Modernos • 02 Out 2022
A Itália foi o país onde existiram mais carrozzerias, empresas independentes, que se encarregavam do desenho, desenvolvimento e produção de automóveis, maioritariamente protótipos e de pequena produção. Os grandes nomes deste nicho eram a Pininfarina, a Bertone ou a Zagato, só para enumerar algumas, mas existiam bem mais do que essas, mais pequenas e, por isso, com menor reconhecimento.
Uma dessas casas mais pequenas era a Carrozzeria Fissore, localizada em Savigliano, perto de Turim, fundada entre 1919 e 1920, pelos irmãos Antonio, Bernardo, Giovanni e Costanzo Fissore. Inicialmente o seu foco era a produção de carroças, passando, posteriormente para a reparação de automóveis e camiões. Em 1936, Bernardo começou a construir carroçarias especiais para automóveis, veículos funerários e de correios, além de pequenos autocarros. Obviamente que durante a Segunda Guerra Mundial toda a sua pequena produção foi concentrada no fabrico de veículos militares.
Após a Guerra, as carroçarias especiais para automóveis voltaram a ser o seu foco. Em 1947 apareceu a carrinha derivada do Fiat 1100, denominada Giardinetta e, posteriormente, a Roberta. Em 1953, foi apresentado o coupé Fiat 1100TV, desenhado por Mario Revelli. Durante os anos 60, vários foram os automóveis produzidos por Fissore, com base em chassis e mecânicas Fiat, empregando cerca de 200 pessoas.
A Fissore começou a alargar os seus horizontes, desenhando carroçarias para outras marcas, com os seus primeiros clientes a ser a DKW, a TVR e a De Tomaso. Em 1969, a Fissore foi contratada pela Monteverdi, para a produção dos automóveis High Speed, mas as encomendas de 100 automóveis por ano, nunca se materializaram, até ao aparecimento dos todo-o-terreno Monteverdi Safari e Sahara, nos quais a produção aumentou e a Fissore abandonou os seus métodos artesanais, em favor de algo mais industrial. A Monteverdi ajudou financeiramente a Fissore, ficando com participações na empresa, até que a adquiriu na totalidade, no final dos anos 70. Quando a Monteverdi fechou as portas, em 1984, a Carrozzeria Fissore teve o mesmo desfecho, pouco tempo depois.
Em 1976, a Rayton Fissore tinha sido fundada pela filha de Bernardo Fissore, Fernanda, e o seu marido, Giulio Malvino. Eles escolheram fundar a sua própria empresa, ao invés de continuar a empresa do pai de Fernanda. Desta empresa resultou o todo-o-terreno Magnum, apresentado em 1985, vendido nos EUA com o nome Laforza. Apesar de produzido até 2003, nos EUA, estes automóveis são bastante raros de ver hoje em dia. Além destes trabalhos, em 1986 e 1987 foram apresentadas duas carrinhas com base no Alfa Romeo 75, desenvolvidas pela Rayton Fissore, a Alfa Romeo 75 Turbo Wagon e a 2.0 Sportwagon, no total, sete ou oito foram produzidas para a Alfa Romeo, mas a produção não avançou.
Voltando à Carrozzeria Fissore, como já foi dito, esta produziu vários automóveis com base em modelos Fiat. Em 1953 iniciou a pequena produção do Fiat 1100 TV Fissore Coupé. Produziu uma versão especial com base no Fiat 600 Multipla, a Sabrina e uma versão desta para uso nas zonas de praia, a Marinella. Com base no Fiat Nuova 500, a Fissore produziu o Mongho 650, um coupé desenhado por Alessandro Sessano e com motor preparado pela Giannini. Para rivalizar com os automóveis, como o Citroën Mehari ou o Renault Rodeo, a Fissore produziu o 127 Scout, com base no Fiat 127. Produziu ainda outro veículo nos mesmos moldes, o Poker, com base no mais pequeno Fiat 126. Nos últimos anos como Carrozzeria independente, a Fissore competiu na corrida pela produção do Fiat Ritmo descapotável, mas o projecto acabou por ser dado à Bertone.
Mas não só de modelos Fiat vive a história da Fissore. Após perderem a gestão da marca Maserati, os irmãos fundaram a O.S.C.A. e, em 1962, a Fissore produziu em pequenos números o OSCA 1600 GT, fabricando 22 coupés e dois descapotáveis. Além deste modelo, também foi produzido o OSCA 1500 Coupe, com base num Fiat 1500.
No início dos anos 60, a Fissore teve uma cooperação com a DKW e Auto Union, resultando em três modelos da autoria da Fissore, produzidos no Brasil pela VEMAG. Produzido de 1958 a 1967 o DKW-VEMAG Belcar tinha por base o DKW 3=6, com a verão carrinha denominada Vemaguet. Entre 1964 e 1967 foi produzido o VEMAG Fissore. Além destes foram produzidos alguns coupés e descapotáveis com base no Auto Union 1000 SP, como o Auto Union 1000 SE Coupé.
Em 1964, a Fissore ficou encarregue do desenho do De Tomaso Vallelunga, mas a sua produção foi entregue à Ghia, pois esta era da propriedade de Alejandro de Tomaso.
Mas, sem dúvida, uma das parcerias mais importantes para a Carrozzeria Fissore, foi com a Monteverdi, que salvou a empresa nos anos 70. Inicialmente, Peter Monteverdi pediu à Frua a construção dos seus automóveis High Speed, mas esta limitou a capacidade e assim Peter encarregou a Fissore dessa actividade. Os chassis eram produzidos em Basel, na Suíça, e enviados para Itália, onde eram montadas as carroçarias. Depois eram reenviadas para a Suíça, onde eram montadas as mecânicas. Após este, a Fissore ficou encarregue da produção das carroçarias do Monteverdi Safari e Sahara e produziu um protótipo o Monteverdi 2.8 Turbo. Além destes modelos civis, a Fissore também produziu alguns protótipos de veículos militares para a Monteverdi, em 1979, mas nunca passaram para a produção.
Outros pequenos trabalhos incluem a produção do primeiro TVR Trident, posteriormente, o projecto do Trident foi vendido a um funcionário da TVR e nasceu o Trident Clipper. Para a Fissore, Trevor Fiore desenhou uma proposta para o substituto do Alpine A110 e que evoluiu para o Alpine A310. Foi a Fissore a primeira empresa a produzir o Range Rover com cinco portas e vendidos, sob encomenda, na rede oficial da marca britânica, a partir de 1980. A Fissore produziu um protótipo de quatro portas descapotável com base no Opel Diplomat B. Um coupé desportivo com base no Autobianchi A112, designado por Otas, também foi desenhado pela Fissore. Em 1961 foi produzido um coupé para a Cisitalia, o DF85. Em 1963 enviou para a Volvo a sua proposta de produção do 1800 GT, mas a mesma não foi aceite. Em 1964 produziu três exemplares do Elva GT160. Em 1982, com base num Saab 900 Turbo, a Fissore produz um protótipo coupé, o Saab Viking, mas este não passou para a produção.
Esta é a história resumida da Carrozzeria Fissore, uma empresa que comemora agora o seu centenário. Veja na galeria abaixo com imagens de grande parte dos automóveis a cargo da Fissore.