Réplicas brasileiras

Clássicos 24 Out 2020

Réplicas brasileiras

Por Irineu Guarnier

Há quem considere as réplicas de automóveis famosos apenas cópias vulgares. Mas no mundo automotivo as reproduções bem feitas desfrutam de grande prestígio. Quase sempre custam caro. E, às vezes, podem ter componentes e acabamento muito similares – e até superioriores – aos dos exemplares em que se inspiram. Algumas dessas cópias ostentam até uma espécie de certificado de qualidade: a aprovação dos fabricantes dos modelos originais.

No Brasil – que proibiu a importação de automóveis entre 1976 e 1990 – uma florescente indústria caseira de réplicas supriu a demanda por esportivos inacessíveis a partir do início dos anos 1970. Empresas de pequeno porte despejaram nas ruas uma miriade de réplicas tão bem construídas que só conhecedores conseguem perceber que não são originais. A maioria tinha carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro e utilizava a versátil mecânica Volkswagen air cooled. Mas também havia modelos impulsionados por motores Chevrolet, Fiat e Ford. A indústria brasileira de réplicas entrou em declínio com a reabertura das importações, na década de 1990, mas algumas sobrevivem até hoje.

Em meio a tantos lançamentos, algumas réplicas de automóveis clássicos construídas no Brasil se destacaram pela fidelidade aos modelos verdadeiros – e se transformaram em cobiçados clássicos de coleção no país. As principais:

MP Lafer

Primeira réplica produzida em larga escala no país. Era inspirado no modelo MG TD inglês de 1953. Foi desenhado e construído por Percival Lafer, fabricante de móveis. Lançado em 1973, foi produzido até 1989, e teve 4.300 unidades vendidas – inclusive para o exterior. Na aparência, era bastante fiel ao modelo original. Mas, diferentemente do esportivo britânico, tinha motor Volkswagen boxer aircooled de 1.600 cm3 instalado na traseira.

Super 90 Coupé

Cópia muito fiel do Porsche 356 B-T6/356 C produzido na Alemanha entre 1962 e 1965. Era fabricado pela Envemo, sobre chassi do VW Brasília encurtado em 300 mm. Utilizava o tradicional motor VW boxer arrefecido a ar de 1.600 cm3, com 54 cv. Também teve uma versão Cabriolet e chegou a ser equipado com motor de 1.700 cm3 de 88 cv. Uma das mais perfeitas réplicas feitas no Brasil, foi produzido de 1979 a 1983, as últimas unidades já sob a bandeira de outro proprietário, a Chamonix. Vendeu 202 unidades. E foi elogiado por executivos da Porsche em uma feira na Alemanha.

Gazelle

Réplica do Mercedes-Benz SSK de 1928. Produzido por uma subsidiária brasileira da norte-americana Classic Motors Carriages em Contagem, Minas Gerais, entre 1978 e 1986. Vendeu cem unidades.

Dardo F-1.3

Diferentemente da maioria das réplicas brasileiras, que usavam propulsores Volkswagen refrigerados a ar, o Dardo F-1.3 era movido pelo motor 1.3 do Fiat 147 Rallye (teve também uma versão 1.5, com 96 cavalos de potência). Fabricada pela Corona S/A (subsidiária do Grupo Caloi) a partir de 1979, era uma cópia muito parecida do esportivo Fiat X 1/9. Foi o primeiro automóvel brasileiro com motor central-traseiro. Era tão bem feito que chegou a ser comercializado pela rede de concessionárias da Fiat no Brasil. Mudou de fabricante, mas seguiu em produção até 1985.

Avallone A-11

Construído pelo piloto e industrial Antonio Carlos Avallone, era cópia do MG TF inglês de 1953. Utilizava mecânica Chevrolet – do Chevette, do Opala e do Monza. O motor era instalado na frente, como no original. Mas, diferentemente do modelo britânico, que vinha com portas do tipo “suicidas”, as portas do A-11 eram convencionais. Foi montado sobre chassi próprio, com quatro longarinas paralelas, e possuía excelente acabamento, com volante “banjo” e painel de madeira.

Kübelwagen

Réplica mais recente do utilitário alemão da Segunda Guerra, produzido pela Penatti-Baja, de Itú, São Paulo, é construído em chapas metálicas com capô e paralamas em plástico. Um divertido jipinho para uso fora do asfalto.

Alfa Romeo 8C e Bugatti 35B

Inspirados nos carros europeus de competição da década de 1930, com motores Volkswagen boxer a ar montados na traseira. Foram desenvolvidos pela L’Autocraft e até hoje fazem muito sucesso nos encontros de veículos clássicos.

XK 120 Coupé e XK 120 Roadster

Produzidos ainda hoje pela Americar em suas fábricas no Brasil e nos EUA, esses dois modelos inspirados em clássicos Jaguar dos anos 1950 são construídos em plástico reforçado com fibra de vidro sobre chassi tubular. São movidos pelo potente motor GM V8 de 5,7 litros, que gera 350 cavalos de potência, e estão equipados com câmbio automático TH 350.

Classic 427 e Classic 427 RS

Também produzidos ainda hoje pela Americar, têm por modelo o clássico norte-americano AC Cobra, construído pelo piloto Carroll Shelby nos anos 1960. São feitos em plástico reforçado com fibra de vidro sobre chassi tubular e utilizam o potente motor Ford V8 de 5 litros e câmbio Tremec T5 de cinco marchas.

Fotografias: Eduardo Scaravaglione


Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.

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