Mercado • 23 Set 2014
Mercado • 06 Ago 2019
O inovador Aerodynamic da H.R.G.
A H.R.G. surgiu do desejo comum de três engenheiros para produzir um automóvel que pudesse ser utilizado em provas internacionais de circuito, rali ou trials. E, ao mesmo tempo, contrariasse a tendência, no período antes da II Guerra Mundial, de que os desportivos deveriam ser cada vez mais pesados e potentes. A principal figura, em termos técnicos, na H.R.G. era Ron Godfrey, sócio de Archie Frazer-Nash na GN, onde já era seguida esta filosofia. O H.R.G. utilizava um chassis rebaixado, cuja estrutura ficava abaixo do eixo das rodas traseiras, várias peças em alumínio, para manter baixo o peso e um motor Meadows de 1,5 litros (mais tarde substituído por um motor Singer). Ao contrário dos Frazer-Nash, o H.R.G. utilizava uma caixa de velocidades e um diferencial convencionais, com vantagens nas provas mais exigentes, como Brooklands ou Le Mans, onde alcançaria vitórias na sua classe.
O protótipo Aerodynamic recebeu uma carroçaria feita pelo respeitado especialista Fox & Nicholl, com vasta experiência em esculpir carros de corrida. O desenvolvimento do modelo foi interrompido pela II Guerra, pelo que a produção começou apenas em 1946, com a H.R.G. a produzir 45 unidades. Estava destinado a gentlemen drivers, sobretudo entusiastas amadores, que almejavam competir em algumas das provas mais importantes, sem abdicar de uma utilização ocasional menos exigente.
Um destes cavalheiros era Simon Knudsen Hansen — comerciante dedicado ao fornecimento de equipamento para navios, de origem norueguesa e com 27 anos — que importou o H.R.G. L/W98 para Lisboa. Hansen competiu em diversas provas portuguesas, incluindo três edições do Rali Internacional a Lisboa, entre 1948 e 1950, sendo que o seu melhor resultado foi um 5º lugar à geral e a vitória na classe, em 1949. Outros triunfos à classe foram alcançados nesse ano, no Rali Nacional de Miramar, no Rali de Viseu e no Quilómetro de Arranque de Esposende. Continuando a competir em 1951, Knudsen substituiu o motor original de 1,5 litros por outro da Lea-Francis, com 2,5 litros. O motor mais potente ajudou o H.R.G. a obter mais uma vitória à classe (e o 8º lugar à geral) na Rampa Internacional da Falperra, perto de Braga. O seu último evento foi a Rampa do Gradil de 1951, onde terminou em 5º lugar da classe.
Em 1989, o H.R.G. foi descoberto por João Mendes de Almeida, que iniciou um restauro total, incluindo encontrar um motor correto de 1,5 litros. A qualidade deste trabalho de recuperação foi tal que, 30 anos depois, este H.R.G. ainda se apresenta em esplêndida forma, exigindo apenas ao seu próximo guardião que o conduza numa boa estrada. Altamente qualificado para participar nos melhores eventos e sendo um importante artefacto da história do automobilismo português, desconhece-se se este raro H.R.G. saiu de Portugal desde 1947. Constitui uma excelente oportunidade para entusiastas portugueses e coleccionadores de todo o mundo.
Este automóvel faz parte da Colecção Sáragga que irá ser leiloada pela RM Sotheby’s na Comporta no próximo dia 21 de Setembro.
Imagens: Cortesia RM Sotheby’s e Adelino Dinis
Deixe um comentário