Clássicos • 21 Set 2015
Clássicos • 13 Nov 2019
O reencontro com o Volkswagen Käfer 1200
Após lançar o desafio, o Jornal dos Clássicos partilha agora primeira história enviada pelos seus leitores. Falamos de um reencontro ao final de quase duas décadas de incessante procura, partilhada por António Araújo, e que transcrevemos em baixo.
Estamos em 1972, na zona oriental da cidade do Porto. O meu pai – só ele tinha licença de condução – tem 37 anos, a minha mãe 34, a minha irmã quase dez e eu apenas três.
Já grande parte da vizinhança tinha automóvel, e aproximando-se a comunhão solene da minha irmã, o meu pai lá se decidiu. Um Volkswagen Käfer 1200 usado, com sete anos, de 1965. Uma máquina. Não tinha a velocidade de um Toyota Corolla ou um Ford Escort, mas tinha uma carroçaria bem mais resistente. Não era o “pápa-léguas” como o eram o Ford Capri ou o BMW 1602, mas era o “coyote” que por eles passava quando paravam na berma a expelir vapor do radiador.
Eu cresci, casei, e o meu pai manteve sempre o mesmo automóvel durante quase três décadas completas.
Saltamos agora para o ano de 1999. Num fim-de-semana em que os visitei, não estava à porta o Carocha mas sim um horrível Ford Fiesta 1100 de 1993. Falei com o meu pai e ele disse-me que teve quem lhe oferecesse 150 contos pelo Volkswagen e assim comprou o Ford. Fiquei muito aborrecido, sentia que aquele automóvel fazia parte de mim, afinal foi o automóvel da minha infância! Alguns dos meus primos, aquando da sua primeira vez a andar de automóvel, que se lembrem, tinha sido nele!
Fui tentando todos estes anos pesquisar e encontrá-lo na compra e venda na Internet, em sites dedicados aos clássicos em geral e aos refrigerados a ar em particular e nada!
Mais uma viagem no tempo e vamos localizar-nos agora no ano passado, em 2018. Eu já tinha perdido a esperança, quando quase sem querer, entro no fórum dos “Amigos dos Carochas de Cascais”. Vou vendo fotografias e de repente vejo uma matrícula que quase me fez saltar os olhos das órbitas: FE-44-54! O Carocha ainda era “vivo”!
Sem demora contactei o administrador do fórum, contando todo este passado com o automóvel, para ver se, compadecido com o facto de andar à procura do automóvel há quase duas décadas, me facultava mais alguma informação sobre o actual proprietário do mesmo. Um senhor muito simpático e muito prestável para os meus intentos. Facultou-me o nome e a morada (Perosinho, Vila Nova de Gaia) do dono.
Achei extraordinário uma pessoa da zona de Lisboa informar-me que o automóvel estava aqui bem perto de mim. Decidi, assim, começar a rondar aquela morada, e arranjar maneira de meter conversa com o dono e chegar ao ponto de lhe fazer uma oferta. Mas passada uma semana ainda não tinha começado a fazê-lo, o administrador do fórum dos “Amigos dos Carochas de Cascais” envia-me um outro e-mail dizendo: “Já viu isto? (e um link para aceder)”. Cliquei no link e este direccionou-me para o OLX, o dono estava a vendê-lo!
Tal como Marlon Brando, nasci num dia 3 de Abril, portanto o resto da história é fácil de adivinhar e resume-se a uma famosa frase deste actor: “Fiz-lhe uma oferta que ele não pôde recusar”.
As fotografias datam de 1973 e 2019, a minha irmã fora do automóvel, a minha mãe no lugar do condutor e eu visível pela janela traseira lateral. A foto de 2019 foi a tentativa de recriar a outra, tirada 46 anos antes.
Se tem uma história com um automóvel que teve, no qual viveu uma aventura, que restaurou ou com o qual simplesmente criou uma relação, ainda que à distância, queremos conhecê-la e partilhá-la com todos os leitores do Jornal dos Clássicos. Saiba como fazê-lo aqui.
Obrigado por partilharem a minha história.
À custa deste feliz reencontro tive até que alugar uma garagem para ele pois tenho também um outro clássico (ainda mais antigo, 1947!) que tenciono vender para me dedicar por inteiro ao Volkswagen.
Cumprimentos a todos.