O aniversário de 30 anos da vitória da Mazda nas 24 Horas de Le Mans de 1991

Competição 06 Set 2021

O aniversário de 30 anos da vitória da Mazda nas 24 Horas de Le Mans de 1991

Este ano a Mazda celebra o 30º aniversário da primeira vitória nas 24 Horas de Le Mans com o Mazda 787B. Esta vitória foi alcançada pela Team Mazdaspeed, que contava com Takayoshi Ohashi e com a tripla de pilotos Johnny Herbert, Volker Weidler e Bertrand Gachot. Para além da vitória à geral, o 787B alcançou ainda um 6º lugar e um 787 garantiu a 8ª posição.

A vitória entrou para a histórica porque nunca antes um automóvel equipado com motor rotativo tinha ganho esta competição de resistência. A vitória de 1991 não pode ser vista como um feito único, o sucesso do 787B em Le Mans foi o culminar de uma década de preparativos.

Em 1967, a Mazdaspeed ganhava vida através da Mazda Auto Tokyo, um dos maiores Concessionários Mazda da capital japonesa. Gerida pelo incansável Takayoshi Ohashi, a equipa inscreveu-se, pela primeira vez, em Le Mans em 1974, palco a que regressaria por mais 13 vezes, ao longo de 18 anos. Em 1983, a Mazdaspeed tornar-se-ia numa subsidiária da Mazda Motor Corporation, para no final dos anos 80, Takaharu Kobayakawa, outrora gestor do Programa Mazda RX-7, ficar responsável pelas actividades desportivas da Mazda. Em conjunto com Ohashi, Kobayakawa teria a seu cargo a supervisão do programa para Le Mans.

Uma mudança nos regulamentos prevista para a época seguinte significava que o motor rotativo que equipava o 787B passaria a ser considerado proibido. Por outro lado, Ohashi obteve uma pequena, mas importante vitória ao assegurar uma emenda da FISA (a entidade máxima que, na altura, geria o desporto automóvel mundial, hoje FIA) permitindo que o 787B funcionasse na sua configuração padrão.

Grande parte da corrida decorreu sem incidentes. Uma boa partida permitiu a Weidler encontrar o caminho por entre o vasto pelotão, tendo o 787B evoluído em pista sem registar quaisquer falhas durante toda a noite. A três horas do final das 24, o Mazda #55 ocupava o 2º lugar. Subitamente, o Mercedes-Benz, que então liderava, sofreu uma avaria e desistiu, pelo que a Mazda passava para a frente da corrida. O 787B #55 manter-se-ia na frente até final, garantindo a primeira vitória à geral.

Johnny Herbert, o piloto que cruzou a linha de chegada no 1º lugar afirmou que “Estava exausto e desidratado e foi apenas a adrenalina que me fez chegar à marca das 24 Horas”. Johnny Herbert pertence a um clube exclusivo de vencedores que não subiram ao pódio após essa sua vitória em Le Mans. Herbert estava inconsciente no Centro Médico do circuito, não podendo, assim, celebrar com os seus companheiros de equipa a entrega do troféu à Mazdaspeed.

À medida que as últimas horas da corrida decorriam, Takayoshi Ohashi e Jacky Ickx, Consultor e Diretor de Equipa, decidiram pedir, via rádio, a Herbert que prolongasse o seu período de condução até ao final da corrida. Com a vitória ali tão perto, Ohashi não estava disposto a arriscar na incerteza de uma paragem extra nas boxes e de uma mudança adicional de piloto.

Herbert tinha sido apresentado à Mazdaspeed por David Kennedy, então piloto da Mazda em 1990. Recuperando de lesões sofridas em 1988, num acidente que quase o obrigou a terminar antecipadamente a sua carreira, era um piloto muito apreciado e tinha tido uma boa experiência na Fórmula 1.

O confortável habitáculo do 787B estava surpreendentemente bem organizado e “o motor rotativo era absolutamente fantástico”. Lembra-o como sendo “incrivelmente suave” e, crucialmente, à “prova de bala em termos de fiabilidade”. Quanto à caixa de velocidades, Herbert ri-se quando se recorda dela como sendo “a mais lenta do mundo”, concordando que a mesma foi concebida para ser resistente e não rápida. Enquanto as equipas contemporâneas de Le Mans podem mudar uma caixa de velocidades em menos de dois minutos, durante uma paragem nas boxes, em 1991, a transmissão teve de durar a totalidade das 24 horas.

Trinta anos depois dessa memorável corrida, Herbert lembra-se da camaradagem com os seus colegas de equipa, enquanto competiam para obter a mesma velocidade do 787B, mantendo estáveis os valores de consumo de combustível prescritos (1,9 l/km), recorda o bonito grito do motor do 787B, “ecoando na bancada principal e no complexo do paddock”; e durante a noite lembra-se de ver os fãs, ao longo do circuito, a dormir nas suas cadeiras e sacos-cama, iluminados pelas chamas que saíam dos escapes do 787B enquanto reduzia a velocidade na aproximação à curva de Indianapolis.

Mas lembra-se, sobretudo, do “enorme sorriso” que se espalhou pelo rosto de Ohashi, na altura em que o seu principal rival, um Mercedes-Benz, sobreaqueceu e desistiu, passando a liderança da corrida ao 787B #55. Com a chegada da marca das 24 horas e com a vitória confirmada, Herbert recorda os fãs que se apressaram a entrar na pista para celebrar uma vitória “extremamente popular”.

O #55 tornou-se, assim, num ícone de Le Mans e do desporto automóvel e o facto de “terem sido precisos 27 anos para outra equipa japonesa vencer em Le Mans” é uma prova da importância do feito alcançado pela Mazda.

Kobayakawa afirma que, em 1989, o pedido de 100 cavalos adicionais de potência ao motor rotativo por parte de Pierre Dieudonné atordoou o departamento de engenharia da Mazda. Essa tarefa foi entregue a Yasuo Tatsutomi, Director de Planeamento e Desenvolvimento de Produto da Mazda, ficando responsável por encontrar essa potência extra

Apesar de alguns membros da equipa considerarem ser um feito “impossível” de alcançar, todos arregaçaram as mangas, cancelaram-se férias e trabalharam todas as horas disponíveis. Pensa-se terem sido propostas mais de 1000 potenciais melhorias para o motor, sendo que, no final, se implementaram 80 delas, integrando-as no motor do 787B de 1991.

Após a vitória, o bloco foi enviado de volta para o Japão e Kobayakawa pediu que fosse totalmente desmontado para ser analisado ao pormenor, com a particularidade de que convidou um grupo de jornalistas para assistir ao processo. Estava em tão boas condições que a Mazda acredita que poderia ter sido utilizado em uma nova corrida de 24 horas.

Embora o lendário 787B seja relembrado, até hoje, como o único carro de competição de motor rotativo a alcançar o 1º lugar em Le Mans, nenhum dos seus antecessores deverão ser esquecidos, dado que, afinal de contas, foram eles que abriram o caminho para esta vitória. Carros de corrida com motores rotativos da Mazda participaram na edição de 1970 de Le Mans, processo que se prolongou em diversas edições seguintes, incluindo-se, entre eles, um Chevron B16 modificado, bem como os Mazda MC73, MC74 e Mazda 252i, 253 e 254, baseados no Mazda Savanna RX-7.

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