Eventos • 02 Jan 2017
Todos os anos a fauna dos amantes de veículos com interesse histórico desloca-se a Paris para mais uma edição da Rétromobile.
Este ano não foi excepção, e às 10 da manhã em ponto do dia 5 de Fevereiro, os portões da Paris Expo Porte de Versailles abriram ao público, escoando em poucos minutos a serpente de visitantes que se acumulava com pontualidade britânica – os franceses que me desculpem – em frente às suas bilheteiras.
Com o bilhete diário a €23,00 por pessoa, crianças até aos 12 não pagam, rápido se percebe a importância deste salão para a indústria automóvel.
A qualidade dos stands, a atenção ao detalhe na organização, e a presença dos principais protagonistas da indústria justificam o preço, até porque rapidamente, e assim que franqueados os portões, nos vemos rodeados dos mais belos, raros e exclusivos exemplares do ultimo século de produção automóvel.
A exposição decorre ao longo de três pavilhões, estando concentrados no primeiro pavilhão os tubarões da indústria; impressionante a qualidade, bom gosto e dimensão dos stands da Fiskens, Kidston SA, Girardo & Co & Axel Schuette que, concentrados no mesmo quarteirão se digladiam pelo protagonismo e qualidade dos exemplares presentes.
Vou poupar os detalhes, já que as fotos ilustram bem a “artilharia pesada” que cada um, dentro da sua especialidade, trouxe ao evento.
Gostaria sim, de focar-me no lado mais conceptual do certame, o lado menos financeiro e talvez mais romântico, para quem como eu, vive e respira automóveis antigos, e que, estou em crer, acaba por ser o lado que traz os muitos milhares de visitantes todos os anos.
Assim sendo, tenho de dar os parabéns à Renault pelo stand que apresentou nesta Rétromobile, com modelos que ainda permitem fazer sonhar os comuns mortais, entre os quais destaco o Renault 17 TL em tons de azul petróleo, ou a Renault 12 convertida por Sinpar para tracção 4×4 e que participou no Rally Abijan-Nice da década de 70. Com uma simplicidade impar, evocando modelos que construíram a sua história, e que para o coleccionador comum ainda são alcançáveis do ponto de vista financeiro, a marca deu uma lição de história e de marketing pela forma como se posicionou neste salão.
Mas a Retrómobile não se faz apenas de veículos, faz-se também de arte, e vários foram os artistas presentes com as suas aguarelas dedicadas à temática, os escultores com obras de arte, os vendedores de automobilia e a miríade de stands com memorabilia e livros da especialidade. O próprio stand do Polo Storico da Lamborghini trouxe uma escultura de um Miura que chamou a atenção de todos os visitantes.
Os valores praticados pelos comerciantes presentes estão claramente inflacionados pelo estímulo visual que esta exposição suscita, e pela sua importância no panorama anual de eventos similares. Não obstante, havia objectos para todo o gosto e para todas as carteiras.
Vale a pena a visita pela abrangência, quantidade e qualidade expositiva, e saímos com vontade de regressar a cada edição anual. Raras são as vezes em que podemos estar frente a frente com um dos três Ferrari P3 construídos ou um elenco considerável de McLaren F1, seja na versão road legal ou na mais apimentada versão LM.
Os clubes também fazem parte do folclore da exposição, com predominância dos clubes direccionados ao público e marcas francesas, e onde vários entusiastas e proprietários de Bugatti, Facel Vega, ou até o mais comum, mas não menos especial Citröen SM, fazem o seu convívio anual à volta dos melhores queijos, das melhores terrine de canard, bem regados com vinhos de Bordéus.
Este é um evento para todos, onde a paixão pelo automóvel, pela arte, pela estética se misturam com o moderno, e onde, como em lugar nenhum, se faz a transição da tradição e história de cada marca, para o presente e para o futuro. Exemplo disso é a evolução das marcas rumo ao inegável futuro do eléctrico, e da condução autónoma, onde num mesmo palco se expõe um veículo da década de 60 lado a lado com as novas propostas para os millennials – a DS e a Peugeot foram algumas das marcas presentes que aproveitaram esta Rétromobile de 2020 para, com um olhar sobre o passado darem já o pontapé de partida para o futuro.
Por último, não poderia deixar de salientar duas exposições que me encantaram, a exposição retrospectiva da casa de design italiana Bertone, com modelos tão exóticos quanto o Citröen Camargue de 1972 ou o Volvo Tundra, e a exposição de veículos agrícolas com modelos de tractores, tão exóticos quanto um superdesportivo actual, exemplo disso, o extraordinário Porsche Allgaier dos anos 50, muito popular nas plantações de café da época.
Todas estas são razões mais que óbvias para tornar este salão de visita obrigatória para os amantes do automóvel, pois aqui certamente encontrarão ao vivo e a cores grande parte dos modelos que figuraram nas paredes dos nossos quartos enquanto adolescentes. Para os menos aficionados, há o charme parisiense e a boa gastronomia em ambiente de alta octanagem e glamour, e essas, serão sempre boas razões para uma visita.
À bientôt Paris, até para o ano!