das pessoas a gostarem de fazer tudo o que as outras fazem, explica isso. Não me acho nem melhor nem pior do que ninguém. Respeito os gostos de todo mundo. Mas me permito ser, digamos, diferente. Neste caso, espero que também respeitem as minhas preferências.
Fotografias: Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.
Olá Irineu! Sou brasileiro e entendo bem a sua opinião, pois a minha é parecida. Sempre gostei muito das Station Wagons, pelo espaço e conforto que oferecem aliado à praticidade da mala. Shooting Breaks então, nem se fala, prazer puro. Mas ir na contra mão significa ter gosto próprio, alheio a modismos. E nada como um belo sedan com uma estrela de 3 pontas…..