Cenas do fim da vida de um automóvel

LifeStyle 25 Mai 2019

Cenas do fim da vida de um automóvel

Por Irineu Guarnier

Arquiteto por formação, fotógrafo, publicitário, jornalista e, desde meados da década de 1970, um dos proprietários da editora L&PM, uma das mais prestigiadas do Brasil, Ivan Pinheiro Machado também construiu nos últimos 40 anos uma sólida carreira de pintor.

 

Classificado por parte da crítica brasileira como um artista hiper-realista – embora ele rejeite esse rótulo -, suas pinturas de Nova York ou Paris são elaboradas com impressionante fidelidade aos objetos e personagens retratados. Mas vão muito além da simples reprodução fotográfica de avenidas movimentadas ou de cafés e vitrines. Na linha do pintor norte-americano Edward Hopper, a obra de Pinheiro Machado é uma reflexão poética e filosófica sobre a solidão e o vazio existencial de nossos dias.

 

Para quem gosta de automóveis antigos e costuma “garimpar” peças raras em ferros-velhos, chama a atenção o interesse do artista por esses amontoados caóticos de veículos em decomposição. Numa série de quadros de grande foça dramática, Pinheiro Machado fixou seu olhar acurado em carcaças amassadas de veículos acidentados, peças retorcidas, vidros quebrados e motores enferrujados que, em alguns momentos, sugerem composições abstratas. Impossível ficar indiferente à beleza que o pintor extrai de objetos e lugares tão desoladores.

 

Um cemitério de automóveis no meio do campo, à margem de uma rodovia, no Uruguai, chamou a atenção do artista para o tema. Pinheiro Machado se encantou pela cena das carcaças metálicas que apodreciam ao relento e não parou mais de fotografar desmanches de veículos. Calcula que fez mais de mil fotos sobre o assunto – material que serviu de base para a série de quadros iniciada em 2000.

 

2 carro com flore bxs
7 sucata VII cópia baixa
austin em maldonado1 cópiabaixa
brasilia branca1 cópia baixa
brasilia e fusca copia baixa
carros 7quadro grande 1 cópia
carros o grande cópia baixa
molas 2002 baixa
pilha de carros incendiados cópia baixa
pinturas e niver antonio 735
previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow
2 carro com flore bxs
7 sucata VII cópia baixa
austin em maldonado1 cópiabaixa
brasilia branca1 cópia baixa
brasilia e fusca copia baixa
carros 7quadro grande 1 cópia
carros o grande cópia baixa
molas 2002 baixa
pilha de carros incendiados cópia baixa
pinturas e niver antonio 735
previous arrow
next arrow

 

Quatro anos mais tarde, expôs pela primeira vez o trabalho na Galeria Debret, em Paris (os quadros foram levados à Europa pela TAP, patrocinadora da mostra). A boa recepção no Le Monde, Pariscope e em outros veículos da imprensa francesa garantiu a comercialização de mais da metade das 24 telas expostas. “Considero meu melhor trabalho como pintor, pela elevado grau de dificuldade técnica”, diz o artista, que precisou pesquisar a fundo para reproduzir as cores e texturas do aço calcinado ou oxidado. Mas valeu a pena: “Consegui dar uma sobrevida ao fim do fim, que é a sucata”.

 

Os quadros remanescentes da mostra parisiense foram exibidos, em 2016, numa grande retrospectiva de sua obra, organizada pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). Colecionadores e apaixonados por antigomobilismo fizeram ofertas tentadoras pelas obras, mas Pinheiro Machado recusou todas. “Esses ficarão para a viúva”, brinca.


Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.

Classificados

Siga-nos nas Redes Sociais

FacebookInstagramYoutube