Um desabafo sobre clássicos e o COVID-19

LifeStyle 28 Abr 2020

Um desabafo sobre clássicos e o COVID-19

Por Pedro Cegonho

O ano de 2019, no que diz respeito ao tema dos clássicos, foi replecto de eventos memoráveis que demonstram que a paixão pelas máquinas de outros tempos está mais viva do que nunca. O mercado, esse, reflectia a tendência dos últimos anos, o desejado equilíbrio após os tempos de subida em flecha nas cotações. Compradores mais informados e cautelosos permitiram a estabilização dos valores, enquanto os verdadeiros “Blue Chip Collector Cars” continuaram a ser transaccionados por valores consistentes. Mesmo as próprias marcas, instigadas pela procura crescente de restauros certificados e séries de continuação por parte dos clientes, viram neste nicho de mercado uma forma de lucrar e ao mesmo tempo consolidar a imagem de marca, com ênfase nas suas raízes. Na mesma linha, empresas independentes dedicadas ao restauro de clássicos, o muito em voga “restomod” e a conversão de clássicos com motor de combustão para motores elétricos, encontravam-se em franca expansão, tanto em quantidade como em qualidade.



Quando os “ajuntamentos” ainda eram possíveis…

Depois chegou 2020, mais um ano promissor nesta área, até que… COVID-19. O mundo travou a fundo, tudo o que parecia garantido até então deixou de o ser, os mercados estão em plena guerra e só quando se limparem as armas é que se terá real noção da gravidade da situação. A população mundial foi obrigada a pôr todos os seus sonhos em lista de espera, à espera de melhores dias, num mundo onde pouco mais se transacciona que bens de primeira necessidade.


Vai demorar até voltarmos a ver imagens semelhantes

Em contrapartida, quem agradece esta nova realidade é o meio ambiente, que se renova a cada dia que passa e que apresenta melhorias notáveis desde o início da pandemia. Tudo isto nos deixa com absoluta certeza de que o mundo pós-COVID não vai voltar a ser o que era em muitas áreas, enquanto noutras vai demorar tempo (quanto, não sabemos) a voltar à normalidade.

Tudo e todos sem excepção foram afectados, e quando pensamos no tema dos automóveis clássicos em particular, também irão inevitavelmente ocorrer mudanças, mais ou menos significativas.


Saudades de viajar sem destino…

No presente, a grande maioria dos automóveis clássicos são reféns da sua própria garagem, sem ordem de saída para esticar as pernas e lubrificar as suas veias. Com os seus proprietários sujeitos a ordens de confinamento e com todos os eventos habituais adiados ou até mesmo cancelados, a homens e máquinas só lhes resta aguardar por dias melhores. Depois, há aquela velha máxima de que os automóveis se estragam mais parados do que a circular regularmente, o que em alguns casos pode ser verdade e trazer alguns dissabores aos proprietários quando puderem tirar novamente o seu clássico da garagem. Mas nem tudo são más notícias! Muitos entusiastas estão a aproveitar a quarentena para continuar ou finalizar aquele projecto esquecido ao fundo da garagem. A disponibilidade que agora existe para dedicar tempo a estes projectos pendentes, vem de alguma forma puxar pela motivação perdida algures na rotina do dia-a-dia.


A oportunidade para pôr mãos à obra

Devido à pandemia, também o mercado de clássicos apresentou algum abrandamento, embora o confinamento obrigatório tenha levado a um aumento de pesquisas por automóveis clássicos à venda através dos canais digitais. Este tempo disponível para estudar melhor o mercado contribui para um maior conhecimento acerca do mesmo, o que acaba por acrescentar mais racionalidade a uma compra quase sempre emocional.

Quanto ao futuro, e não querendo entrar em exercícios de futurologia, certas realidades serão inevitáveis. A curto prazo, os eventos dedicados aos clássicos vão sofrer alterações substanciais, à semelhança de qualquer evento em geral, principalmente devido à aglomeração de pessoas e consequente perigo de contágio. Quanto ao mercado é uma incógnita, mas é provável que os clássicos sem proveniência relevante, em estado não original ou com restauros duvidosos vejam os seus valores estagnar ou cair ligeiramente. Existirá sempre mercado para um bom clássico, mas a quebra que se prevê no poder de compra poderá ditar a diminuição na procura por automóveis clássicos que, para além do valor de aquisição, ainda necessitem de muito investimento na sua recuperação.

Outra incerteza que já existia, mas que pode assumir mais importância após este período, é a estratégia que os governos irão seguir em matéria de ambiente, a qual esperamos não prejudique demasiado os clássicos ou que, pelo menos, se crie legislação específica para salvaguardar os mesmos.

Resumindo e concluindo, desejamos que todas estas contingências passem rápido, que tudo volte ao normal e que em breve possamos tirar os clássicos da garagem. E lançamos o desafio a todos os leitores e entusiastas: quando tudo isto passar, nada melhor que planear uma viagem pelo nosso maravilhoso Portugal ao volante do seu clássico favorito. Além de poder aproveitar a descida do preço dos combustíveis para traduzir mais litros em quilómetros, poderá utilizar o automóvel clássico como meio de ajuda à recuperação da economia e turismo do país!


Estrada Nacional 2, perfeita para o cenário pós-COVID
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