Clássicos • 03 Abr 2023

Hoje em dia, os SUV são os automóveis “da moda”, tendo levado vários fabricantes a produzirem, pela primeira vez veículos que se inserem nesse segmento, como é o caso da Bentley, Rolls-Royce, entre outras. Inclusivamente, fala-se na hipótese da própria Ferrari lançar um automóvel desse género, para o segmento dos SUV, ou melhor FUV, como a marca italiana lhe chama. Mas, durante vários anos, as berlinas de quatro portas tinham uma importante cota de mercado, lavando várias marcas a lançar modelos nessas carroçarias e outras estudaram a hipótese.
É nesse contexto, que nasce o Ferrari Pinin, uma berlina de quatro portas a primeira com um emblema do cavalino rampante, construída pela Pininfarina, como o nome indica, de forma a produzir algo único para celebrar os 50 anos da carrozzeria, fundada em 1930 por Battista “Pinin” Farina.
O projecto foi liderado pelo filho do fundador, Sergio Pininfarina, que sonhava em construir uma berlina para competir com o Jaguar XJ, Maserati Quattroporte e do Mercedes-Benz 450SEL 6.9, em memória ao seu pai, inclusivamente no nome dado ao automóvel, e tendo mesmo a aprovação do próprio Enzo Ferrari. Tudo porque, segundo consta, quando a Ferrari foi adquirida pela Fiat, Enzo teria de ser transportado num Fiat 131 e ele não achava o automóvel adequado e daí também surgir na sua ideia a criação de uma berlina de luxo.
O design estava a cargo de Leonardo Fioravanti, que foi o responsável pela grande maioria dos desenhados dos Ferrari na Pininfarina desde dos anos 60, com a ajuda de Diego Ottina. Fioravanti criou um desenho desportivo, onde incorporou uns faróis únicos da Lucas Industries, conseguindo assim uma frente baixa. Os farolins traseiros também são únicos da Carello, sendo pintados na cor da carroçaria, com uma leve risca vermelha ao centro. O tejadilho era semiflutuante, pois os pilares A e B estão escondidos com um vidro fumado, criando a ilusão de ser um coupé. O interior foi produzido com pele da Connolly Leather Limited na cor tabaco, com um painel de instrumentos desenhado por Borletti, com mostradores da Veglia, só visíveis quando a ignição estava ligada. Os passageiros atrás tinham um painel de controlo para o sistema de som e janelas.
O protótipo foi construído com base num Ferrari 400GT, mas com uma distância entre eixos maior em 50 mm, com um motor de doze cilindros planos e uma caixa de cinco velocidades manual. O motor que estava instalado no automóvel, não era funcional, sendo somente uma maqueta, mas tornou-se no primeiro automóvel com um motor V12 de 180 graus montado na frente. A caixa de velocidades era só a carcaça, sem nada dentro. Foi apresentado pelo próprio Sergio Pininfarina no Salão de Turim de 1980 e percorreu vários outros salões e exposições. Apesar de o entusiasmo inicial de Enzo Ferrari, este acabou por não aprovar o avanço para a produção, pois segundo consta, não teve o apoio necessário da Fiat e de que a própria Ferrari poderia não ser capaz de construir uma berlina de luxo, pois falhas são aceitáveis em desportivos, mas não num automóvel que pretendia rivalizar com os Rolls-Royce, por exemplo.
Em meados dos anos 80, o protótipo acabou por ser vendido ao piloto e coleccionador belga Jacques Swaters, proprietário da Ecurie Francorchamps e dono do concessionário da marca, a Garage Francorchamps, chegando a ter o Pinin muitos anos em exposição.
Em 2008 volta a ser vendido e o novo dono leva-o à Oral Engineering, da propriedade do antigo engenheiro chefe da Ferrari, Mauro Forghieri, de modo a tornar o Pinin num automóvel funcional. Algumas alterações foram feitas, instalando o motor Tipo F102B extraído de um Ferrari BB 512, de 4.9 litros de cilindrada, dupla árvore de cames em cada cabeça e 48 válvulas, desenvolvendo 360 cv às 6.800 rpm e 450 Nm de binário às 4.300 rpm. O chassis teve de ser submetido a pequenas alterações e foi reforçado, devido ao peso maior do motor e foi instalada uma caixa de velocidades de um Ferrari 400GT, na traseira, numa configuração transaxle. A suspensão de triângulos sobrepostos original nos dois eixos foi mantida, mas foram instaladas molas novas. Esta transformação demorou cerca de um ano e meio.
Em 2012 esteve em exposição no Museo Ferrari, aquando da exposição dos grandes designs da Pininfarina. Actualmente, está na posse de um coleccionador Ferrari na Califórnia, na colecção de Anthony Nobles. Consta que chegou a ser produzida uma segunda unidade, mas parece que foi desmantelada.
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